09 dezembro 2004

exercício

deslizar a palma das mãos
pelo dorso frio da parede,
pela sua geometria,
como se fosse um balé,
o corpo alongado no esforço,
lentamente tatear a superfície plana,
sem percalços,
do ponto possível, mais alto,
àquele que encontra o chão.

deslizar o corpo
pela parede branca,
escorrendo as costas
pela sua geometria;
na ausência de obstáculos
os olhos fixos num ponto infinito,
como se fosse ritual.

tudo é imóvel em torno,
não há palavras,
só esta peregrinação nua.
ser uma chama
nos percursos simbólicos
da parede sem arestas.

sou um exercício.


silvia chueire

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

O poema (na interpretação que lhe dou) representa a melancolia do desenho no mármore. O frio do mármore (parede) é desconfortante para o corpo e triste para a alma. Desenhar (pelo movimento) é uma arte de chamar pela presença de... E se isso acontece com ritual melancólico (tatear sem percalços - pelo lado do corpo)é quase invocar (pelo lado do espírito) a presença do que nos faz falta ( e não se sabe bem o que é). Sinto, assim, o poema. Talvez, por isso, me provoque alguma nostalgia, sem saber de quê!

Silvia Chueire disse...

Compadre,
A idéia de escrever algo e saber que por um instante as palavras, seja qual for o rumo que tenham tomado depois que me escapam, tocaram a quem lê, me faz feliz. Obrigada por me proporcionar essa dose de felicidade ao dizer o que disse.

LC,
Ainda que ninguém pinte este quadro anotei aqui o seu desejo de transformar as palavras em imagem. É sempre o registro do toque. Sorrio . Obrigada.
Um abraço,

Silvia Chueire