20 dezembro 2004

Procura

Como é quando escrevemos assim,
ao léu?
As palavras descosidas,
nenhum mote, nenhum motivo.
Dedos dedilhando as cordas
mais fundas do pensamento,
à procura.
Daquilo que temos a dizer.

A casa adormecida
sempre atraiu idéias.
Ou idéias sobre idéias.
Há um vago ruído de respirar
que paira na noite.
Música por tocar.

Ou o ruído quase ensandecido
dos copos e vozes alteradas,
risos desproporcionais,
gestos largos de vinho ,
dos bares.

Você se esconde num canto,
empunha a caneta,
e se arremessa ao guardanapo de papel,
tábua de salvação.

Pudesse o meu peito descansar dessa angústia.
Pudesse o meu corpo ser calado,
o silêncio da calma.
E a minha circunstância descansar
na alma do poema
- quando o digo -
voz e não-voz minhas.

Pudessem todas as palavras ser ditas
no intervalo entre o grito e a gargalhada.

Silvia Chueire

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

Gostava de fazer um poema para si que falasse do Natal. Já tentei mas não consegui.
Saiu tudo muito piroso...
Fica a boa-vontade.
Desejo-lhe um BOM Natal e um Ano Novo com a felicidade em poema.

Silvia Chueire disse...

Compadre Esteves,
Agradeço-lhe a intenção e a delicadeza.Ainda hei de escrever um poema de Natal.Que para mim são quase impossíveis de escrever. Mas talvez um pequeno texto sem compromisso. ando pensando nisto.
Tenham um Natal bom, vc e sua família.

LC,
As palavras são tantas vezes difíceis...
Que o Natal corra bem para você e sua família.

Um grande abraço a ambos.

Silvia