07 janeiro 2005

meu navio

leva o meu navio,
tempo.
descolada de ti
imagino as paisagens
que verei no percurso,
como se fosse para sempre.

em cada porto apenas
a estadia breve.
porque o que quero é maior,
não cabe nos poemas.

leva o meu navio ,
enquanto as palavras vão se gravando
nas horas que passam
e as reconstruo pacientemente.

tempo,
leva o meu navio.
porque é abandonada a âncora
que cresce a minha alma.


silvia chueire

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

Lindo poema. O tempo foi sempre, como diria Marguerite Yourcenar, o grande escultor das almas (poéticas). Faz-nos sonhar, transformando os sentimentos em signos de vida. Vou continuar a provocá-la.(No bom sentido, claro.)

Silvia Chueire disse...

O tempo é uma invenção do homem e uma espécie de realidade. Mede-se pelo que conometramos, nota-se pela deterioração dos nossos corpos, e de outros seres.É um modo prosaico de o colocar? sim, é.
O tempo sempre foi uma das nossas questões essenciais, porque somos efémeros, porque nossos atos, nossas ações não as podemos resgatar depois que se passaram, a não ser à memória. Porque o nosso tempo pessoal está sempre confrontado com isso: com a inevitabilidade dele.
Suponho que se aprendermos s lidar com isso, a entender que não podemos manipulá-lo, talvez possamos fazer do tempo nosso aliado. Talvez possamos viver de um modo mais apaziguado, mais inteiro. Mais feliz.
Porque o tempo é curto e urge viver nossas vidas, fazer felizes os que amamos e a nós mesmos. Pobre daqueles que se esquecem disto, penso eu.
Além de tudo, como todas as questões fundamentais, o tempo é um excelente mote.
Obrigada, compadre, pela provocação.
Um abraço,

Silvia Chueire