19 janeiro 2005

Máquina de sono

Detesto ir ao médico. Ir ao médico, para mim, é uma epopeia. Hoje fui. Ansioso. Preocupado. Tenho razões para isso: durmo mal há anos, sofro com isso, lamento os momentos em que estou acordado a olhar o tecto e sobretudo os momentos em que estou a dormir enquanto a vida segue. Estou farto de ler acórdãos pela calada da noite, farto de escrever articulados no limite, articulados pensados durante a noite e que, quando acordo, jorram... Com o desgaste que se supõe nas descargas de adrenalina que tudo isto acarreta.
Vou ligar-me, um destes dias, a uma máquina do sono. Uma máquina que vai dizer como (não)durmo. Ficção científica? Sei lá! Mas vou fazer isso. Vou mesmo. Já não me lembro do tempo em que dormia bem. Pago a factura dos tempos de Coimbra, das directas para estudar com comprimidos para não dormir, das directas sem comprimidos para voar. Pago a factura do tempo em que, nos jornais, gostava de ver nascer cada edição. E pago as facturas que não devia pagar... Outras conversas.
Vou ligar-me à máquina. Tenho esperança de que ainda vou a tempo de acordar de manhã bem disposto e com a convicção de que dormi. Dramático.
Enquanto isso, resta-me a consolação de conseguir estar desperto mesmo quando não durmo e a situação exige.

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