12 janeiro 2005

Olá, mãe; olá, filha

A minha mãe - Elisa - faz hoje anos. 70. Ao contrário do meu pai, mais velho um ano e a quem é já preciso explicar a mesma coisa duas vezes, a minha mãe continua de espírito acutilante. Percebe as coisas à primeira e, mais do que isso, percebe muitas coisas mesmo antes de lhe serem explicadas, como se as pressentisse, apesar de tantas vezes parecer distraída.
Doente do coração, resiste, resiste sempre, como se fosse uma guerrilheira que nunca cansa.
Não precisa de trabalhar, mas trabalha, trabalha sempre, como se fosse insubstituível.
Não sei a minha mãe vai morrer cedo ou tarde - quem me dera que não morresse. Mas há uma coisa que eu sei: cedo ou tarde, vai morrer a trabalhar, vai morrer em combate. E não precisava disso.
Olá, mãe. Um beijo. Outro beijo.

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A minha filha - Mariana - faz amanhã anos. 14. Nasceu, como eu, num Domingo. Nasceu no dia em que Mário Soares foi reeleito Presidente da República.
A Mariana cresceu depressa demais, a menina doce de há tão pouco, tornou-se rebelde. Uma rebeldia que não tem a ver com a que eu tive quando tinha a idade dela e punha a escola em polvorosa com os meus ataques de revolucionarismo primário, que levava os professores às cordas, mas que me toleravam e até gostavam de mim, vá-se lá saber porquê...
Também é verdade que a minha filha não tem de ser como eu era. O mais que posso fazer, é pedir-lhe que seja uma rebelde melhor do que eu fui. Pelo menos mais consequente. Mas acho que ela já não me ouve. O "ruído" em que mergulhou é mais forte do que tudo quanto possa dizer-lhe.
Mas talvez seja eu que estou enganado - o cota. Oxalá seja assim. Se não for e se ela um dia descobrir que afinal estava enganada, eu cá estarei para a ouvir. Nesse dia e sempre.
Olá, Mariana. Um beijo. Outro beijo.

5 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Um beijo para as duas, mãe e filha. Vou contactar a Mariana para lhe dar os parabéns em nome da minha prole.

Silvia Chueire disse...

Um dia atrasada para cumprimentá-lo e à sua mãe pelo aniversário dela, mas ainda em tempo para cumprimentá-lo e à sua filha agora pelo desta, mando um abraço.
Se eu pudesse dizer algo sobre adolescentes, diria : aproxime-se, como um igual ( quase), seja amigo dela, ofereça-lhe o ombro. Depois, mais tarde, fale em consequências. Adolescentes em geral não conhecem muito bem o significado desta palavra. Conhecerão um dia, assim como nós.

Silvia
PS: perdoe a intromissão.

Kamikaze (L.P.) disse...

Parabéns, amigo carteiro babado e preocupado. E votos de que possa ajudar a sua filhota a orientar a revolta - normal e saudável na adolescência, diz quem sabe - para o pensamento crítico e a acção consequnte...
Um abraço afectuoso da kamikaze.

estrelitas disse...

Ola carteiro...
É com muito gosto que aqui estou no seu blog...Cada rebelde é diferente e por isso mesmo é que sao rebeldes! Saudavel juventude que é rebelde. Queria a sua filha doce, terna mas sem vida???

Zu disse...

Apre, até que enfim consigo meter um comentário! Isto andava emperrado, vá-se saber porquê.
Parabéns (atrasados, mas não importa) para a tua mãe e, especialmente, para a Mariana (que provavelmente já não se lembra de mim, mas não faz mal, eu lembro-me da sua carinha bonita). E para ti um beijo. E outro beijo :)