Agustina Bessa-Luís, a extrordinária escritora de quem - reconheço - nunca consegui ler qualquer livro, deu uma longa entrevista a O Independente desta semana. Consegui ler. Diz a determinada altura o vulto que «só as mulheres é que deviam ter opinião num referendo sobre o aborto». Extraordinário! Como se a gravidez fosse uma coisa que só implica as mulheres. Como se ter ou não ter um filho seja uma coisa que só tem a ver com as mulheres... Eu já não percebo nada do mundo!
06 fevereiro 2005
Agustina e o aborto
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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2 comentários:
Do magnífico A Revolta das PalavrasO poleiro
Agustina Bessa-Luís, numa entrevista que hoje li no jornal «O Independente», que aliás lhe editou uma colectânea, perguntada porque razão o falecido actor Mário Viegas «embirrava» com ela, respondeu assim: «talvez por ser uma pessoa inteligente».
A resposta é, de facto, de uma pessoa inteligente: é que, quem ouve visto, fica sem saber se era o actor que, por ser inteligente, embirrava com ela, ou se era ela que, por ser inteligente, caía nas embirrações dele.
Enfim, como vêem, lá li a entrevista. E eu, que gosto da escritora, e lhe li alguns livros, mas que embirro com a entrevistada! Há em tudo o que dela diz um «eu» colossal que irrita. Mas hoje era sexta-feira e eu li. Ainda por cima, ela dizia que lhe dava «gozo gostar de quem não vale nada» e eu, talvez por isso, com esta frase senti-me contemplado com um aceno e agarrei-me ao jornal. E li, claro que a acumular ressentimentos, sobrecarreando o pobre fígado.
Lá fui passando pela parte em que ela diz que é «uma pessoa encantadora», lá tropecei quando ela diz: «eu estou no meu poleiro há muitos anos»; ia desistindo quando ela, lembrou que quando aparecia «na campanha do Freitas do Amaral» «as pessoas faziam uma festa», apeteceu-me uma gargalhada quando vi que, a propósito, a foto que orna a entrevista é a dela ladeando um quadro com um pavão.
Mas quando, já na recta final da conversa, dou com ela, num primarismo feminista, a concordar que «os homens são criminosos», e que as mulheres é que são «criadoras», lamentei o tempo perdido. Minha rica sexta-feira!
Uma só coisa gostei de ler, quando ela diz que «não mantenho um diálogo com Deus». Que pena, pensei eu, já de má catadura, escusava de ficar a falar sozinha!
posted by José António Barreiros at 4:36 PM
4 Comments:
linfócittos said...
O que acrescentar ou desdizer???? Nada!!!!!
Começo a ler Augustina e findo sempre a sua prosa viva e crua de transparência humana com a mesma sensação quando degusto umas migas de espargos alentejanas.
Cheiro-as, provo-as e logo as devoro sem as respeitar como raras e preciosas que são.
É no fim - já cheia e abafada daquele pão acre e azeite aromático - que se revela um seu sentimento voraz e preciso.
A diferença entre a iguaria alentejana e a escritora é que a primeira é fiel ao que se propôe e a segunda contradiz arrogante e snobmente todo o sentido de verdade, mesmo a da lucidez individualista e da filialidade irracional que desenvolve nos seus personagens maravilhosos.
Assino por baixo!!!!!!
12:18 AM
Anonymous said...
Desta escritora, li, apenas, um livro - A Sibila - de que gostei, mas...
Não consigo desligar-me do incómodo que me causa a maneira de ser da senhora. Então, evito-a, tal como evito falar com pessoas cuja suficiência e arrogância me irritam.
Poderão ter coisas importantes a dizer-me, mas fecho-me ao modo como o dizem/escrevem, isto é, como nos "atiram" com a sua sapiência.
DespenteadaMental
1) Sem se saber em que contexto Agustina disse que o o aborto é uma questão só para mulheres não se vai muito longe. No pressuposto que se está a sofrer uma gravidez indesejada, a minha pergunta é : de quem é a barriga? Quem é que é sempre primacialmente responsabilizada pela criança?
2) Gostar ou nao gostar do carácter de Agustina é irrelevante como também o é gostar ou não da sua escrita. E já agora um bom conselho: leiam os escritores e evitem conhecê-los. Assim não terão nenhum desgosto. m.c.r.
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