25 fevereiro 2005

Cesário Verde nasceu há 150 anos

De tarde

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

Cesário Verde

5 comentários:

Primo de Amarante disse...

Faço, nos 150 anos do seu nascimento, homenagem ao poeta do amor, do sofrimento e da vida rustica e com esta homenagem também saúdo a Eugénia, o blog da Amélia e todos os incursionistas que pensam que fazer poesia é uma forma superior de estar na vida.

Silvia Chueire disse...

Apesar de não pensar que escrever poemas seja uma forma superior de vida ( interrogo-me mesmo se é uma forma de vida..: ), agradeço ao compadre pela saudação com um tão belo poema de um poeta tão significativo.

Abraços,

Silvia

Primo de Amarante disse...
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Primo de Amarante disse...

Dizer que "fazer poesia é uma forma superior de viver ou (e talvez de forma mais correcto)"estar" na vida" significa para mim o seguinte:
1º vive melhor quem se distancia do imediato e pragmático. O poeta sabe trabalhar o conceito (instrumento de apropriação da realidade e, por isso, da vida) da forma mais significativa e isso faz com que o que diz tenha um horizonte de sentido mais distante: vai mais longe e ajuda-nos a ver a realidade do outro lado, do lado das musas e as musas, convivendo com as divindades, vão às essências das coisas.
2. O "mundo da vida" vivida pelo poeta tem uma expressão artística. E a expressão estética é uma expressão criadora, capaz de dar “nova vida” à realidade e com isso abrir novas formas de ver, sentir, sofrer e amar.
3. Os poetas estão próximos dos deuses, como já referi. Por alguma razão a linguagem do mito, dos profetas, é uma linguagem metafórica, impregnada de poesia. Quem não sente que há poesia, por exemplo, no génesis?!...
4. Concluindo: a linguagem poética tem um sentido que transcende o imediato, expressa, por isso, uma forma superior de estar na vida.
Eu sei, Eugénia, que não lhe ficava bem ser juiz em causa própria. Você convive com as musas. Mas, um pindérico, como eu, que apenas gosta da poesia, pode, sem vaidade e sinceramente, defender esta tese.
Espero que a Amélia, que reflectiu e escreveu sobre estas questões (pelo menos de forma indirecta), entre neste debate com a sua simpatia e autoridade intelectual e faça melhor luz sobre esta questão.

Kamikaze (L.P.) disse...

Biografia e outros poemas de Cesário Verde

http://www.iplb.pt/pls/diplb/!get_page?pageid=402&tpcontent=FA&idaut=1426452&tipo=&format=NP405

http://www.arlindo-correia.com/120601.html