A memória indelével
das águas verdes do rio.
Da vastidão do mar.
Das ondas,
corpo a dentro,
do desejo.
Do céu,
cristal frágil,
imobilizado na retina.
Das mãos, amorosas,
a me buscarem.
E uma ternura mãe de todos os sentimentos.
Mãe da terra,
do céu,
dos ventos que revolteiam as folhas das árvores,
dos oceanos.
Mãe dos cordeiros que pastam inocentemente.
Ternura que me apascenta
pelos caminhos pedregosos.
Essa ternura imensa.
E o desejo, que me move
e move-se coleantemente
no meu corpo.
Desejo e gozo
que me põem pó,
irmanada ao mundo.
Nada mais sei,
nem quero saber.
Porque imersa na ternura e no gozo,
sou apenas átomo.
Ou átimo.
Nada sei,
nem posso.
Silvia Chueire
19 fevereiro 2005
Memória
Marcadores: Poesia, Sílvia Chueire
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6 comentários:
Linda poesia!
A memória é fonte de tristeza. Talvez, por isso, Pessoa tenha dito que "o poeta é um fingidor". Parece fingir que a memória encaminha o poema, mas o que verdadeiramente acontece é que o poema engana a memória. É pena que os psiquiatras nem sempre aprendam com os poetas. Mas, quando o psiquiatra é poeta, a memória jorra esperança e sentido de vida.
A memória é fonte de muitas coisas, compadre. Às vezes gloriosas... Tenho a felicidade de ter memórias.
Fico feliz pelas suas palavras .
Um abraço,
Silvia
A memória, querida Amiga Eugénia, tem graus diferentes de força. A memória de primeiro grau é traumatizante: refere-se ao inolvidável, ao que não podemos fugir de pensar, quando surge a data, o dia, o local e com isso os desejos e os afectos. Essa experiência é quase a eperiência limite do sofrimento trazido pela memória. Dificilmente se apaga. Só a podemos enganar!
Esta memporia, compadre, que vc chama de primeiro grau, a que não se pode esquecer,a que nos invade independentemente da nossa vontade, não tem como causa apenas os traumas. Mas também as vivências de grande importância para o sujeito. A determinação da importância é absolutamente pessoal. Diz respeito à dinâmica, à vivência de cada um. Assim, um trauma pode ser recordado com a mesma intensidade de uma grande alegria, de um momento de raiva e assim por diante. Tal como podem ser definitivamente esquecidos, apagados, amnésicamente.
Mas afinal falavamos de poemas, não é mesmo? E meu rigor ao falar da memória não tem grande importância. É que este poema é memória. E memória das boas. : )
Abraços,
Silvia
Memória, errei ali, desculpem-me.
Silvia
Concordo consigo. O meu ponto de vista é circunstancial. Não quero pôr de lado outras experiências. Quanto á que vivo mais intensamente, só me apetece enganar a memória.
Um abraço
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