11 fevereiro 2005

árabe - VI

são do deserto

são do deserto os olhos
que me olham fúnebres sob a noite fria.
é tarde , brilham as pupilas
nos rostos definhados,
a desconfiança arde .

onde está o dia lento,
à sombra da figueira
o continente do abraço,
a palavra renovada ?

nada mais encontro
que vestígios de esperança.
são faces infantis as que me miram.
outras de raiva,
algumas são faces distorcidas .
outras são orgulho abatido
e dor, a dor do exílio.
a dor da terra que agoniza.

o deserto é grandioso.
não hoje, não aqui,
este deserto é maior
e faz medo.

é o deserto entre os homens
a planura árida, infértil,
que entre irmãos se estende.

em silêncio digo minhas preces.
alah, ó misericordioso !
tu que tudo sabes
fertiliza o deserto
destas criaturas que são tuas.

dai-me de volta o gamo que perdi ,
o rebanho de ovelhas dispersadas.
algo mais que o desespero enterrado
na pele;
dai-me fragrância da terra que sorri .



silvia chueire

4 comentários:

Amélia disse...

...este eu ainda não conhecia.Belo como os demais da série...Beijo

Primo de Amarante disse...

Escorre por mim,
sem saber de onde vem,
uma inolvidável tristeza.
É uma dor que mal se sente,
um fechar-me numa noite
deixando-me solitariamente só.

Silvia Chueire disse...

Amélia,
Obrigada pela sua atenção e cuidado de sempre. Beijos.

compadre,
Com que então um poema? : )Obrigada por trazê-lo para nós.
Abraço.

LC,
Fico feliz.Quando escrevemos, entre as muitas razões para escrever um poema, queremos sempre que ele toque a quem o lê.
Abraço.

Silvia Chueire

Primo de Amarante disse...

Somos seres da intranquilidade. A tristeza é uma intranquilidade que provoca uma diminuição interior causada por um obstáculo intransponível. É preciso enganar a memória para fugir da tristeza: por exemplo, passear longas horas com o nosso cão. Em cada salto, em cada abanar da cauda está o empurrão para sairmos de dentro de nós mesmos, da prisão que nos entristece. De repente sentimo-nos devolvidos á liberdade que nos enche de luz, da luz que nos faz sair da escuridão do túnel.
É bom, quase biologicamente necessário, ter um cão. Quando estiverem tristes, profundamente tristes, subam à serra ou desçam à praia e corram, brincando com esse fiel amigo que é o nosso cão. A harmonia interior restabelecer-se-á. Pelo menos enquanto enganamos a memória!
Desabafar tudo isto é procurar aguentar o rumo da harmonia interior. Ajuda-nos a isso, o eco da solidariedade que nos faz sentir fora da solidão; e, é só isso que podem fazer os amigos.