11 fevereiro 2005

Valores e direitos

O mundo ocidental cai muitas vezes na tentação de dividir os países árabes em países bons e maus, em países amigos e inimigos, conforme são ou não nossos aliados nas grandes questões da política internacional, fechando os olhos relativamente a tudo o que são valores civilizacionais.
Não é que eu entenda que os valores ocidentais se devem sobrepor a todo o custo aos dos países muçulmanos ou dos países orientais. Penso que devemos respeitá-los na sua diversidade e na sua ancestralidade. Acontece, tão só, que há valores superiores que devem ser partilhados pelas populações de todo o mundo. Refiro-me, por exemplo, à abolição da pena de morte, à escravatura, aos direitos das crianças, aos direitos das mulheres ou aos direitos dos doentes. E neste domínio, em que há um consenso cada vez mais alargado na comunidade internacional, competirá aos países mais avançados na defesa desses valores bater-se pela sua disseminação a nível mundial.
Esta minha reflexão surge a propósito da notícia ontem publicada no “Público” sobre as eleições na Arábia Saudita e a impossibilidade das mulheres votarem ou serem candidatas. O facto de se realizarem as primeiras eleições naquele país, embora parciais, já é um dado importante. Mas a comunidade internacional, designadamente a ONU, a Comunidade Europeia e os EUA, durante tantos anos íntimos aliados da Casa de Saud, não podem fechar os olhos perante a forma como as mulheres são discriminadas nesse e em tantos outros países. Não pode haver cedências na defesa dos valores universais.

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