04 março 2005

Centenário do nascimento de Sartre

Jean-Paul Sartre nasceu a 21 de Junho de 1905. Foi um intelectual “engagé”, manifestando-se contra a guerra-fria, as guerras na Argélia e no Vietname, defendendo a Revolução Cubana e repudiando a invasão da Checoslováquia, por acções de rua, debates com intelectuais e reuniões com operários. Nenhum filósofo influenciou tanto o seu próprio tempo como Sartre. Há quem defenda que não há um Sartre, mas três: o jovem marxista, o crítico do marxismo e o existencialista ateu. O seu pensamento filosófico enraíza, sobretudo, em Hegel, Marx, Freud, Heidegger e Husserl. Num debate ocorrido no Club Maintenant aceita a palavra existencialismo para designar a sua própria filosofia. Esclarece: “Se Deus não existe há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por algum conceito e esse ser é o homem (…) O homem é apenas aquilo que ele faz de si mesmo. Tal é o princípio do existencialismo”. Chega a esta conclusão pelo método da dúvida, mas, ao contrário de Descartes, não faz incidir a dúvida no conhecimento, mas na própria História, em Deus e no Absoluto. Na sua obra “A náusea” explica que a dúvida (náusea) manifesta-se num sentimento de inquietação que faz do absoluto um absurdo que não deixa o homem ser ele próprio, tomar consciência de si para determinar o seu futuro. Sair da “náusea” é perceber que a consciência, no seu estado puro, é nada, não está determinada. E, em “ O Ser e o Nada” faz a distinção entre “ser”, o que se define pelo princípio da identidade (ele é o que é) e a consciência que se define pelo princípio da contradição (ela é o que não é o que é). A influência da dialéctica hegeliana é clara: a consciência é nada e é tudo. “O homem deve inventar-se a partir do nada que ele é, ao invés de autodeterminar-se por algo que lhe é exterior”. É na escolha que se manifesta a consciência e a liberdade é o fundamento dos valores que orientam as escolhas. Se Deus existisse, o homem não era livre, mas, Deus não existe e o homem é absolutamente livre, escolhe a partir de si próprio. Nesta liberdade absoluta está a sua autenticidade. Por isso, diz Sartre: “enquanto ser pelo qual os valores existem sou injustificável (…) Estou virado para o futuro (…) A natureza do passado é dada ao passado pela escolha original de um futuro”. A história não é uma narrativa do passado, mas um compromisso com o futuro. “Cada vez que o homem escolhe o seu compromisso torna-se-lhe impossível preferir outro” E, por isso, “Todo o homem que inventa um determinismo é um homem de má-fé”. E conclui: “A nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque é um compromisso com a humanidade inteira”.
O existencialismo de Sartre, pela importância decidida que dá à subjectividade humana tornou-se num novo Humanismo que procura libertar o homem do “inferno dos outros”
Homenagear Sartre é, por isso, comemorar uma revolução cultural que, certamente, a todos nos influenciou.

1 comentário:

hfm disse...

Não poderia estar mais de acordo com o último parágrafo!