06 março 2005

O exemplo de Trotsky

O dr Paulo Portas demitiu-se e, entre outras extraordinárias razões, afirmou que numa Europa civilizada, um partido conservador que se preze não pode ficar a um ponto dos trotskistas. Eu, que não sou nem alguma vez fui trotskista (mesmo quando isso parecia ser dum chic a valer, como diria Eça), fiquei espantado: É que numa Europa civilizada, nenhum leader conservador diz baboseiras deste jaez sem que uma imensa gargalhada sacuda a sociedade inteira. Julgo que pouca gente se riu o que só prova quão deprimidos andamos todos.
Mas não era para falar do ilustre e derrotado irmão do outro Portas, o tal que ou é trotskista ou anda em más companhias, que vos venho incomodar.
A coisa é mais prosaica, mais terra a terra, mais (parafraseando Marx) "a história repete-se". De facto, a Tv comunicou e o conspícuo Público na sua pagina internet confirma-o, o CDS vai retirar o retrato de Freitas do Amaral da galeria dos pais fundadores e vai enviá-lo pelo correio ao PS.
E é aqui, amigos bloguistas, que entra o falecido Leon Bronstein em cena. Entra mais como vítima e exemplo do que a qualquer outro título: nos gloriosos tempos do camarada Staline, depois dos processos de Moscovo e consequentes purgas, execuções, assassinatos e internamentos no gulag, entenderam os fazedores da nova sociedade, refazer a história e reescrever os livros: foi assim que todas as fotografias onde o malogrado Trostsky aparecia, foram retocadas de modo a que o organizador do exército vermelho ( e carniceiro de Cronstadt para compensar) desaparecesse da história pelo milagre do apagamento das suas fotografias. Incidentalmente também desapareceu o seu nome das listas dos pais da revolução e de tudo o resto...).
A partir daí foi só um passo para a eliminação física. O exilado Trotsky foi assassinado no México por um misterioso Ramon Mercader que usou uma picareta para lhe abrir a cabeça.
Não estou a insinuar que o cavernícola que entendeu esconder o nome e a fotografia do fundador do CDS pelo expediente de a meter num sobrescrito devidamente estampilhado para chegar ao Largo do Rato, resolva seguir a par e passo a lição de Stalin.
Provavelmente faltar-lhe-á coragem na hora de ordenar uma picaretada justiceira no nóvel ministro dos Negócios Estrangeiros, e fica-se por este pobre e infantil arremedo de morte civil.
A história repete-se, como dizia o velho Karl. Só que aqui a repetição não é como tragédia mas tão só como farsa, como anedota de segunda daquele cadveresco parque Mayer onde o dr Santana queria pôr um casino.
O dr Portas estava muito triste por ficar tão perto dum partido trotskista. Mal ele sabia como as suas palavras iam ser levadas a sério.
mcr

6 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

(sorry, private joke)

Meu caro e bem reaparecido MCR: mais um ou dois "postalitos" deste magnífico calibre e não teremos só o desenho nítido do perfil, mas de um homem inteiro, de corpo e espírito... :)

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Se o ridículo matasse, esta garotada do CDS/PP passaria um mau bocado. Ninguém ensina a estes rapazes que a história não se apaga?

Kamikaze (L.P.) disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Kamikaze (L.P.) disse...

Eram tantas as gralhas no comentário anterior que achei melhor apagá-lo. Aqui vai de novo:caro Nicodemos, de facto já tinha reparado que anda um pouco arredado, mas em boa hora voltou a dar-nos um ar de sua graça. A semana passada bem quis contactá-lo, mas não tenho o seu email. Será possível enviar-mo para o que consta no meu "profile"? Obrigada.

(ah, a mim o episódio que relembrou parece-me muito a propósito...)

M.C.R. disse...

Agradeço com fraterna cordialidade todos os comentários e aproveito a boleia de Nicodemo para relembrar não o Chico Martins Rodrigues que ainda está por aí mas o João Pulido Valente, seu companheiro na aventura da FAP: o João era um homem corajoso e bem disposto, coisa que nem sempre ocorre nos revolucionários radicais. Todos os dias morre um ou dois dos velhos resistentes e a história deles ( e a também a nossa história, que diabo!) está por fazer!!!
Permitam-me, oh amici miei (quem viu esse belo filme?) que, de passo, recorde com muita comoção outros dois João: O joão Quintela, outro antigo m-l e o João Bilhau, camarada na crise académica de 69 em Coimbra, fundador da editora Centelha e morto num acidente de estrada quando ia fazer uma consulta grátis semanal (herdada de seu pai, velho médico de província) aos pescadores de Peniche. Foram ambos meus companheiros durante a minha primeira estadia na cadeia de Caxias (Maio de 1962) e eram dois homens de bem.
avanti o popolo/ alla riscorsa... etc...
mcr
ps: Vento Divino: v. é demasiado generosa para mim, De todo o modo muito obrigado (private joke)

M.C.R. disse...

os amigos do Bilhau são meus amigos e benvindos em minha casa.
mcr