15 março 2005

o fim de uma insensatez

Os jornais noticiam que as Secretarias de Estado deslocalizadas regressam a Lisboa. Ora aí está uma medida de higiene político administrativa que se sauda vivamente. Nada explica o afã semeador de Secretarias de Estado pelo território nacional. Vá lá que ninguém se lembrou de mandar um par delas para Porto Santo e para o Corvo. No segundo caso ainda se percebe. Os Açores eram governados pela oposição. Já quanto a Porto Santo julgo que terá sido o dr Alberto João que se opôs por lhe parecer uma medida (mais uma!) comprovante do colonialismo do Terreirpo do Paço.
O mal inspirado Dr. Santana Lopes, por ora triunfalmente regressado à Câmara Municipal de Lisboa (coisa que alegrou o coração de todos os bairristas do Porto que esperam que a sua governação acabe a tarefa do sismo de 1755) achava que a democracia e a descentralização administrativas se resolviam com o pobre artifício de oferecer às terras mais fieis um simulacro de poder central. Pouco lhe importava saber que nem um dos funcionários era enviado para esses cafundós, antes se recrutando in loco meia dúzia de pressurosos afilhados em cata de 1º emprego. A lei de facto permite que o funcionário se recuse a ser deslocalizado para uma distância superior a 30 quilómetros. O que tem como consequência ter de se recrutar no local meia dúzia de pessoas que abram a porta, atendam o telefone, varram o lixo, recebam os improváveis impetrantes que aí se deslocam etc... etc...
Entretanto os resistentes à deslocalização ficam no seu habitual poiso, se as intalações continuarem abertas. Ou vão até casa onde comodamente e sem risco de constipações recebem o ordenado ao fim do mês. Um que outro, possuído pelo secreto vício do amor à res publica, pede transferência para algum quadro remanescente onde mesmo que não seja especialmente necessário irá fazer qualquer coisinha.
Quanto aos responsáveis políticos e aos altos quadros a coisa fia mais fino e pode tornar-se numa espécie de regabofe: em primeiro lugar no caso de estabelecerem residência (ou apenas alugarem um quartinho na terra da deslocalizada Secretaria) têm direito a subsídios específicos, ajudas de custo e outras pequenas benesses. Como, de todo o modo, as coisas continuam a fazer-se em Lisboa, na sede do Ministério, lá se aumentam as despesas com viaturas, motoristas, e se perde o dobro senão o triplo do tempo com idas e vindas. Os fins de semana começam mais cedo e acabam mais tarde. E por aqui me fico neste rosário de alucinado escândalo e de custosas incompetência. Um certo dia tudo acaba. As casas alugadas voltam à posse dos legítimos proprietários carregadas de benfeitorias útei , inúteis e sumptuárias. Às vezes até dão direito a indemnizações. Os contratados no local ou são transferidos para serviços centrais, entrando no quadro pela porta dos fundos, ou são recolhidos pelos poderes locais que assim aumentam o seu efectivo de pessoal inútil mas politicamente protegido.
Tudo isto vem a propósito de um pequeno e torpe escandalozinho, com dez anos de duração. De facto o inimitável Dr. Santana, quando era Secretário de Estado da Cultura, no último consulado cavaquista, lembrou-se de deslocalizar a Delegação Regional de Secretaria de Estado da Cultura. Do Porto mandou-a para Vila Real, onde como é sabido, fervilhavam organismos culturais, criadores e instituições. Nenhum dos cerca de vinte funcionários da Delegação do Porto aceitou ir para tão longe. Alguns foram recuperados por um efémero Instituto que Lopes criou a partir do nada para fazer coisa nenhuma.
Outros, três ou quatro, foram aproveitados pelo IPPAR. Sete funcionários (entre os quais três técnicos superiores) foram para casa onde ainda estão, e continuam, tranquilamente a receber os seus ordenados enquanto não lhes concederem uma meritória reforma. Um, por acaso o responsável da Delegação, que também é quem estas mal traçadas linhas vai escrevendo, pediu transferência para o Centro Regional de Segurança Social do Norte, onde ainda permanece. E isso porque, quando pretendeu regressar a esse efémero instituto, para um lugar do quadro (assessor principal), foi-lhe respondido por um tal Xavier, presidente da dita instituição, que não era oportuna a sua vinda.
Deus, que escreve direito por linhas tortas, também já providenciou que o referido director geral fosse mandado embora pelo mesmo Secretário de Estado que o tinha nomeado. O dito Secretário foi pouco depois despedido pel o 1º Ministro. Não porque, como se pensou, tivesse afirmado a excelência dos concertos para violino de Chopin. Mas apenas e tão só por mera incompetência geral.
Passou pela Figueira da Foz onde plantou uma dúzia de palmeiras no areal e deixou a Câmara endividada. Em Lisboa, para cuja câmara regressou quase clandestinamente, já tem um buraco feito. A malta de esquerda reza fervorosamente para que ele anuncie a sua recandidatura: sempre é meio caminho andado para o PS só ou coligado ganhar as eleições municipais.
Muss es sein. Soll es sein.
Ou seja, que seja assim, tem de ser assim.

mcr
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4 comentários:

M.C.R. disse...

Peço aos eventuais leitores as mais humildes desculpas pelas gralhas que infestam o meu texto. De todo o modo o alvo dele também não merece obra mais bem acabada. Todavia os leitores não têm culpa da minha ojeriza à criatura e apanham com os erros todos em cima. Como desculpa, medíocre, só esta: não sei como é que se corrige um texto já postado.
mcr

Kamikaze (L.P.) disse...

Parabéns, MCR, por mais um brilhante post, desta feita fora do "circuito fechado".
Gralhas: assunto mais ou menos resolvido.
Segue email com instruções :)

Primo de Amarante disse...

Sem "circuíto fechado" . Por força do "destino" encontrei, hoje, a Isabel e o Castro Neves. Falamos da vinda a Portugal do Sartre e ela lembrou-me o papel que nesse acontecimento teve o Leal Loureito. A Isabel, que também acompanhou o Sartre, lembrou-me a ída ao "Bolhão" e outras peripécias. Depois, recordamos a tal revista. Chama-se "Espaço" e tem como subtítulo (entre dois túmulos, num preto sobre um fundo vermelho)- "da informação principalmente da informação". Recordamos o Tavares Pinto, o Fleming e muitos outros, o artigo "televisão e democracia" do Castro Neves, o texto sobre "cultura de massas" do Manuel Resende, etc. etc. Entretanto, corrigiram-se algumas incorrecções. A revista só teve um número, saiu em 1966 (anterior ao maio de 68), na altura em que nasceu a "Afrontamento" e pretendia "copiar" o "Tempo e o Modo" que, por sua vez, pretendia ser (na sua origem) uma alternativa dos católicos progressistas à Seara Nova. O "Tempo e Modo" teve outra longividade, acompanhou o Maio de 68, ganhou prestígio e sofreu muitas vicissitudes. Chegado a casa, dei voltas aos papeis e encontrei a revista "Espço-da informação princpalmente dainformação". Paciência m.c.r, só tenho um exemplar. Fica bem guardado. Só te posso arranjar uma fotocópia.
Um abraço.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Subscrevo por inteiro, caro MCR, a substância da questão que trata no seu post, bem como as apreciações sobre o dito PSL.