O que se espera do PS?!... Espera-se que, numa espécie de jogos de espelhos (olhar para o outro para se ver a si próprio), aprenda com os erros do PSD e seja capaz de mudar o ciclo da vida política. O governo que acaba de ser apresentado está colocado ao centro. Espera-se que não configure uma preocupação neo-liberal de resolver os problemas do País. Também se espera que o PS não repita o erro de satisfazer a "gula" dos boys que, sem outra competência que não seja a de saberem jogar os jogos de influências no interior dos aparelhos partidários, confundem os interesses do País com um lugar na mesa do Orçamento do Estado. Exige-se a um bom governo o sentido do bem-comum e que desencadeie as reformas necessárias (nomeadamente no sistema político e partidário), que possam credibilizar a acção política, promover a justiça social e desenvolver o País. E o PS só ganhará esta batalha, se, desde já, der um sinal de estar preocupado com estas questões. Não basta a imagem pública de competência e rigor é também necessário que essas características se harmonizem com as preocupações sociais. Naturalmente, é indispensável a preocupação com as questões da iniciativa empresarial, do choque tecnológico e da concorrência, mas tudo isso não pode ser orientado por uma espécie de darwinismo social que vai tornando os ricos cada vez mais ricos e em menor número e os pobres cada vez mais pobres e em maior número.
John Locke, há cerca de trezentos anos, nos "Dois Tratados sobre o Governo", já dizia "O Bom Governo deve assegurar que todos possam viver de forma confortável, segura e pacífica". E justificava: "Sendo todos iguais e independentes, ninguém tem o direito de prejudicar o outro na sua vida, na sua saúde, na sua liberdade e no seu direito a não ser excluído do mundo".
Esta ideia transformou-se numa conquista da nossa civilização. Em nome das "leis do mercado" não podemos recuar ao princípio da revolução industrial e colocarmo-nos ao nível de alguns países asiáticos. O "mercado" não é o fim da História, nem a razão de Estado. Não há um fim da História e as razões de Estado são questões do interesse comum. Um bom governo do PS terá de orientar a sua acção por uma preocupação ética dar resposta ao excluídos de um mundo que também lhes pertence.
João Batista Magalhães, no JN de hoje
06 março 2005
Por um bom governo
Marcadores: L.C.
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