06 março 2005

Por um bom governo

O que se espera do PS?!... Espera-se que, numa espécie de jogos de espelhos (olhar para o outro para se ver a si próprio), aprenda com os erros do PSD e seja capaz de mudar o ciclo da vida política. O governo que acaba de ser apresentado está colocado ao centro. Espera-se que não configure uma preocupação neo-liberal de resolver os problemas do País. Também se espera que o PS não repita o erro de satisfazer a "gula" dos boys que, sem outra competência que não seja a de saberem jogar os jogos de influências no interior dos aparelhos partidários, confundem os interesses do País com um lugar na mesa do Orçamento do Estado. Exige-se a um bom governo o sentido do bem-comum e que desencadeie as reformas necessárias (nomeadamente no sistema político e partidário), que possam credibilizar a acção política, promover a justiça social e desenvolver o País. E o PS só ganhará esta batalha, se, desde já, der um sinal de estar preocupado com estas questões. Não basta a imagem pública de competência e rigor é também necessário que essas características se harmonizem com as preocupações sociais. Naturalmente, é indispensável a preocupação com as questões da iniciativa empresarial, do choque tecnológico e da concorrência, mas tudo isso não pode ser orientado por uma espécie de darwinismo social que vai tornando os ricos cada vez mais ricos e em menor número e os pobres cada vez mais pobres e em maior número.

John Locke, há cerca de trezentos anos, nos "Dois Tratados sobre o Governo", já dizia "O Bom Governo deve assegurar que todos possam viver de forma confortável, segura e pacífica". E justificava: "Sendo todos iguais e independentes, ninguém tem o direito de prejudicar o outro na sua vida, na sua saúde, na sua liberdade e no seu direito a não ser excluído do mundo".

Esta ideia transformou-se numa conquista da nossa civilização. Em nome das "leis do mercado" não podemos recuar ao princípio da revolução industrial e colocarmo-nos ao nível de alguns países asiáticos. O "mercado" não é o fim da História, nem a razão de Estado. Não há um fim da História e as razões de Estado são questões do interesse comum. Um bom governo do PS terá de orientar a sua acção por uma preocupação ética dar resposta ao excluídos de um mundo que também lhes pertence.


João Batista Magalhães, no JN de hoje

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