A 10 de Março de 1933, por todo o Reich alemão onde Hitler acabara de ganhar as eleições, realizaram-se gigantescas queimas de livros. As fogueiras consumiram de tudo desde o famoso "A oeste nada de novo " de Erich Maria Remarque às obras de Erich Kaestner (o autor de "Emilio e os Detectives") passando pelos irmãos Mann ou Walter Benjamin. Simultaneamente começaram a aparecer as denúncias contra a arte degenerada (Kokoshka, Grosz et alia) e iam sendo paulatinamente referendadas as leis raciais e de enquadramento do Estado-partido. Quem percebeu a tempo o que se passava apressou-se a partir para um exílio que, por vezes, foi definitvo (suicidios de Benjamin ou Stefan Zweig).
Quem apesar da luz temível das chamas se recusou a acreditar no fim do mundo, depressa passou a engrossar o número de detidos na rede de campos de concentração, inaugurada com levas de comunistas, socialistas, homossexuais e outros "associais".
Quem, a Ocidente, assistiu a isto ou não percebeu ou, mais certamente, não quis perceber o que de sinistro se estava a preparar. Hitler poderia ter sido parado dez vezes. Dez vezes foi desculpado ou até incentivado. Os judeus eram uma praga e os comunistas e socialistas uma ameaça. Os intelectuais alemães perseguidos estavam apenas a pagar a sua atitude anti-burguesa e anti-capitalista, como vários comentadores na altura disseram. O resultado é o que se sabe.
As efemérides são apenas efemérides, as mais das vezes inócuas. Todavia, a falta de protesto, o silenciamento da indignação e correlativos distanciamentos servem sempre os agressores jamais os agredidos. Ou por outras palavras: denunciar uma atrocidade cometida no Iraque, seja pelos ex-torcionários ou pelos pseudo-libertadores, pode prevenir futuros bem piores.
mcr
10 março 2005
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3 comentários:
Associo-me à mensagem do post anterior colando aqui um poema de Bertolt Brecht, que bem poderia ter sido escrito nesse dia ou em data muito próxima.
O Füher dir-vos-á: a guerra
É para quatro semanas – no Outono
Já estareis de volta. Mas
O Outono virá e passará
E de novo há-de vir e muitas vezes ainda há-de passar
Sem que de volta estejais.
O pintor dir-vos-á: as máquinas
Encarregar-se-ão de tudo – muito poucos
Serão mostos. Mas
Vós morrereis às centenas de milhares, tantos
Que em tempo algum, ou terra alguma, se viu morrer assim.
Quando eu ouvir dizer que estais no Cabo Norte
Ou na Índia, ou no Transval, saberei apenas
Em que lugar poderão um dia ser encontrados os vossos túmulos.
Importante reflexão sobre o 10 de Março e oportuno comentário de "o meu olhar".
Acrescento a ideia de uma lição possível:
Todos os horrores na história da humanidade tiveram origem na seguinte cultura:
1º Há um mal absoluto;
2º Esse mal absoluto significa a privação de um bem absoluto
3º Todos os meios, os mais horrorosos, justificam-se para banir o mal.
Acabar com esta cultura do ódio é defender os seguintes princípios:
1º O mal faz parte da condição humana, logo temos de saber ser tolerantes.
2º Não se corrige o mal com outro mal,logo o mal não pode ser banalizado.
3º Os fins não justificam os meios, logo só o diálogo e o respeito pelos direitos humanos constituem meios ajustados à dignidade humana.
Sábia sintese a que antecede.
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