05 maio 2005


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8 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

IN:
http://oceanus-occidentalis.weblog.com.pt/arquivo/imagem_e_poesia/

Kamikaze (L.P.) disse...

"Olham os poetas as crianças das vielas/
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas/
o que elas pedem é que gritemos por elas/
as crianças sem livros sem ternura sem janelas/
as crianças dos versos que são como pedradas."

Sidónio Muralha

Kamikaze (L.P.) disse...

Sobre Sidónio Muralha ler aqui

Kamikaze (L.P.) disse...

Post de 4/5 no Random Precision:(negritos meus)

Adeus Vanessa

"Vivia com o pai e com a avó, no Bairro do Aleixo, no Porto.
O pai tem 25 anos, é toxicodependente e está desempregado. A avó é costureira e vive do Rendimento Mínimo Garantido.

Mas a Vanessa não era uma menina como as outras.
A Vanessa não brincava com as outras crianças, pois nem sequer ia à escola. Ficava todo o dia em casa com a avó.
Quando a avó tinha de sair e não a podia levar, fechava-a na despensa durante horas a fio, sozinha.
A Segurança Social que acompanhava aquela casa, nem sequer sabia da sua existência.


A Vanessa não tinha ouvido falar (e se tivesse não teria compreendido) do caso da pequena Catarina.
A Catarina tinha vivido ali perto, em Ermesinde.
A Catarina morreu o ano passado, vítima de maus tratos e de repetidos abusos sexuais, praticados pelo próprio pai e pela tia.
A sentença do tribunal que os condenou a 14 anos de prisão precisou de 104 páginas para descrever a invulgar brutalidade do crime.
A Catarina tinha dois anos.
A Vanessa já tinha cinco.
(...)
Que teria pensado a Vanessa enquanto a avó e o seu próprio pai a matavam lentamente?
Quantas vezes terá perguntado a si própria porquê?
Que tristeza, que desilusão, que sofrimentos terá vivido?
Que solidão terá sentido?

O seu corpo pequenino tinha múltiplas marcas de fracturas, algumas já antigas, e tantas equimoses que até metia dó.
Para esconderem o seu crime, o pai e a avó inventaram um rapto numa feira, e atiraram o seu corpo ao rio Douro.
Apareceu a boiar, ao pé do cais.

Disseram as vizinhas, na televisão, que a Vanessa era muito bonita e tinha uns lindos olhos azuis.

Um comentário no Random Precision (negrito meu):

"Temos um país chocado.
Uma vez mais. É um facto.
Mas ouvi no noticiário da noite uma senhora que as legendas diziam ser educadora de infancia referir-se à Vanessa como "uma criança que brincava como as outras e lhe parecia ser feliz", pelo que subentendi que estaria integrada num qualquer jardim de infância.
Esta manhã sofri maior revolta contra a Justiça que diáriamente tento servir: nas notícias da rádio comentava-se que a Vanessa fora adoptada por uma família aos 3 meses e devolvida pelo tribunal ao pai no final do ano passado!!!!!!"

Ainda outro comentário:

"conheço bem o bairro do aleixo... É indiscritível, tem torres de 15 andares e os dealers avariam, de propósito, os elevadores. Há lá pessoas de idade, que moram nos andares mais altos e que, à vezes, estão 1 mês sem poder vir cá baixo. Já se fala há muito tempo em mandar aquilo abaixo, mas entretanto nada fazem...
A própria polícia tem medo de lá entrar e o ambiente é indiscritível, assim tipo Casal Ventoso.
E agora esta notícia... não tenho palavras sequer para a comentar..."

Kamikaze (L.P.) disse...

Sic on line, 5/5, 11h22

"A Segurança Social do Norte não tem qualquer registo da criança assassinada e atirada ao rio Douro, apesar de acompanhar a família onde a criança estava inserida.
A avó, suspeita do crime, não chegou a declarar à Segurança Social que Vanessa estava à sua guarda. Aurora Pinto, era beneficiária do Rendimento Social de Inserção e tinha apenas declarado ter a seu cargo três filhos, um maior e dois menores.

A família era seguida pelos técnicos da Segurança Social, mas nunca consideraram a menina como fazendo parte do agregado familiar."

Amélia disse...

Vemos, ouvimos e lemos/não podemos ignorar...dizia Sophia.

Estou chocada.Ouvi a madrinha dela na Tv -teve-a consigo até dezembro passado, contar, chocada.Ela, a Vanessa, chamava-lhe mãe, pois não conhecia praticamente outra.E também a mãe verdadeira, dizendo que não via a filha há 3 anos...e que soubera da norte por uma vizinha e nem pudera ir ao funeral...
E hesita-se tanto em fazer legislação em que não mais seja tão fácil praticar barbaridades destas?As que se conhecem e as muitas mais que se desconhecem?E como pode ser a acusação apenas de «maus tratos»?Não foi assassínio, mesmo que decorrente deles?
E a menina desaparecida e supostamente morta no Algarve?Já está esquecida?
A criança esteve apenas desde dezembro com o pai e a avó.O bastante para ser morta.E agora? Ela é vítima ou, como agora se diz no caso Casa Pia ,«alegada» vítima?

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Quantas Vanessas e Catarinas, sujeitas a uma violência desumana, ainda haverá por esse Portugal fora? Que miséria é esta? Que país é este? Como explicamos um caso destes aos nossos filhos, que estão protegidos desta realidade?
Tantas perguntas por fazer...

Kamikaze (L.P.) disse...

In JN, 6/5

Com apenas cinco anos, Vanessa esteve no centro de uma disputa. Foi ficando nas mãos da madrinha, com o consentimento da mãe e do pai. Foi naquela casa que Vanessa conheceu a escola, as primeiras idas ao médico, as brincadeiras no rancho da terra que a adoptou como mascote.

Em Dezembro passado, sem que nada o fizesse prever, a avó levou-a para o bairro do Aleixo, argumentando que a menina era do pai, por ordem do tribunal. A desculpa serviu para a afastar da madrinha, mas que também para que as técnicas da Reinserção Social "comprovassem" que a Vanessa vivia no bairro e que ali devia ficar.

In JN, 6/5

O Instituto de Reinserção Social, que desde Março de 2002 e a pedido do Tribunal de Menores do Porto estava a acompanhar a família de Vanessa, com vista à regulamentação do poder paternal, defendeu, num relatório datado de 26 de Abril, que a menina devia ficar aos cuidados da avó, "com quem vivia". Nenhum documento apenso ao processo que está no Tribunal de Menores do Porto refere a existência da madrinha, com quem Vanessa morou até Dezembro do ano passado, em Matosinhos.

Carlos Portela, o juiz do Tribunal de Menores encarregue do processo, reconheceu ao JN que a falta de referências à madrinha "é um mistério". Disse, no entanto, não ter chegado a tomar uma decisão final sobre a custódia de Vanessa, ao contrário do que o JN ontem noticiou e ao contrário do que o próprio pai da criança tinha afirmado durante o interrogatório judicial. O magistrado admite, porém, que o relatório do Instituto de Reinserção Social (IRS) seria determinante. "Decidiria mal, mas de acordo com o que tinha no processo. Nós não sabemos o que acontece no terreno, decidimos com base nos elementos que são trazidos ao tribunal". Carlos Portela recusou, no entanto, imputar responsabilidades ao IRS, embora admita que o sistema tenha falhado.
(...)
O "mistério" da falta de referências à madrinha da Vanessa começa quando o processo chega ao Porto. Em Janeiro de 2002, a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Matosinhos foi contactada por Sónia, a mãe da criança, que referiu que a sua filha se encontrava aos cuidados da madrinha, sendo que há algum tempo estava impedida de visitá-la. Sónia queria alterar a situação. Nesse sentido, a Comissão informou o Tribunal de Menores daquela cidade, para que procedesse à regulação do poder paternal.

"Recebi a comunicação no dia 20 de Fevereiro (de 2002). Instaurei um processo administrativo para a regulação do poder paternal, relativo à menina e a mais duas crianças da mesma família. Em Março de 2002, porque a morada do pai era no Porto, remeti o processo para o Tribunal de Menores daquela cidade", explicou, ao JN, a magistrada do Ministério Público no Tribunal de Matosinhos

Entre 2002 e 2004, o Tribunal de Menores do Porto pediu aos técnicos do IRS para localizarem o pai e a mãe de Vanessa. Sónia foi facilmente encontrada. O pai estava em parte incerta. "Precisámos de pedir ajuda às autoridades policiais para encontrá-lo", lembrou o juiz Carlos Portela.

As dificuldades em encontrar o pai de Vanessa não constam do relatório. Da mesa forma não se levantaram dúvidas sobre o familiar a quem devia ser entregue a custódia.

O documento tem a particularidade de ter sido assinado no dia em que a menor terá sido vítima de agressões (terça-feira, dia 26) e ter chegado às mãos da mãe na passada segunda-feira, já depois de Vanessa ter sido encontrada morta. Um dia depois, desconhecendo o que acontecera à filha, Sónia falou com uma assistente social, sobre o documento. Foi aconselhada a pedir apoio jurídico à Segurança Social, para eventual contestação do relatório. Era tarde de mais.