«Sempre que no Parlamento se levanta a voz plangente dum ministro, pedindo que cresça a bolsa do fisco e se cubra de impostos a fazenda do pobre, para salvação económica da pátria, há agitações, receios, temores, inquietações, oposições terríveis, descontentamentos incuráveis. O povo vê passar tudo, indiferente, e atende ao movimento da nossa política, da nossa economia, da nossa instrução, com a mesma sonolenta indiferença e estéril desleixo com que atenderia à história que lhe contassem das guerras exterminadoras duma antiga república perdida.
(...)
Temos um déficit de 5.000 contos. Esta é a negra, a terrível, a assustadora verdade. Quem o promoveu? Quem o criou? De que desperdícios incalculáveis se formou? Como cresceu? Quem o alarga? É o governo? Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos? Não. Não foi ninguém. Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos. Depois, as necessidades da vida moderna, de terrível dispêndio para as nações. Como na vida particular, cresceram as superfluidades, o vão luxo, aparato consumidor, mais precisões, mais gastos, a vida internacional tornou-se tão cara que mais ou menos todas as nações estão esfomeadas e magras.
(...)
O déficit tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado, indissoluvelmente preso ao solo, como uma lepra incurável.»
Eça de Queiroz, 1867
05 junho 2005
Eça é que é Eça!!!
Marcadores: L.C.
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2 comentários:
Precisávamos de excelentes cirurgiões para extrair o mal, de excelentes médicos para assegurar a cura mas esta doença é incurável porque foi, é, e continuará a ser alimento de muitos.
Obrigada LC por nos trazer a memória de um pais que não muda em coisas fundamentais.
Anto, meu velho: tu estás doido! Os deputados a lerem? a lerem Eça? O homem ensandeceu definitivamente! Depressa duas aspirinas! E os sais! Os sais de fruta, carago!
Ler, meu caro. é um feio vício solitário. E tu não queres de certeza que os pais da pátria andem agora nessa vida...
Deixa-os lá a ler os bilhetinhos, o conspícuo diario de notícias e o não sei quê das sessões. quando as pessoas não se lavam ainda é pior porem perfume. Imagina-me agora aqueles caramelos a ler? tu já viste?
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