Há já vários dias que tenho vindo a notar que a participação dos magistrados (no activo) neste blogue começou a decrescer recentemente. Pensei, pensei, pensei e não havia forma de descobrir as razões do alheamento. Até que me surgiu uma luz, uma óbvia explicação: as férias judiciais começaram no dia 15. A explicação é essa. Fechando os olhos, consigo ver os senhores magistrados com os seus escritórios de casa atafulhados de processos que levaram para casa para despachar nas férias de forma a avançar serviço. Quem tem tempo para se lembrar de blogues nestas circunstâncias?
(Ai, vou levar pela medida grande... :-)
11 comentários:
Grande gozão!!!!!!!!!
Carteiro: V. está a acertar em todas...que inveja! Um abraço e antecipados parabens pelo aniversário.
Não havia necessidade ...
Ó Carteiro, não é nada disso homem! Pois se é durante os dias úteis que mais actividade têm os blogs e é por regra à 2ª feira o maior pico de audiências, tá visto que é durante o expediente que mais se bloga! O que se passa é que os magistrados, por via da greve de zelo, estão a ter, pela 1ª e última vez, efectivas férias e em férias não há internet pra ninguém, capisce?!
Durante o expediente pensam no blog e fora do expediente o que devem pensar para o expediente e as férias configuram o próprio expediente.
Está tudo previsto na razão de ser das férias.
Bem me parecia que a culpa é dos advogados, eh, eh! Por acaso, acho que nunca fui notificado para aperfeiçoar um articulado. Por isso, não tenho contribuído para piorar as férias dos senhores magistrados. E boas férias. Evitem tropeçar nas resmas de processos :-)
Pois é, caro Carteiro.
Uma idiossincrasia - bem conhecida - da Justiça portuguesa reside na tentação de só ver (ou apontar) os problemas causados pelos Outros. Se os Outros forem Advogados, tanto melhor.
Dito isto, importa reconhecer que o nível médio da advocacia que se vem praticando baixou consideravelmente e que em muitos domínios a situação actual da advocacia portuguesa é preocupante.
Mas a massificação e baixa de nível também chegou às magistraturas. Já quase não nos admiramos com a frequência com que são proferidas decisões / despachos com teores ou fundamentações ... de pasmar.
A selecção, formação e disciplina, de Magistrados e Advogados, está na ordem do dia e todos teremos de ser muito mais exigentes nessas matérias.
A OA deve, assumidamente, dar o exemplo (em matéria disciplinar, até me parece estar a ser mais interveniente e efectiva que os Conselhos Superiores - mas posso estar enganado).
Já agora, deixo aqui uma questão problematizante (para a qual ainda não conheço resposta satisfatória): como devem os órgãos de gestão dos "operadores judiciários" acautelar e enquadrar - a sério - as situações patológicas do foro psicológico / psiquiátrico que infelizmente parecem estar a aumentar, talvez fruto da crescente "loucura do dia-a-dia"?
Boas férias aos que as estejam a gozar!
Caro Gomez:
Essa preocupação acerca das " situações patológicas do foro psicológico / psiquiátrico " parece-me bem premente.
Como o é a aparente inoperância dos Conselhos Superiores nesse campo escorregadio da análise psicológica.
Tem valido um certo senso que não é comum, mas deveria sê-lo. E para tal, bastaria que os fenómenos fossem analisados por especialistas em psiquiatria, como também parece de bom senso. Não é através de um relatório de um qualquer inspector encartado e enfeudado a uma perspectiva futura de promoção a COnselheiro que se deve esperar a análise correcta e a avaliação precisa dos desmandos psicológicos notórios em alguns ("que infelizmente parecem estar a aumentar")casos mais aflitivos.
COmo se sabe de um saber de experiência feito, os advogados são muito renitentes em passar da má língua dos corredores e da rua para o actos concreto da denúncia formal. Ficam mal vistos pelos pares e pelos pares dos outros pares e não querem esse odioso nem com adoçantes naturais que são as palavras incentivadoras de quem reconhece a justeza da acção, mas fica de fora...
Assim, ao longo dos anos, vemos passar em ascensão carrerista natural alguns( e algumas, algumas...cada vez mais) espécimes que deveriam andar em tratamento intensivo a ansiolíticos e outros valiuns e em sessões de psicoterapia, em vez de se descomporem em berrarias em salas de audiência, comportando-se como se fossem sobas ou rainhas da selva, perante nativos definhados de vergonha pelo espectáculo a que são sujeitos.
E como diz, caro Gomez, o problema tende a agudizar-se e não há meio de o resolver a contento do senso comum.
Só se resolve se o soba ou rainha da selva em questão, decidir cuspir na sopa do inspector ou afrontar o conspícuo conselho, remetendo-lhe invectivas por escrito. Aí, o Carmo e a Trindade vêm abaixo! Aí, deixa de subsistir qualquer dúvida sobre a sanidade mental do putativo soba ou da entronada rainha do Sabá,e passam à reforma compulsiva ou até à demissão, como já aconteceu.
Porém, há um ditado antigo que esclarece mais e melhor do que um discurso elaborado por qualquer shrink que se preze: " se queres ver o vilão, dá-lhe a vara p´ra mão"
É simples...
Pois é!
Brilhante comentário, caro José.
Aqui venho, de vez em quando, exprimir preocupação.
O José tocou no ponto: falta de coragem, e não de instrução, é o problema central da justiça portuguesa (e do País, já agora...).
Apesar da comprovada imperfeição do regime representativo pré-directo, a corrupção do sistema só se mantém com o pleno vigor actual porque muito poucos cidadãos denunciam os abusos e passam das angústias mudas ou, num nível mais benévolo, dos princípios abstractos aos actos concretos. Se a maioria dos rofissionais, e demais cidadãos, não se disponibilizarem para sair do refúgio do conforto, da inacção e do silêncio (extra-sindical...) perante a degradação da justiça e da promiscuidade objectiva com o poder político corrupto, a situação irá piorar ainda mais.
Salvo os magistrados e advogados bloguistas desta paisagem negra, até porque tenho consciência do risco que envolve a sua expressão pública. A blogosfera portuguesa é um dos raros sinais de esperança de melhoria do País no médio-longo prazo.
Mas não posso aceitar que a comodidade amoleça tanto as consciências, domine as vontades, enviese os discursos, cale os protestos, que se troque a honra e a responsabilidade pela evolução da carreira, vantagem económica e poder.
No meu caso concreto (e já vão dois processos por delito de opinião blóguica...), tenho recebido solidariedades comoventes, que muitos arriscam prestar, mas noto também que o cobertor do silêncio perfumado pelo bafiento tabu é puxado para tapar o horror e a boca é fechada com medo de represálias: advogados com medo de magistrados, magistrados com medo de políticos. Há um receio do poder político real, das associações secretas, dos magistrados e jornalistas cúmplices, mesmo na advocacia (cuja função primordial deve ser a liberdade...)que torna o cidadão responsável num pária da justiça, num queixoso transformado em arguido, numa vítima da arbitrariedade do Estado num culpado do crime de solidariedade democrática.
Estamos num tempo em que o refúgio das vontades se tornou na caverna das consciências e na masmorra da corrupção.
Tal como diz o compadre, eu sou um grande gozão. Mas uma coisa é certa: as minhas pequenas provocações têm pelo menos a vantagem de pôr as pessoas a falar a sério sobre os assuntos. Já é bom!
Quanto ao aniversário, agradeço as amáveis palavras. Mas eu só faço anos no dia 31 e não há festa, cara Tânia.. Espero, mesmo assim, que o dia seja melhor do que foi no ano passado que foi bastante mau. Mas como já completo 45, acho que não vou gostar muito.
Boas férias a quem está de férias e - insisto - não tropecem nos processos... :-)
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