08 julho 2005

Habitação Social no Porto

Ontem, à noite, participei numa reunião que a Dra. Matilde Alves, Vereadora do Pelouro de Habitação Social da Cãmara Municipal do Porto, promoveu com os inquilinos do Agrupamento Habitacional das Antas. Trata-se de um bairro recente, ocupado há cerca de 3 anos. Para além das queixas (muito poucas), relativas a defeitos de construção, que estão a ser resolvidos pelo empreiteiro, verificou-se que os problemas decorrem de falta de educação (ruído em horas de descanso, crianças e jovens que vagueiam pelo bairro sem respeito por ninguém, vandalismo contra equipamentos colectivos, designadamente tubos de queda, contentores, papeleiras, etc., graffitis com textos ofensivos, linguagem indecente, animais soltos, imundície nos espaços comuns). Muitos se queixaram da insegurança e de que a Polícia nada faz. Ora, essas questões não podem ser resolvidas pela Câmara.
Na verdade, não existem hoje instrumentos jurídicos eficazes que, em tempo real, resolvam os problemas de vizinhança e de banditismo juvenil. Os pais demitem-se da sua função e, quando confrontados com as queixas dos filhos, ainda se insurgem contra quem chama a atenção. E é pena que a Polícia não possa fazer nada. Aliás, parece que é proibido instalar câmaras de videovigilância nos espaços públicos do bairro, Esta paranoia da privacidade não ajuda a construir espaços seguros para quem quer viver a sua vida com dignidade. Nós vivemos em democracia; não precisamos de manter os fantasmas do "fascismo". Não há liberdade sem segurança. E precisamos de reintroduzir as medidas de segurança! A resposta criminal é insuficiente.
Admirei a vida de sacrifício de algumas pessoas dos bairros e o estoicismo com que enfrentam as dificuldades. Mas é patente a revolta pela impotência e pela inércia de que acusam os serviços públicos.
Gostei da Sra. Vereadora, apesar de não ser da minha área política. Desde logo, saliento que se apresentou como professora (de Filosofia), o que significa que tem uma profissão. Não vive à custa da política. A sua simpatia e capacidade de diálogo e de decisão foram patentes. E só prometeu resolver o que lhe competia e que podia fazer, sendo certo que se comprometeu a remeter às autoridades competentes as outras queixas (que, afinal, são as mais relevantes).
Fiquei a saber que a Câmara do Porto tem 44 bairros sociais, com 17.000 fogos e 50.000 habitantes.É obra! Mais de 20% da população da cidade vive nos bairros camarários.

3 comentários:

Primo de Amarante disse...

Ter uma profissão é dar testemunho de um saber que é exercido num posto de trabalho e não ter uma licenciatura.

M.C.R. disse...

A video-vigilância não é panaceia. A resposta ao problema da insegurança nos bairros sociais começa por tornar os seus habitantes responsáveis. E uma cultura de responsabilidade assenta desde logo numa modificação das políticas de habitação. Eu preferiria a modalidade de arrendamento livre e progressivo, mesmo que isso signifique, subsidiar idosos com pensões degradadas. Hoje em dia nos "bairros sociais" há de tudo: carros, televisões com ecrãs de plasma, tráficos, contas telefónicas superiores á quantia que se paga de aluguer...
Mais: veria com bons olhos políticas de venda das casas aos habitantes. Parece que foi idsso mesmo o que alguns habitantes do bairro D Leonor sugeriram à Cãmara. há bairros em que provavelmente muitos dos habitantes estariam dispostos a seguir esses caminho. O olho do proprietário pode não engordar o burro, como diz o ditado, mas não há dúvida é que não admite degradação na sua casa nem nas cercanias desta.
No que toca á senhora professora de filosofia nada tenho contra.E nada a favor.Saberá a senhora algo de grestão municipal ou está ali apenas por ser mulher e isso poder, para alguns, significar, especial sensibilidade (coisa que nunca ninguém provou ser real...) para o problema.
Em último lugar, o que me parece extraordinário é haver em bairros uma tal proporção dos habitantes da cidade. algo está mal neste reino que não é o da Dinamarca.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Julgo que a Câmara do Porto é mesmo o maior senhorio do país!
Conto agora um exemplo da vivência citadina que vamos tendo: um amigo morador no empreendimento Villa Bessa, junto ao estádio do Boavista, disse-me que interceptaram uma senhora que levava o filho de automóvel até àquele prédio para que o menino pudesse fazer os seus grafittis. E esta?