06 agosto 2005

Canções de Hiroshima

1 - Esquecimento

pedra por pedra
rosto por rosto
componho o teu nome
hiroxima
grito por grito
silêncio por silêncio
esqueço o teu nome
para sempre

3 - Destruição I

na água
se reflectiram outros desenhos e
ritmos
longamente escritos
na claridade do dia
e a água foi apenas água nesse instante
o dia apenas dia
derramando nos suaves contornos da cidade

4 - Destruição II

um rumor de nada
um rio dormindo sobre a areia
um fruto maduro nas mãos do menino

das mãos do menino
um fruto tombado
menino dormindo sobre a areia
e um rumor de nada de nada

5 - Ódio

um barco navega
de norte a sul
de leste a oeste
com seu carregamento
mas não é de laca
mas não é de bronze
o seu carregamento
um casco de espanto
um leme de medo
um mastro de ódio
eis o carregamento
que mais não tem para dar
o porto de hiroxima
a não ser esquecimento

6 - Reconstrução

hiroxima é de vidro:
silenciosamente retira do mar as ostras que há-de vender.


(in Colectânea "Hiroxima", Nova Realidade, Tomar - 1967)

4 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

Que oportuno e belíssimo regresso Anto!

Silvia Chueire disse...

Ah, que poema ! Gostei dele.

Abraços,

Silvia

Primo de Amarante disse...

Caro Anto: sempre na linha justa. Um abraço.

M.C.R. disse...

Jesus!,,, Há quantos anos, mano!... Há quantos anos...
fui pelo livrinho ma ou anda perdido fora do sítio e vai demorar séculos a encontrar ou pertence ao saudoso ( e enorme) número de livros levados pela "benemérita" nas diferentes razias com que me brindou até 74.
Escuso de dizer quanto gostei. receiio bem é que este meu gosto tenha ressaibos de antigo...
Naquele tempo pavoroso, cada um sabia onde estava, com quem estava e como estava. Isto não são saudades é tão só uma amerga constatação...