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Confirmo: em Portugal há mau jornalismo (nos outros países também). Ainda na semana passada, tive oportunidade de verificar isso, sobre um problema muito concreto que não vem agora ao caso, num jornal de grande expansão. Olhei para "aquilo" e fiquei enojado...
Confirmo também: em Portugal (nos outros países também), os jornalistas e os jornais não gostam de admitir que erraram. Daí a dificuldade com que aceitam coisas tão simples como o exercício do direito de resposta e de rectificação. E, às vezes, era tão simples não complicar...
Confirmo: em Portugal (nos outros países também) há maus aplicadores da justiça. Ainda na semana passada, um tribunal inglês arrasou a justiça portuguesa por causa de uma decisão que envolveu cidadãos britânicos que - disse o tribunal português - eram responsáveis por desmandos durante o Euro 2004.
Confirmo: em Portugal, os magistrados (muitos dos que eu conheço), detestam ter de reconhecer um erro. Já por diversas vezes, informalmente, chamei a atenção de alguns para erros grosseiros que facilmente poderiam ser reparados e ouvi (quase) sempre a mesma resposta, nesse caso invariavelmente arrogante: "Recorra, sr. dr!" E eu recorro. E era desnecessário. E é a justiça que perde.
Não vou ater-me às questões concretas que me levam a escrever este postal, depois de ler a guerra que por aí anda em relação a Tânia Laranjo (nossa leitora e comentadora), e muito menos ao que veio dizer o o António Mesquita que, realmente, não precisava de trazer à liça o que trouxe.
Há uma coisa que eu sei (deixando o AAM de fora): a Tânia Laranjo comete erros como toda a gente. E até pode cometer mais do que qualquer outro, o que é facilmente justificável pelo caudal de informação de que dispõe e que todos os dias escreve. Eu sei o que é isso. Como sei o que é começar a trabalhar num jornal de características diferentes e ter que aprender muitas coisas de novo. Mas há outra coisa que eu sei: a Tânia é uma jornalista corajosa, que gosta de saber o que escreve, que pergunta. E mais: já não lhe basta ter que aguentar a terrível pressão por escrever sobre o que escreve, de ter de ouvir o que ouve por parte dos "maus", e ainda tem que ser crucificada pelos "bons", apenas porque houve alguém que fez um título pouco escorreito?
Já aqui disse muitas vezes que os jornalistas que escrevem sobre justiça não tinham nada a perder se fizessem cursos especializados sobre jornalismo forense. Mas parece-me que há muitos magistrados que não perderiam nada se fizessem um estágio de um mês na redacção de um jornal diário para perceberem como as coisas se passam e para perceberem a angústia dos fechos, o tremor de não se conseguir encontrar uma fonte, o medo de avançar com uma informação que pode não estar completamente filtrada...
A Tânia cometeu um erro? Não vou prender-me a isso. Estou mais preocupado com aquele episódio que relatei aqui há uns tempos, quando fui testemunha num julgamento de abuso de liberdade de imprensa, e verifiquei que estava a falar "chinês", a avaliar pelas perguntas a que fui submetido. Uma situação que também já verifiquei muitas vezes como advogado...
Que tal se nos preocupássemos todos mais com a substância do que com um eventual erro de forma? É que, como jornalista, a Tânia Laranjo andou muitas vezes à frente da justiça em casos concretos. Duvido, aliás, que a justiça tivesse andado se não fossem as notícias dela.
A bem da Nação
(Já agora, vou tentar não esquecer escrever aqui a saga que ando a viver, desde 20 de Julho, de uma queixa-crime que ninguém quer receber, porque é preciso fazer um despacho - simples despacho - para que sejam tomadas providências cautelares de preservação de meios de prova).
5 comentários:
"Erro de forma", amigo carteiro?!?
Aconselho releitura dos comentários ao post em referência!
Realmente não há pior cego do que aquele que não quer ver...
O caro Carteiro na sua boa disposição conciliadora, deixou para trás uma série de questões que merecem alguma reflexão.
Ora vejamos algumas.
Um jornalista de assuntos judiciários e não só, lida com duas ( ou mais)realidades: a do caso concreto da vida que se lhe apresenta e poderá ser contado por quem o viveu directa ou indirectamente e o caso "processado" pelas instâncias judiciárias.
Apesar de a lei protestar um conúbio entre ambas e uma desejável fidelidade à tal Verdade material, o certo é que os mecanismos legais para assegurar tal conúbio conduzem a divórcios cada vez mais frequentes e litigiosos.
Assim, o jornalista vê-se muitas vezes confrontado com a deadline e olha para essas duas realidades que deveriam andar de mãos juntas, mas não as encontra.
Perante a pressa em escrever e publicar, deixa-se muitas vezes levar pela versão de uma das partes ou aproveita o que uma dessas realidades lhe oferece.
Se o divórcio já estiver consumado na prática, o que acontece é uma distorção entre o que é noticiado e a realidade da vida ou a processual.
De quem será a culpa nesses casos?
Do jornalista, em parte e por causa de não ter calma suficiente para confirmar factos, noções e conceitos e perceber o que se passa ou passou.
Também a culpa reside naqueloutras realidades divorciadas.
Às vezes a Verdade material não perpassa nos relatos de quem a viveu e muitas vezes o que está nos processos é apenas uma parte dessa realidade e ainda assim filtrada e mascarada por alçapões e armadilhas legais.
Para entender estes alçapões e armadilhas legais, é preciso saber direito e conhecer instituições e práticas judiciárias. Não há qualquer volta a dar-lhe, neste aspecto.
Porém, o que tenho verificado nestes casos concretos que tenho lido e comentado, é informação fragmentada e muitas vezes ideologicamente enviesada para um sentido político quando não partidário. Este fenómeno torna-se frequente quando as notícias envolvem pessoas de um certo partido político ou uma corrente política.
Ora isto, quanto a mim, é um pecado mortal para um jornalista que deve pautar-se também por uma estrita objectividade. E isso pode acontecer.
Um jornalista que pensa nos assuntos que lhe são apresentados por intervenientes; que verifica os factos e que consulta peças processuais e procura informação técnica sobre isso; que pondera uma notícia, focando a realidade que vê e lhe parece corresponder á realidade objectiva, não deve sindicar-se numa partido político; numa agremiação, seja ela qual for ou fazer do jornalismo um exercício de proselitismo.
Paulo Portas, nesse aspecto, nunca foi jornalista, embora escreva muito bem e os assuntos sobre que escreveu tenham o maior interesse do mundo.
Se o director do Público enveredou pelo caminho do jornalismo de causas e empenhos, sabe-se lá porque motivos, isso só o desmerece na acepção pura e correcta do jornalista.
Se o objectivo do Público, enquanto política redactorial, é "castigar" a PGR ou qualquer outra instituição que lhes pareça merecerem correctivo, isso pode ser tudo, mas jornalismo como eu o entendo, não é!
E mais tarde ou mais cedo, dependendo da maior ou menor correcção das notícias que vão sendo publicadas, isso notar-se-á como uma monumento no meio de um descampado.
Para já, vêem-se claramente as fundações do mamarracho...
Para concluir o que acabei de escrever, tenho que restar aqui uma homenagem a um jornalista que só conheço do que escreve e com quem falei uma ou outra vez: Aurélio Cunha!
Não me interessa pessoalizar e entrar em considerações pessoais acerca de alguém que apenas conheço e prezo da escrita em jornal.
COntudo, tenho que dizer que foiu até agora, um dos poucos jornalistas a quem tirei o chapéu e admirei aquilo que escreveu sobre assuntos judiciários. Parece-me um dos poucos jornalistas que conseguem ver para além do que a aparência das coisas apresenta e consegue distinguir a realidade da vida da realidade processual, principalmente quando estas estáo divorciadas.
Onde pára Aurélio Cunha? No Expresso, julgo. E pára bem, porque o Expresso, por muito que se diga ainda continua a ser o paradeiro do jornalismo de referência em Portugal.
O Público anda cada vez mais pobrinho e contentinho por ser apenas bom. Mas o bom é inimigo do óptimo e o que se tem visto recentemente é um trajecto de caranguejo quando devia ser um percurso de corredor de fundo.
Pena.
Meu caro José,
Ainda de férias, passei os olhos pela polémicazinha que tem animado os espíritos nesta altura do ano. Concordo com muito o que aqui foi escrito e, aproveitando a reflexão do Coutinhou Ribeiro, apetece-me perguntar: "No fundo, não somos (jornalistas e magistrados) iguais?". Já sei que vão aparecer por aqui umas almas a salientar as virtudes da respectiva classe....
EU colocaria um desafio aos senhores magistrados: coloquem-se na pele dos jornalistas e tentem obter informações pela via oficial. Verão a via sacra que é... e a falta de sensibilidade das estruturas para a comunicação social . Às vezes, até o nome do juiz parece estar em segredo de justiça...Ou ligar para um tribunal (já me aconteceu) perguntar o dia da sessão do julgamento (a decorrer "à porta aberta") e obter como resposta: "Não sei se posso dizer isso aos jornalistas, tenho que falar com a minha colega". E assim se perde meia-hora para saber o dia de uma sessão de julgamento.
- Desde há muito que penso que é o próprio sistema que fomenta a cultura das fontes anónimas e como já ouvi dizer a "fonte é sempre interessada" - vamos admitir as coisas com frontalidade. E este debate deveria ser feito, até com exemplos......
Ainda antes das férias, lembro-me que um título meu no DN -"magistrados preparam manif contra governo" - deu tb pra aqui um alarido salutar. Tentei explicar que procurei fazer um título arejado e mais não sei o q....(até pq já n me lembro o que disse). Mas, lá caiu o carmo e a trindade: os magistrados a fazer manif???, indignaram-se. Nunca!, gritou a classe, ofendida com um título no DN. Desde então que notei, exceptuando o José que debateu a questão com a habitual serenidade ácida que muito me apraz, é que os senhores magiustrados andam com uma falta de humor do caraças. A sério: o dia a dia do MP deve ser tão enfadonho que tudo o que parecer fora da norma é logo motivo para um levantamento popular.
O Coutinho Ribeiro explicou já o dia a dia de uma redacção. Portanto, não vale a pena explorar mais.
Bem Hajam.....
Carlos Rodrigues Lima
Erro formal, sim, kamikaze. Tanto quanto percebi da discórdia, o problema do texto de Tânia estava nos títulos que, como elea própria reconheceu, não são da sua responsabilidade. Por outro lado, ele também já me explicou a dinâmica dos títulos no Público (muitas vezes três linhas), bem diferente dos títulos do JN (quase sempre duas linhas). Seria fastidioso tentar explicar aqui o que isso significa para quem esteve anos a fazer títulos de uma forma e ter, de um momento para o outro, de escrever para um tipo de paginação completamente diferente.
Repare: eu próprio fui, em 1987, julgaod por violação de segredo de justiça por um crime que não cometi. Estava de folga, pediram-me um texto sobre uma incidência do "Sãobentogate" que eu ditei por telefone e a chefia de redacção decidiu publicar documentos que eu tinha na gaveta e que estavam em segredo de justiça. Fui absolvido, mas deu um trabalhão.
~...
Quanto ao resto. O que é a objectividade e a verdade, caro josé? Que diferenças entre a objectividade e averdade que se pede, por exemplo a um magistrado, e aquela que se pede a um jornalista. Todos sabemos que a verdade para efeito judiciais nem sempre coincide com a verdade para efeitos de verdade para efeitos de informação. Umas vezes, exige-se mais na primeira, outras vezes exige-se mais na segunda.
Ao julgar, os magistrados têm sempre a seu favor o princípio da livre apreciação da prova. Os jornalistas estão um bocado mais apertados, porque têm de demonstrar, no caso de incorrerem no crime de difamação, que estão a exercer o interesse legítimo e de que confiaram, em boa fé, que as informações que difunfiram eram verdadeiras.
Nem sempre isto acontece. Como nem sempre o pirncípio da livre apreciação da prova é entendível. Por exemplo: ainda recentemente, no acórdão que condenou a funcionária da PGR julgada por extorsão e outros crimes, se podia ler que o colectivo não estav muito convenciod da culpabilidade da arguida. E mais: até lamentou que não tivesse podido lançar os dados para decidir em conformidade com a sorte que daí saísse. Quando li, pensei: Mas se o tribunal tinha dúvidas, por que não aplicou o princípio in dubio pro reo? Repare: eu sou jurista, fraquito, mas cá ando. E se eu próprio não percebi, imagine-se o que terão pensado os que não são juristas?
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Creio, no entanto, que o que verdadeiramente despoletou as críticas à Tânia é a teroria da conspiração. Tanto quanto pude perceber, insinua-se que o Público está ao serviço de um obscuro propósito de prejudicar o PGR. Que diabo! Depois de tanto ouvir dizer que o jornal de José Manuel Fernandes é pró-PSD, agora situam-no na área do PS. Sim, do PS. Então não era o governo que queria a cabeça de Souto Moura? Não havia já subsituto e tudo, que Sampaio não aceitou? Não foi essa a mensagem que a estrutura do MP se fartou de passar? Eu acho qu V. Excias andam um bocadinho com a mania da perseguição...
E falam em jornalismo engajado politicamente e mesmo partidariamente? Claro que há! Eu próprio não me canso de apontar erros a algum jornalismo que se faz, quando o engajamento é tão evidente que até dói.
Fui jornalista alguns anos. A única vez que fui pressionado hierarquicamente para manipular um notícia, fui andando para outra vida.
Mas questiono? Não haverá operadores da justiça engajados política e partidariamente? E será que desses casos concretos poderemos partir para dizer que a Justiça está engajada política e partidariamente?
Honestamente, não sei nem quero saber qual o posicionamento político da Tânia (do AAM por acaso sei, se ainda não mudou). A mim, basta-me que, quando escreve, a Tãnia esteja convencida de que está a escrever a verdade. E creio que tem sido esta a sua linha, mesmo quando erra ou possa ser menos cuidadosa.
Mas isso não basta para fazer dela uma ponta de uma conspiração.
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