Tenho andando arredio do Incursões, eu sei. Estive, um destes dias, para intervir na discussão que por aqui se estendeu sobre o "mau jornalismo", mas, como não o fiz logo, depois esqueci-me. E, agora, também não me apetece, que é coisa já do passado. Embora eu saiba que a tensão devia permanecer por muito tempo, porque não é coisa que se arrume com meia dúzia de comentários num blogue.
Há um ano, por esta altura, estava muito mais activo. Preocupado - demasiado preocupado - e um tanto instável - a incerteza de férias -, fui ficando por aqui, a tapar os buracos de postais que nunca apareciam, só ultrapassado pela inesgotável kamikaze.
Mesmo quando fui de férias e a kamikaze também estava, fomos colocando por aqui histórias simples, postais de viagem. Creio que, às vezes, falávamos praticamente um para o outro, embora ambos soubessemos que LC estava atento e lia, mesmo quando não dava sinal de si.
Se este ano tenho andado mais arredio, não significa que tenha perdido o prazer de escrever por aqui. Ando é mais ocupado. Como é que fui lembrar-me daquela empreitada de criar o Marco2005, coisa que começou por ser apenas uma brincadeira, mas, que - imagine-se! - ontem teve mais audiência que o próprio Incursões? O que significa que os leitores do Incursões estão mesmo de férias e sem paciência para blogues, o que é justo. Eu é que sou parvo!
Bem. Criei o meu monstro e agora tenho que alimentá-lo. O que tem sido uma tarefa árdua, mas sem dúvida gratificante. Raios! Eu e esta minha maldita vocação para arranjar a toda a hora coisas que me gastam o tempo...! Qualquer dia começo a pensar em mim. Ora. Esta ameaça já foi feita por várias vezes. Já nem eu acredito.
10 agosto 2005
Olá, então por aqui...
Postado por o sibilo da serpente
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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2 comentários:
Caro carteiro:
Espero que não desista da intenção de escrever algo sobre jornalistas e jornalismo...
Para o estimular na vontade da descrita, deixo aqui um texto que escrevi há já três anos, num outro sítio - o do MEC- sobre uma reportagem e um comentário do Miguel Esteves Cardoso( o "nosso doutor") ao autor.
"O nosso doutor disse numa resposta ao maradona, sobre uma reportagem “de guerra” de 1990, sobre Moçambique, de Fernando Dacosta que este era um palerma por – segundo entendi – ser capaz de esvaziar toda a realidade, com a sua maneira de escrever.
Sendo assim, pus-me a ler a reportagem que vem no jornal Público de hoje 14.8(2002) e que tem sequela amanhã.
Não fui capaz de detectar no escrito grandes palermices desse género, confesso e assumo desde já a minha insensibilidade.
O que eu li foi um certo exercício de estilo que é próprio ao FC, desde há muitos anos: factos misturados com pretensos estados de alma do autor e que é admissível questionar se serão susceptíveis de acrescentar ou tirar algo ao panorama que também é apresentado com algum rigor e objectividade. A mim, não tiram nem acrescentam. São apenas floreados ou “foguetes estilísticos” se assim quiserem. Em suma, fazem parte do estilo e “ o estilo é o homem”.
Pode pegar-se no artigo, velho de mais de doze anos, e respigar-se aqui e ali exemplos desse barroquismo de sentimento avulso e indiferente ao relato: “Todos nos fitam, nos trespassam. A sua agonia, a sua tristeza passam para nós – nós podíamos ser eles”. “ Os bebés não choram, os jovens não riem. Um silêncio profundo nasce da terra, imobiliza-se nos rostos. O despojamento da natureza iguala-se ao dos corpos, o sofrimento é um paralisia acre nos olhos, na respiração.” “Forças mágicas muito fortes derramam cálices de infinita amargura, como em provação monstruosa antes da vinda da luz”.
Tais mimos estilísticos não diminuem a força dramática do relato, a meu ver. Se me perguntarem, também não direi que adoro esse estilo de escrever, mas não me é detestável.
Assim, parece-me legítima a pergunta: saberão os jornalistas escrever? Relatar acontecimentos para além do que se pode ler nos dispatchs das agências de notícias?
Mais: deverão os repórteres por a sua alma ou o que é suposto sê-la, a descoberto dos leitores, através da “publicitação das emoções perante o visionamento das desgraças deste mundo?”
Por exemplo, como é que um repórter deveria relatar o que aconteceu em Jenin se lá estivesse quando tudo aconteceu e fosse testemunha dos factos?! Eu vi um tipo na televisão cujo nome agora não me ocorre a relatar emoções, emoções e mais emoções; factos, poucos; e não gostei nada porque não fiquei informado.
Como é que um jornalista deve relatar uma tragédia a que lhe foi dado assistir, mesmo a posteriori e já com cadáveres á vista?
Deve relatar o que vê e deixar-se de comentários pessoais sobre as emoções que isso lhe provoca ou pelo contrário deve também dizê-las? E nesse caso, como fazê-lo? Em exercício de estilo mesmo correndo o risco de esvaziar de alguma forma o acontecimento, adornando-o para além da sua crueza?
As perguntas ficam aí. Como há por aqui vários jornalistas, sempre quero ver o que dizem sobre isso, se tiverem coragem."
Olá amigo carteiro,bem aparecido, mesmo que seja para dizer que não tem tempo para aparecer...:)
E parabéns pelo sucesso do Marco 2005, aliás bem merecido.
Já agora: olhe que há um ano, se poucos eram os que por aqui escreviam posts, leitores e comentadores não iam faltando. Este ano há que ter em conta que muitos aficionados estarão a gozar, pela 1ª vez (eh eh eh) umas férias a sério!
Felizmente para os aficionados há quem use algum tempo dessas férias para incrementar a sua participação nos blogs :)
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