12 agosto 2005

QUEBRA-LUZ

Desconfio dos poetas
que falam muito de luz, das
manhãs e das árvores
na sua obsessão hospedeira
de frutos aves e
folhas. Desconfio dos que cantam
lareiras e vozes mansas, tentando
apaziguar o poema com a sua
indústria de incensos. Eles
encenam como velhos profetas
tardias formas de beleza
extinta – e fazem do verso
um ritual nado-morto
de pequenos afectos,
indiferentes à faca
incandescente que separa
o corpo das palavras
da substância do mundo.

Inês Lourenço

in Logros Consentidos

& etc - Março 2005

1 comentário:

Silvia Chueire disse...

O poema é belíssimo!


Silvia