23 setembro 2005

Au Bonheur des Dames nº 9

a angústia, o nojo, a cólera

1. O 11 de Setembro já lá vai mas convém não esquecer que, se esse dia significa a infâmia das Torres Gémeas de Nova Iorque, foi também a 11 de Setembro de 1973 que um exército miserável comandado por um bando de assassinos se revoltou contra o poder legítimo e depois de matar Salvador Allende e centenas de pessoas que o tentavam defender estendeu sobre o Chile um espesso manto de ignomínia, tortura, morte e terror que se traduziu num impressionante número de mortos, desaparecidos e exilados.

2. Uma criatura de nome Fátima Felgueiras terá cometido varios delitos. Fugiu para o Brasil quando ia ser presa. Alguém, um magistrado?, tê-la-á avisado da detenção iminente. A populaça de Felgueiras celebrou-lhe a esperteza e troçou dos poucos que ousaram respeitar a ordem do tribunal e melhorar a degraçada imagem da concelhia local do PS. Está na memória de todos o calvário de Francisco de Assis, percorrendo corajoso, agredido e insultado as ruas daquela espécie de terra mafiosa.
Agora a prófuga criatura regressa e uma senhora juiza entende, no seu alto critério, que a uma fugitiva que desafia os mais elementares princípios da democracia e da liberdade (para já não falar no respeito às leis) que basta que a senhora fique proibida de sair do país. A populaça regouga de contentamento pelo regresso da sua recauchutada "presidenta".
O MP ameaça recorrer: façam o favor mas não se esqueçam que quem foge uma vez foge duas...

3. O senhor primeiro ministro entende que deve, em plenário parlamentar, dirigir-se ao senhor chefe da oposição numa berrata excitada e avinhada, solicitando-lhe "uma ideia, uma ideiazinha..." Sexa que praticamente não foi ao parlamento nunca como chefe da oposição esquece duas pequenas coisas: a primeira é que o chefe da oposição não é obrigado a dar-lhe ideias, ideiazinhas ou outras baldas para o seu balofo plano; a segunda é que virando o discurso para o tom arruaceiro e de tasca não dignifica o parlamento, não dignifica o adversário e muito menos se dignifica a si próprio.
Sexa no meio disto esqueceu-se de ser educado. Não tomou chá em pequeno e agora, se calhar, já é tarde.

4. O senhor primeiro ministro, também disse que as actuais "reformas" são prova de grande coragem política tanto mais que há eleições á porta. Para quem atacou tanto Ferro Rodrigues que por acaso salvou o PS de uma derrota memorável numas legislativas, venceu umas europeias brilhantemente com o melhor resultado de sempre e deixou o PS já em clara vantagem nas sondagens quando se demitiu, convem agora lembrar que tem de mostrar alguma coisa nestas autárquicas. Pelo menos nas grandes e médias cidades onde o voto é mais político do que local. Caso a coisa dê para o torto seria bom que se lembrasse do exemplo de Guterres. Ou seja: quem perde eleições vai dar umas volta ao bilhar grande. Para quem não percebe a expressão isto quer dizer: demite-se. Estas autárquicas são cruciais como prova de fogo política.

5. Os boys ( ou bois?) vão-se instalando tumultuosamente nos lugares públicos. Assim se lhes paga o vivório eleitoral de há meses. A obediencia cega, pingue prebenda. A coisa já não espanta, e dificilmente indigna mais que uma dúzia de paroquianos. O signatário já escaldado por anteriores andanças do mesmo teor apenas pediria que a manada de boys (ou bois?) tivesse a decência de ser já não digo modestos mas apenas comedidos nas suas relações com a paisanagem. Não são. A nóvel importancia de que estão revestidos sobe-lhes ao crânio num arroto e zás! Aí vai disto.
Cada vez que me lembro que enquanto eles assobiavam para o lado, eu andava fugido ou estava preso até me dá vómitos...

6. Fernando Fernandes, um dos grandes livreiros que este país conheceu e de que o Porto e arredores desfrutaram durante quase 50 anos na "Divulgação" e depois na "Leitura", retirou-se definitivamente das lides. Hoje a minha "leitura", a minha "divulgação" vício de quarenta e sete anos e quinze mil livros nas estantes cá de casa, está mais pobre, A saída do Fernando é uma metáfora do país, se isto ainda merece esse qualificativo...

7. a Santa Casa de Misericórdia de Paços de Ferreira já tem uma comissão administrativa nomeada pelo bispo da diocese que, entretanto, num decreto, removeu a anterior mesa suspensa pelo Tribunal e que até hoje estava substituida por este vosso criado. Ou seja já posso voltar ao convívio dos meus amigos bloguistas. Que bom!

2 comentários:

António Conceição disse...

"um exército miserável comandado por um bando de assassinos se revoltou contra o poder legítimo e depois de matar Salvador Allende e centenas de pessoas que o tentavam defender estendeu sobre o Chile um espesso manto de ignomínia..."

Ex.mo Senhor,

Que Pinochet não é personagem que se recomende, parece-me evidência só carecida de demonstração para quem ignore a História.
Que Salvador Allende era um homem de boa vontade também me parece pacífico, embora eu não subscreva nenhuma das suas ideias políticas.
Isto dito, para aviltar Pinochet e exaltar Allende não são necessárias falsificações históricas. Pinochet não matou Allende. Este suicidou-se no seu quartel general.
Dir-me-á que que suicidou por causa de Pinochet e que, em todo o caso, se não se tivesse suicidado, teria sido assasinado por Pinochet.
Concedo que possa ser assim. Mas não é a mesma coisa. Veja, por exemplo, que numa situação politicamente simétrica, ninguém diz que os russos mataram Hitler.
E Allende não precisa de mentiras, para ter tido uma morte que o enobrece aos olhos de quem, mesmo não partilhando a sua filosofia, lê os fatos com isenção.

josé disse...

Ora, seja bem reaparecido, caro M.C.R.!

A Divulgação foi a primeira livraria cá de uma pequena cidade que conheço bem. FOi aí que me iniciei no parzer de folhear livros e revistas. Primeiro, com volúpia frustrada pela falta de dinheiro. Depois, com os pequenos cobre amealhados das ofertas familiares em dias de festa e em esportulações paternas bem mendigadas, fui apreciando melhor o universo das leituras adquiridas para colecção. Das leituras emprestadas pela biblioteca Gulbenkian, com imersão em Salgari e Dumas, parece que até já falámos.
Comecei assim, e salvo erro, a minha colecção, pelos almanaques:Bertrand; Século e até um das Selecções do Reader´s Digest, em brasileiro e a custo estrategicamente colocado na fasquia dos 99$00. Foi em 1970 e tinha 13 anos.
Depois, o grande momento de happening cultural existencial, acontecia na feira do livro. A primeira que frequentei foi em Maximinos, Braga. Fantástico mundo de papel e letras, com promessas de leituras de sonho.
O que me atiçou o espírito nessa altura, foi a história da II Guerra Mundial. Os feitos de Monty e Rommel; de Patton e Jodl. E de muitos outros, no dia D.
O livro, de André Latreille, era da Aster.Em 1971. E não havia muitos mais, pois a edição da Europa-América, em vários volumes e que durante vários anos me despertou a cobiça espiritual, só apareceu depois.

Hoje, temos livros, revistas, fasciculos, dvd´s, reproduções em miniatura dos tanques, aviões e barcos da época e temos o inesgotável filão da net, em google vertiginoso.

Pergunto: porque será que com toda esta informação disponível, se sabe cada vez menos destas coisas?!

Outra pergunta:

No célebre almoço-convívio no Tromba Rija, chegamos a falar num livro de história, editado em português e que romanceia historicamente, uma dada época da Idade Média baixa, quase a entrar pela Renascença adentro.
Lembra-se de tal livro?
A resposta não é para mim, mas sou obviamente interessado.

Obrigado.