02 setembro 2005

A devastação que pode mudar o mundo?

Os efeitos devastadores do furacão Katrina no Sul dos Estados Unidos, e em particular em New Orleans, mostraram-nos uma face desconhecida deste país. Não me refiro tanto às consequências climatéricas do furacão, mas sobretudo à reacção das autoridades no terreno e às operações de socorro e salvamento.
É certo que as imagens televisivas mostram-nos uma cidade e uma região destruída pela água, pelos ventos fortíssimos e pelas suas consequências, mas custa compreender como é que os EUA – a superpotência mundial, com capacidade para intervir em todo o planeta – não têm meios de reacção mais eficazes perante a tragédia. Há provavelmente milhares de mortos e de desaparecidos e milhões de desalojados, a destruição e o caos são gerais, as pilhagens alastram-se, há uma verdadeira desestruturação social, um colapso total. Levará muitos anos até que aquela região volte a ser o que era.
Lê-se hoje que a NATO já se disponibilizou para ajudar e que a União Europeia pode ceder as suas reservas de petróleo aos EUA. A grande lição que se pode retirar é que, perante uma catástrofe desta dimensão, não há superpotência alguma que, sozinha, possa sair do abismo.
O povo e os dirigentes americanos, da forma mais ingrata e trágica que se poderia imaginar, são confrontados com uma realidade para a qual não estavam preparados (poderiam estar?) e vêem-se na contingência de ter que pedir auxílio a outros países. Serão suficientemente humildes para perceber que a paz e a cooperação internacionais precisam dos EUA tanto como os EUA precisam, agora, da ajuda de outros países e organizações?
Haverá condições para que a devastação que se abateu sobre uma parte dos EUA seja o toque a rebate em muitas consciências daquele país, contribuindo para um novo posicionamento dos EUA na comunidade internacional? Teremos, a partir daqui, um país menos egoísta, menos individualista, mais determinado na concertação internacional e na cooperação?

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