13 setembro 2005

Jornal de Negócios, hoje...

Tribunais e quartéis: close
.
Os senhores militares dominam o assunto, conhecem muito bem o tema dos «direitos adquiridos». Fizeram, aliás, uma revolução em Abril de 1974 por causa disso. Foram os militares que nos libertaram do regime antigo e acabaram com todos os direitos adquiridos que a sociedade de então mantinha.
É mais do que legítimo, portanto, devolver-lhes a questão. E lançar o desafio: quem está disposto a liderar uma outra revolução para acabar com os direitos adquiridos deles? E com os dos senhores juizes, magistrados e funcionários judiciais?
Não é Marques Mendes. Não é aquele senhor que substituiu Portas e não recordo o nome. E desengane-se quem espera resposta da esquerda. Os presidenciáveis Louçã e Jerónimo, sempre «anti» tratando-se de fardas, estão indignados, por não deixarem as Forças Armadas desfilar em paz.
E, muito provavelmente, não será também José Sócrates. Que foi tão valente a enfiar as duas mãos em todas as colmeias habitadas por estas «comunidades», como incapaz de aproveitar a oportunidade para mobilizar a nação para algo que ela há muito perdeu: um rumo. Um simples rumo.
Assim, parece a Costa do Marfim. Podia também ser o Ruanda, quando a instituição militar desafia a autoridade de um Governo e convoca todas as armas, do activo e reservistas, para as ruas.
Também afigura-se a uma qualquer República da América Central, onde os próprios órgãos de soberania se mobilizam para greves. Agora os tribunais, os juízes. Depois quem se segue? O Presidente da República pode fazer greve?
O que irrita não é ver esta gente aos berros. Não é ver o Governo isolado. Nem é confirmar a falta de senso e responsabilidade dos Mendes e associados. Nem sequer assistir com estupefacção a esta decadência institucional, a absoluta falta de respeitinho pelas autoridades democráticas.
As pessoas perderam o sentido da nação, mas isso não irrita. Preocupa, angustia, desilude. Mas não irrita. O que irrita são os motivos desta crise. Tudo o que está na origem deste ambiente, em que cheira a fim de regime. A Armada em passeata. Tribunais fechados. Sem lhes assistir a razão. Militares e agentes da justiça.
Por mais que desfilem de braço-dado com Louçã, por mais comícios que Jerónimo dedique em defesa dos seus «direitos adquiridos», os senhores militares não têm causa alguma. E mentem descaradamente, quando dizem estar a defender a dignidade da instituição militar.
Treta! Estão a defender a vidinha que os contribuintes lhes garantem - uma vidinha, diga-se, que os contribuintes gostariam mas o país obviamente não permite.
Há 31 anos lideraram um golpe para conquistar a liberdade. Agora ameaçam o regime para não pagar a conta da farmácia ou ir para casa, com salário completo, ainda antes dos 50.
Também a anunciada greve geral na Justiça não é justa. Viu-se coisa igual em 1988. Ano em que Cavaco os sossegou, criando um impraticável regime especial. O mesmo que Sócrates está agora, quase vinte anos depois, a eliminar.
E porque a maioria dos portugueses, os tais contribuintes, não percebe e não apoia o Governo? Porque em vez de lhe ter explicado que era justo, apresentaram-lhe isto no pacote das medidas contra o défice! O povo quer um rumo e deram-lhe um disco riscado.
.
Sérgio Figueiredo

4 comentários:

josé disse...

Um problema comum a este tipo de jornalistas tem a ver, parece-me, com um grande défice ( palavra que eles percebem bem) de formação em humanidades, particularmente na história das instituições, e até no direito constitucional e administrativo em geral.
Nada que um curso acelerado de seis mesitos não pudesse resolver. E teríamos então outro tipo de escrita que não atentasse de modo tão grosseiro contra "os militares"; " os magistrados" e tutti quanti que não siga cegamente, por falta de frequência, as teorias do liberalismo neoconiano.
Assim, a liberdade de expressão também é a liberdade de escrever disparates, como os que se lêem.
Ainda bem. Outros poderão dizer o mesmo deste comentário.

josé disse...

E talvez valha a pena ler o que por este sítio se tem escrito a propósito do "subsistema" de segurança social dos jornalistas.

Há pessoas que às vezes vêem argueiros alhures e descontam as traves que se lhes atravancam à frente.

Mas não é isso mesmo o liberalismo?! Essa facilidade de passar pelos problemas sociais como a leveza do colibri?

xavier ieri disse...

De como se comprova que ainda há quem ande a Leste em matéria dos problemas da justiça.
Caro Sérgio Figueiredo,
O que os magistrados querem, não são bebefícios ou a manutenção de "direitos adquiridos".
Os magistrados apenas querem é poder desempenhas as funções para que foram nomeados, de um órgão de soberania, com dignidade.
Querem meios técnicos e humanos que lhes permita alcançar uma justiça em tempo útil.
Querem poder ter uma vida normal, com o mesmíssimo tempo que toda a gente tem para a sua vida privada, para os seus familiares.
Querem uma legislação que sirva efectivamente os cidadãos e as instituições.
E, certamente, não querem, nem admitem, ser tratados pelo poder executivo como se de madraços se tratasse.
Exigem respeito.
O problema aqui (justiça) é só um: Político. Não de gestão da coisa pública.
Quem verdadeiramente tem a faca e o queijo na mão é o Governo.
E quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte.
Estes, os do Governo,têm a arte de ficar com a parte de leão e é esta: "Portugueses, nós somos os salvadores da pátria e vamos acabar com os sangessugas madraços".
Fiquei, nessa altura, cheio de esperançaq e até disse: "Bem, é agora que as clientelas partidárias,os afilhados, os inúmeros gestores públicos (perdoem-me os verdadeiros gestores) que não se sabe o que gerem, e toda a cambada que mama à grande nas tetas do imenso úbere do Estado, vai à vida"..
Viu-se.
Afinal, a pior parte fica a caber a todos os outros que não aos detentores da faca e do queijo.
Aos magistrados coube a fatia correspondente ao madracismo parasitário, apodo que resulta das claras declarações do respectivo ministro quando pariu uma caganita como solução para um problema que desconhecia e quando se esperava que verdadeiramente viesse solucionar algo.
Daí o milagre da multiplicação das sentenças pela redução das férias judiciais.
Eu bem sei que a nossa tradição cultural enraiza na cultura judaico-cristã.
Mas daí ao revivalismo milagreiro da multiplicação das coisas por obra e graça do Espírito Santo vai uma grande distância, não acha?

(Caro amigo, não leve pessoalmente a peito isto que lhe disse.
Tenho dias...
Hoje saiu assim.
Mas sem ofensa).

Gato_Maltez disse...

Pena que o senhor jornalista não tenha conseguido perceber aquilo que realmente se passa na sociedade portuguesa...

Eu sei que não é fácil...

Posso dar-lhe uma sugestão? Comece a ler jornais - não que sejam uma referência, infelizmente não o são - e tente perceber que a História é também composta por pessoas comuns sem esses nomes todos que deve ter num auto-colante, nomeadamente os Louçãs e companhia...(sem ofensa aos visados).

É decerto muito jovem para perceber que foram os miltares quem durante décadas sustentaram o antigo regime e deram a vida pela Pátria, independentemente da respectiva filosofia de regime...

Pense também que há pessoas nos Tribunais - Magistrado e Funcionários - que frequentemente trabalham bem para além das horas normais de serviço, com manifesto prejuízo da sua vida pessoal...

Pense que os Magistrado são provavelmente a única classe que são inspeccionados e sujeitos a uma rigorosa selecção para ingressarem na Magistratura...

Poderá ainda pensar que os Magistrados não fogem ao fisco, ao contrário de muitos outros...

Mas, acredito que já sejam variáveis a mais para a sua cabeça...

Pela demagogia fácil até poderia cair na tentação fácil de comparar os Magistrados aos Jornalistas, mas não lhe dou esse privilégio, pelo que lhe peço desculpa.

Recomendo-lhe a frequência de um curso ainda não referido pelos anteriores comentadores, embora reconheça alguma dificuldade em lhe recomendar um estabelecimento onde o possa frequentar, pois que o curso se chama VIDA.

Tenha um bom dia...