Hoje de manhã apareceram-me lá dois agentes da GNR, graduados. Um deles falava; outro ia tomando notas. Sugeriram que eu fosse para a Assistência Social, ali estaria bem, eles conseguiriam isso.
Imaginas-me numa sala a ouvir velhos (os que falam, que os outros babam-se) à espera do almoço?
Passei quase toda a minha vida por universos concentracionários: o internato do colégio Luís de Camões, na Beira, em Moçambique; a Casa da Reclusão que significa “prisão militar”; hospícios, o de S. João de Deus em Barcelos; o de Miguel Bombarda em Lisboa.
Os agentes disseram-me que voltavam para me persuadir.
À saída digo-lhes: “encostem a porta, por favor”.
De repente, ocorreu-me uma fábula de Esopo (grego que foi traduzido pelo fabulista francês La Fontaine) e chegou até nós por Bocage. Um lobo passa, com as costelas salientes, nos flancos, por um cão de pêlo muito luzidio. Diz-lhe o cão: “Tu escusas disso, pá!”. O lobo ouvia. “Tenho ali a casota para me abrigar da chuva; refeições e as festas dos filhos da casa que gostam de mim”.
O lobo reparou numa depressão que havia à volta do pescoço desse cão, no pêlo.
“Que é isso, pá?”
“É da coleira ...”
“Ora, ora ...”
Sebastião Alba (Dinis Albano Carneiro Gonçalves) morreu em 14 de Outubro de 2000 (http://web.ipn.pt/literatura/letras/machad18.htm; http://www.macua.org/livros/sebalba.html)
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