sobre o inverno
andamos pelo mundo sem luvas. vem o inverno e faz frio.
nosso corpo estremece, as mãos enregelam-se e um par de luvas é um sonho.
é possível que as calcemos e não percebamos que estão apertadas? enganamo-nos ou com as mãos ou com as luvas, mas é inverno e faz frio.
o amor pode ser um par de luvas?
silvia chueire
01 novembro 2005
reflexão - não jurídica - para uma segunda feira
Marcadores: filosofando, Sílvia Chueire, vária
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3 comentários:
O inverno é um pouso triste e as luvas o mistério dos claustros. Ler poemas com luvas no inverno é sentir desvendar o mistério do despertar da primavera
Eu gosto do inverno. Lembro-me de alguns na minha pequena cidade natal com o mar embravecido a varrer a praia, o gelo a aparecer em pequenas poças de água, as luvas, claro, as luvas e o cheiro de castanhas assadas, intenso. E o gosto das castanhas piladas. Alguem me diga se ainda há castanhas piladas. E as noites longas recheadas de histórias contadas pela minha avó Aldina, a rainha das contadoras de histórias, que morreu no inverno numa véspera de Natal, deixando atrás um rasto de alegria, que ela, mesmo aos 97 anos, não era mulher para tristezas nem queria gente triste à sua volta.
No Natal aparecem as melhores laranjas, as passas de figo, os pinhões. Haverá melhor tarefa do que agarrar numa pinha bem cheia e tirar-lhe os pinhões, amável montinho que se comerá depois?
É no inverno que de repente as acácias começam a deitar flor e anunciam a primavera. Perdi esse sentido velho de Natal nas Africas onde o natal é quente e as pessoas comem camarão grelhado em vez duma farta bacalhoada com todos e de rabanadas.
E a matança do porco, as primeiras febras, os enchidos que vão para o fumeiro, ainda me lembro de idas a Lisboa careegado de alheiras para casa do Fernando Assis Pacheco e fazermos belos jantares, com o João Rodrigues á ilharga, e o Fernando a "descabaçar" umas botelhas de um vinho magnífico para acompanhar aqueles festins pantagruélicos de que as alheiras feitas em casa com todos os matadores, eram só o pretexto. É verdade que o Fernando morreu nos fins do Outono e que o Pedro Sá Carneiro nos fins de Janeiro, mas morre-se em todas as estaçõese a culpa não é do frio fininho , das chuvas ou duma pouca de neve e granizo. Morre-se porque se nasceu, como diz o velho provérbio bantu, e o inverno não tem nada com isso, Para quem tem roupa que chegue o inverno é confortável. Para o desgraçado nem o dis de S.João é bom.
Ó Sílvia, desculpe lá, mas foi o compadre Esteves que me atirou para isto. Um beijo.E saiam mais poemas destes.
O Natal para mim deixou de se tornar uma festa. È um dia que lembra territórios donde partiram sem dizer adeus familiares, amigos, muitos amigos. Se pudesse saltava este dia e até o mês!
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