19 dezembro 2005

da impossibilidade



há tanto além das palavras.
tanto dentro e fora e em tudo que nos cerca.
corrente subterrânea de pensamentos,
rio invisível de pulsões,
abalos que galopam ondas
ou subitamente acalmam-se.
a ordem do mundo perfeita.

há um mundo de atos e sítios
de escandalosa beleza
que não se consegue escrever.

há um mundo cruel,
para o qual emudecemos.
não que sejamos mudos ou cegos
mas porque nos arranca as palavras,
é dor inclinada sobre nós
que só sabemos perguntar porquê.

há tantas coisas além do poema,
da tentativa de traduzir em palavras
a impossibilidade delas.

rolamos nosso parco talento
na insônia opaca de todas as noites.


silvia chueire

2 comentários:

Primo de Amarante disse...

O poema é lindo. A poesia tem sempre de deixar espaço para o silêncio. Não é com silêncio que se sente a poesia?!...

Silvia Chueire disse...

Sim , é com este silêncio.
Obrigada, compadre.

Abraços,
Silvia