13 dezembro 2005

A Galiza a puxar pelo Norte de Portugal (II)

No seguimento do que aqui escrevi no mês passado, assisti há dias na TV Galicia a um debate no parlamento galego sobre a importância (para eles…) da ligação ferroviária entre Porto e Vigo, seja o TGV ou a alternativa do comboio de velocidade elevada. Participaram no debate o presidente da Xunta, Emílio Pérez Touriño, e os principais deputados de todos os partidos aí representados.
Assistindo àquela discussão do lado de cá da fronteira, não pude deixar de comparar o interesse estratégico colocado no projecto pelos responsáveis galegos e a incapacidade dos políticos portugueses em compreenderem a lógica territorial subjacente a uma política de investimentos estruturantes para esta região Galiza/Norte de Portugal.
Lamentavelmente, tudo aquilo que foge da órbita do Terreiro do Paço é demasiado excêntrico para ser levado a sério por aqueles que dominam os corredores do poder.

4 comentários:

M.C.R. disse...

Caro JCP
Tivessem os trasmontanos e os da Beira interior defensores como V. e as coisas de certeza teriam hipóteses de ser melhores.
Permita-me, contudo, que reflicta consigo (não sou grande companhia mas há pior) neste tema ferroviário.
Penso, à partida, que o que existe, aquela linha para Vigo, é uma anedota. Necessita de absoluta melhoria, claro. Não estou lá muito certo que a "alta velocidade" seja solução. Ao que sei é caríssima, o investimento é irrecuperável e o retorno em passageiros não cobrirá sequer as despesas de manutenção. Além do que os preços não irão dissuadir as pessoas que usam automóvel.
Portanto o que julgo ser de interesse é estudar uma linha dedicada às mercadorias e que ofereça como sub-produto um transporte decente de pessoas.
Entretanto, e para contrariar algum ruído portugu~es, sempre direi que a linha interessa muito mais aos galegos (até politicamente...) do que a nós, portugueses do norte. A relação de troca é melhor para eles e a linha acentuará a centralidade de Vigo e não a do Porto. E isto, Caríssimo JCP, não é falar à Terreiro do Paço. Antes fosse...,antes fosse.
Um abraço

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Caro MCR, eu não tenho certeza de nada (safa!). Mas custa-me imenso ver um país virado excessivamente para o seu umbigo – leia-se para a sua capital. A macrocefalia não favorece um desenvolvimento harmonioso e estruturado. Parece que Portugal é a Lisboa e a Ota e o resto não conta.
Para a Grande Lisboa não se discute números. Ainda ontem os jornais davam conta de uma derrapagem de não-sei-quantos milhões de euros no metro para Odivelas e…não se passa nada. Fosse o desvio cá em cima e caía o Carmo e a Trindade. Sócrates apresentou (?) ontem o projecto do TGV e ainda não se sabe se o comboio para o Porto sai pelo Norte ou pelo Sul. Cá por mim, estando em Lisboa não há como ir comer um peixinho a Setúbal antes de vir para o Porto!
Meu prezado amigo, não tenho as contas do TGV ou da alternativa em velocidade alta para Vigo, mas parece-me evidente que é fundamental ligar a orla costeira do noroeste peninsular com meios de transporte modernos, eficazes e rápidos. O eixo Porto-Vigo-Corunha ficaria desse modo ligado às redes europeias, com evidentes vantagens para o turismo e a economia desta região. É claro que a falta de visão e de concertação de estratégias entre os nossos decisores não ajuda. Se Carlos Lage, presidente da CCDRN, vem dizer que a ligação ferroviária a Vigo é fundamental e se Valentim Loureiro, ainda presidente da Junta Metropolitana do Porto, diz concordar com o adiamento dessa ligação, quem está em Lisboa rebola de riso e quem está na Galiza deve achar que por cá somos todos parvos.
Ainda a este propósito, o “Público” de hoje dá conta da vontade dos responsáveis da comunidade de trabalho Bragança/Zamora em garantir uma ligação rodoviária que “desencrave” as duas regiões transfronteiriças e as ligue aos eixos principais de Portugal e Espanha. É mesmo isto que eu defendo: desencravar o país e as regiões mais desfavorecidas e alavancar aquelas que demonstram ter potencial endógeno de desenvolvimento económico e social.

Caro MCR, como sei que aprecia a Galicia de Rosalia de Castro, digo-lhe que no último fim-de-semana lá ”marchou” uma mariscada em Baiona e fui aviar a receita de uns puros a Vigo. Mesmo sem TGV!

M.C.R. disse...

Em relação ao último parágrafo: ah seu grande malandro!

as minhas observações a respeito da alta velocidade versus TGV nãpo eram para envenenar a conversa mas tão só para pôr algumas oerguntas úteis. V. agora ( e bem!) fala-me do eixo Porto Vigo Corunha que é o que está mais conforme apesar de poder aumentar a centralidade de Vigo em relação ao Porto. De todo o modo penso que o interessante será sempre o eficaz transporte de mercadorias, uma lógica que foi abandonada em toda a parte. Ora para escarmento de muitos está já a projectar-se uma travessia da França em caminho de ferro para transportar os TIR que atravessam a França. Até que enfim!
É uma boa notícia essa de Bragança Zemora. A ver vamos se Guarda Salamanca e Castelo Branco cáceres também se desemburram.

Um dia destes eu ou alguém amigo porá em linha uns textos sobre a capitalidade das capitais.
As capitais, caríssimo fumador de puros, são sempre capitais e para isso puxam tudo.

blábláblá disse...

José - excertos deste postal:
http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2005/12/o-poder-o-querer-e-o-mandar.html

"Ontem, na TV pública, discutia-se a opção governamental pelo grande obra que é o TGV. De Espanha, veio uma reportagem quase lourinha, a tecer loas à velocidade em grande.
No estúdio, o responsável do Ministério respectivo: Mário Lino. O qual aceitou debater com o responsável por ideias económicas peregrinas já adoptadas pelos socialistas no antigamente e talvez no presente : José Silva Lopes.
O debate, a bem dizer, nem existiu. Silva Lopes, cortou logo cerce qualquer veleidade, ao dizer que não faz sentido um investimento de milhões e milhões, para se ganhar uma hora na viagem de comboio de Lisboa ao Porto. Aliás, também disse, convencendo qualquer céptico que não seja ministro deste governo ou se chame Vital Moreira, que uma melhoria nas linhas existentes, com um custo muitíssimo inferior e sem qualquer comparação, reduziria a quase nada a desvantagem comparativa actual.
Os argumentos de peso de um economista de peso, e respeitado até no Governo, apesar disso, valem zero para este governo apostado na "modernidade"! Já está tudo decidido e programado. Debates para quê? ..."