05 dezembro 2005

Mélancolie

Génie et Folie en Occident



Caspar David Friedrich - Le moine devant la mer (1808-1810)

Exposição nas Galerias do Grand Palais, Paris, até 16 de Janeiro 2006

Aucune disposition d’âme n’a occupé l’Occident aussi longtemps que la mélancolie.

15 comentários:

M.C.R. disse...

Isso não se faz, Kami. Está para aqui um desinfeliz a penar e Paris assm!...

Silvia Chueire disse...

Lindo ! Obrigada, Kamikaze. : )

Abraços,
Silvia

josé disse...

Regresso wm grande forma!

"Sous le pont Mirabeau coule la Seine" ...

C.M. disse...

Hoje, ao abrir o computador em gesto maquinal dirigi-me à Instância de Retemperação, se bem que, a esta hora, não necessite de ser retemperado...

Pois tive uma grata surpresa ao ver o “post” da nossa administradora que o MCR chama carinhosamente de “Kami”...pois bem, nesta manhã de segunda-feira não me sinto particularmente melancólico tanto mais que passei o fim de semana em Fátima e, “pour cause”, sinto-me “em forma” mas, por via do tema, lembrei-me de Teixeira de Pascoaes – nunca me esqueci da forte impressão que tive quando visitei pela primeira vez a sua casa nos arredores de Amarante: que sossego, que paz; aí se compreende melhor a razão de ser da sua poesia e do saudosismo. Aliás, perdoem-me, o saudosismo fascina-me, enquanto Movimento, e apresenta alguns pontos de contacto com o “Integralismo Lusitano” (ligado ao poeta António Sardinha).

Com efeito, Teixeira de Pascoaes insurge-se contra a “modorra” que tomou conta da Nação Portuguesa (parece que continua...) no início do século XX - e a necessidade de trazê-la à glória da sua História.

Creio que tal pensamento entronca, de certo modo, com o "Integralismo Lusitano", um projecto de regeneração de Portugal por via da vertente político-religiosa.

Tendo em vista a visão republicana de 1910, a qual advogava a “regeneração” para Portugal, mas só através da eliminação dos laços com a Igreja Católica; aquele Movimento defendia, pelo contrário, a regeneração através de um retorno à integralidade do espírito católico que fizera Portugal.

Ai, tão lindo!...este tema dava um belo “post”. Enfim...

Direi apenas que a Religão, para Teixeira de Pascoaes traduz a dimensão da alma humana e, por inerência, é "sinónimo" de tolerância, o tal tema que eu e o meu recente amigo Compadre Esteves andamos a desbravar...

Aqui deixo aos meus amigos “bloguianos” este poema de Teixeira de Pascoaes, consentâneo com a melancolia do “post” da, permitam-me, nossa “Kami”.
(é que, para além dos livros chatos de Direito, um homem tem de ter, no seu trabalho, alguns livros de poesia, daqueles que mais estima...).

O Poeta
Ninguém contempla as cousas, admirado.
Dir-se-á que tudo é simples e vulgar...
E se olho a flor, a estrela, o céu doirado,
Que infinda comoção me faz sonhar!

É tudo para mim extraordinário!
Uma pedra é fantástica! Alto monte
Terra viva, a sangrar como um Calvário
E branco espectro, ao luar, a minha fonte!

É tudo luz e voz! Tudo me fala!
Ouço lamúrias de almas no arvoredo,
Quando a tarde, tão lívida, se cala,
Porque adivinha a noite e lhe tem medo.

Não posso abrir os olhos sem abrir
Meu coração à dor e á alegria.
Cada cousa nos sabe transmitir
Uma estranha e quimérica harmonia!

É bem certo que tu, meu coração,
Participas de toda a Natureza.
Tens montanhas na tua solidão
E crepúsculos negros de tristeza!

As cousas que me cercam, silenciosas,
São almas, a chorar, que me procuram.
Quantas vagas palavras misteriosas,
Neste ar que aspiro, trémulas, murmuram!


Vozes de encanto vêm aos meus ouvidos,
Beijam os meus olhos sombras de mistério.
Sinto que perco, às vezes, os sentidos
E que vou flutuar num rio aéreo...

Sinto-me sonho, aspiração, saudade,
E lágrima voando e alada cruz...
E rasteirinha sombra de humildade,
Que é, para Deus, a verdadeira luz.

josé disse...

Linda poesia, caro Delfim ( Coimbra, 1975?...celebrados ainda há pouco?).

Um dia destes começo a ler estes poetas algo esquecidos, mesmo que alguma poesia me seja por vezes demasiado subtil.
Desta, aliás, aprecio-lhe o cheiro do arvoredo e a cor do cair da noite.
E o jogo de palavras também é soberbo. Superbe!

Primo de Amarante disse...

Sou um dos fundadores da Associação Marânus. Penso que Teixeira de Pascoais nada tem a ver com o integralismo lusitano e ficaria muito arreliado se o acusassem disso.

Uma das pessoas que conviveu de perto com Teixeira De Pascoais foi o Prof. Fernandes da Fonseca (catedrático de psiquiatria jubilado) que se considera um discípulo de Teixeira de Pascoais. Também pensa como eu. Teixeira de Pascoais olha para o passado como uma antecipação do futuro e este ponto de vista é totalmente contrário ao integralismo, quer na sua vertente brasileira quer na sua vertente portuguesa. A saudade em T.P. tem a ver com o sentimento de angústia de Keierkegard e é também este filósofo que influencia a sua concepção religiosa como sentimento moral. O sentido poético de T.P. é influenciado por Guerra Junqueiro e, como se sabe, este poeta também nada tem a ver com o que foi definido como integralismo. O seu ponto de vista do saudosismo tem a ver com a ideia de uma diáspora lusitana que inspira o que poderíamos designar o seu lirismo. A sua divinização da saudade inspira-se em Husserl, muito embora seja determinada pela sua paixão frustrada por Leonor Dogge (“figura dos seus sonhos e do seu amor”, como diria Garcia Morente). O que mais marca Pascoais é o seu sentido estético da vida (figura de L.D."rosto ruborizado de pudor e aureolada de luminosidade divina")e do mundo que configura de forma unitária (e não integrada) da mãe natureza: um corpo espiritual. A sua criatividade poética e filosófica sublinha a ideia de uma intencionalidade da consciência (influência da fenomenologia de Husserl) que emerge de um passado (mas não fica no passado):

“Espectros nebulosos,
Remotos ascendentes
Emergem na penumbra que flutua
E rodeiam-no tristes , misteriosos...”

Teixeira de Pascoais era um democrata e Fernandes da Fonseca considera que o seu ideal romântico e mítico, embora situado ao nível da metafísica, aproxima-o do socialismo utópico.

Primo de Amarante disse...

Falta clarificar (no meu ponto de vista) o seguinte: o nacionalismo de Teixeira de Pascoais não é incompatível com o seu universalismo (que foi também dos socialistas utópicos). O universal em T.P. (homem universal)compatibiliza-se com o nacional, na medida em que significa o ser melhor num cosmos (mãe natureza) comum, o abraçar as singularidades para promover o ideal (imaginado). Respeita, por isso, a identidade que, como sabemos, é em Pascoais, intimidade á procura do cosmos, do mundo que se dá, que se revela na sua verdade. Verdade que é captada pelo sentimento (intuição) e, por isso, apela á sinceridade, à transparência.

A sinceridade, surge assim, pertencendo à ordem da autenticidade, fazendo parte do que sinto, mas tendo uma relação existencial, na medida em que associa o que surge como real-abstracto (transcendente)ao real-concreto (imanente). Lembremo-nos de Sartre “nós e os outros” e reparemos no que diz T.P. “Somos a nossa alma, no meio de outras, imanente a ela mesma, e transcendente das demais”. E é nesta relação que se manifesta uma estética interrelacionada com uma ética. A beleza não é imoral, nem a estética deixa de se relacionar com o nosso viver no mundo. Cada um de nós é singular, tal como cada nação, mas não podemos perder de vista a nossa condição de “sermos-ser-com-os-outros” e, por isso, a nossa felicidade 8estética)depende do máximo de felicidade (ética)para todos os que vivem num cosmos comum (mãe natureza), diriam os socialistas utópicos.

E isto seria heresia para o integralismo, como sabemos.

C.M. disse...

Meu querido Compadre Esteves, quem pode competir com um Mestre em Filosofia?
Mas repare que eu apenas afirmei que “apresenta alguns pontos de contacto com o Integralismo Lusitano”...Não quis e não pude desenvolver a questão pois o que aqui se tratava era de melancolia...

Mas, com efeito, para os Integralistas, deveriam ser retomadas as antigas tradições políticas.. A Monarquia do absolutismo iluminista (introduzida em Portugal pelo Marquês de Pombal no século XVIII), bem como a Monarquia da Carta (importada pelos liberais de novecentos), foram responsáveis pela subversão dos princípios democráticos e populares da antiga Monarquia.
É claro que o Integralismo Lusitano desempenhou papel de relevo no derrube da 1ª República...para depois se incompatibilizar com o Estado-Novo...
Teixeira de Pascoaes, como António Sardinha e outros, fez parte de uma geração muito especial, dos anos 20 e 30. Respondendo ao meu amigo Compadre Esteves, sempre direi que, e separando de novo as águas, o Integralismo exprimia-se em termos filosófico-religiosos, com um fim político e cultural. De facto, este movimento reagiu ao saudosismo gnóstico de Teixeira de Pascoaes, eu diria algo panteísta...e ao seu movimento "Nova Renascença", criado por um grupo de republicanos portuenses da revista A Águia. Na vertente político-religiosa, estes defendiam, com efeito, que o regime republicano deveria quebrar todos os laços com a Igreja Católica. Ora, o Integralismo defendia que o futuro de Portugal e o seu renascimento deveria assentar as suas bases precisamente nas próprias raízes do nosso Catolicismo.
Como tinha dito anteriormente, e pareceu-me ter ficado explícito, “Tendo em vista a visão republicana de 1910, a qual advogava a “regeneração” para Portugal, mas só através da eliminação dos laços com a Igreja Católica; aquele Movimento (Integralismo) defendia, pelo contrário, a regeneração através de um retorno à integralidade do espírito católico que fizera Portugal.”

Existe, pois, esta diferença de pensamento. Subsiste, contudo, a mesma vontade de mudar Portugal, pese embora as diferenças de raíz político-filosófica.
Relativamente ao José, obrigado pelas suas palavras. O Poema em causa é retirado do livro “Vida Etérea”, da Assírio & Alvim” ed. de 1998, aliás, em conjunto com os demais títulos “ Para a Luz, (Vida Etérea), Elegias, o Doido e a Morte.

Bem, tenho de ir trabalhar...dizem que é necessário aumentar o PIB...
Um Abraço de Lisboa.
Delfim Lourenço Mendes

M.C.R. disse...

Permitam-me os dois amabilíssimos comentadores Delfim e compadre que me meta ao barulho. Tem o compadre razão ao separar as águas do "marãnico" Pascoais do tortuoso (e finalmente débil) rio do integralismo. Também é verdade que o nosso amigo Delfim fez tão só uma aproximação poética ao recordar Sardinha, incontestado mestre integralista e hoje mal esquecido pois tem poemas que valem uma boa hora de leitura. E como ele outros, como p.ex., o conde de Monsaraz.
Não cito este último tão inocentemente porquanto em todos, e o venerável Pascais bem ao alto, há um sentido do bucolismo e uma clara reacção ao modernismo que por aí vinha infindável e... cosmopolita. Claro que há diferenças entre o tónus panteísta (bem visto Compadre...) de Pascoais e a visão lusitanizante de Sardinha que vai beber ao catolicismo tradicional e á fé monarquica podendo quase dizer-se que uma parte (a menos importante, quiçá) da sua poesia é de assumido combate de ideias, mesmo quando celebra a geração de setenta!!! O mesmo se vai passar com Monsaraz seu companheiro de luta.
Mas Delfim também aponta e bem o seu pendor espiritualista e "saudosista" e nisso há claro parentesco com Sardinha e Monsaraz.
De todo o modo eu penso, ah leituras de há 40 anos..., que Pascoais vai continuar a senda do Junqueiro, esse poeta cintilante, esse poeta para ser dito em alta voz, se nos ativermos aos Simples.
enfim tenho de arranjar um par de horas para ir reler esta gente graças à vossa intervenção.
Menina Kami: está a ver o que provoca?
E logo hoje que estou de humor merencóreo...

alguém me explica o mistério de os comentários (estes) aparecerem em simbolos que dificultam a leitura, ao contrário dos que agora mesmo estão na coluna da esquerda, impecáveis?

Primo de Amarante disse...

Caro Amigo Delfim:

Não gabe muito os meus dotes mestrandos, pois posso deixá-lo mal. Sempre achei que deveria ser lavrador e tudo o resto foi para mim mero acidente de percurso.

Peço desculpa por não o ter entendido bem. Trocamos pontos de vista a partir de opiniões e cada um de nós forma a sua, segundo o ponto de vista mais imediato. Daí os “conflitos” de interpretações com que “temos” de viver.

Suponho, entretanto, que existe um denominador comum nas nossas preocupações políticas. O descontentamento em relação ás práticas políticas e ao sectarismo demagógico das oligarquias partidárias. Apontamos caminhos diferentes e é isso que nos pode dividir. O que não é mau: até nos enriquece!

Eu penso que a organização política da sociedade é, por natureza, uma questão da felicidade pública dos corpos em geral (e não das almas). Por isso, não defendo que se misture o que pertence a César com o que pertence a Deus.

A regeneração moral através de uma religião (como pensou Sardinha) é, no meu modesto ponto de vista, cair no erro daquele matemático que incapaz de resolver a quadratura dum círculo acaba por deplorar o facto do circulo não ser quadrado. A religião (de religare – unir intimamente) é uma manifestação singular que pode ajudar a responder aos problemas com que determinado homem se depara na vida social, mas não se pode impor a todos os homens. Por outro lado, no nosso tempo, não podemos desperdiçar os contributos da sociologia, da antropologia, da biotecnologia, etc. etc. E, por isso, uma ética das convicções apoiada numa crença não se harmoniza com um mundo complexo, aberto, dilemático e cheio de incertezas. Já não nos podemos apoiar apenas em princípios gerais unívocos e de forma dedutiva aplicá-los a casos particulares, como defenderam os medievais, com a sua a visão holistica do mundo

Percebemos, hoje, que há diferentes paradigmas (até na ciência) que interpretam de forma diferente a mesma realidade sem se incompatibilizarem (teoria ondular e teoria crepuscular/ teoria da gravidade e teoria da relatividade, etc., etc.).

Precisamos de substituir uma ética normativa por uma ética da responsabilidade solidária, que tenha em conta a diferença para promover a partilha no avaliar as consequências das decisões que orientam a acção humana. Precisamos de não tomar como “absolutos” os imperativos categóricos, porque estes já não respondem às múltiplas situações dilemáticas que surgem da complexidade da vida contemporânea. Precisamos de acautelar não só os direitos e deveres do presente, mas também das gerações futuras. Precisamos de nos abrir à análise e avaliação dos contextos, por forma a dar a palavra a uma razão prudencial capaz de nos fazer luz sobre o melhor modo de proceder de harmonia com o princípio da “não-maleficência”. Precisamos de um novo iluminismo que tenha em conta a pluralidade dos validadores das diferentes razões (creencial, matemática, analógica, afectiva, etc).

O desígnio que defendo é aberto, capaz de aprender com os erros e sempre disponível para aceitar os melhores contributos não só da ciência, como das ideologias e das religiões. Não se fica por um dos lados particular da dimensão do homem, mas aprende com todos os contributos.

Este é o meu ponto de vista. Como levar isto á prática?!... Só praticando o diálogo, acreditando no valor da democracia, da partilha da diferença e sempre acreditando que a palavra é uma forma de agir e que só na procura dos melhores consensos poderemos promover as melhores soluções.

C.M. disse...

Meus queridos amigos Compadre e MCR,

Com efeito, como diz o Compadre, "existe um denominador comum nas nossas preocupações políticas. O descontentamento em relação às práticas políticas e ao sectarismo demagógico das oligarquias partidárias. Apontamos caminhos diferentes e é isso que nos pode dividir. O que não é mau: até nos enriquece!"

É mesmo verdade. É isso que sinto: podermos explanar as nossas opiniões e ficarmos todos mais ricos; sinto que a propósito deste tema ou daquele, todos juntos vamos reflectindo em conjunto e vamos alargando os nossos horizontes.
Há dias a “culpada” foi a Sílvia; agora a “culpada” foi a “Kami. Bem ajam!

Um Abraço para todos!

Manhã de Terça-Feira, 6 Dezembro 2005, Lisboa.

C.M. disse...

Ai, a propósito, ó Compadre, podia colocar um "post" acerca da Associação Marânus e desenvolver o tema... a sua fundação e objectivos...que tal?

Primo de Amarante disse...

A Faculdade de Filosofia da Universidade Porto publicou recentemente as actas do colóquio "Olhares,50 anos da morte de Teixeira de Pascoais" - II série Volume XXI, Revista da Faculdade de Letras- Filosfia- Universidade do Porto.

Logo que sinta inspiração farei o Post.

josé disse...

Só por isto, já vale a pena ler o blog.

C.M. disse...

Ficamos, à espera, ansiosos...

Quanto às Actas, devem ser um mergulho no tempo...