O debate entre Cavaco Silva e Manuel Alegre revelou um autêntico flirt entre os dois. Morno, sensaborão, o debate da SIC mostrou dois candidatos a jogar à defesa e preocupados em não beliscar o opositor. Cavaco pressente que o maior perigo vem de Soares e, portanto, dá-lhe jeito promover Alegre e dar a este um estatuto de presidenciável, mesmo se não cessou de o tratar, com sentido depreciativo, por “deputado Manuel Alegre”.
Alegre quis colocar-se no mesmo patamar de Cavaco e piscar o olho ao “centrão”, mostrando uma grande deferência pelo “professor”, sem perceber que este não o leva verdadeiramente a sério. Alegre quis tão só dizer aos portugueses: “vejam bem, estou aqui de igual para igual com Cavaco Silva, estou no mesmo plano dele, a minha candidatura é mesmo para levar a sério”.
Como reagirá Soares a este alinhamento dos seus principais opositores, é algo a que valerá estar atento nos próximos dias e, sobretudo, nos debates que vão colocar frente-a-frente estes candidatos. Será o velho “animal político” ainda capaz de nos surpreender?
06 dezembro 2005
O flirt
Postado por jcp (José Carlos Pereira)
Marcadores: JCP (José Carlos Pereira)
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6 comentários:
Caro JCP:
Vi o debate em casa alheia ( não tenho SIC), mas deu para perceber uma coisa:
Se houve algo que me impressionou favoravelmente, foi a ausência desse tratamento putativamente depreciativo, de parte a parte.
Cavaco tratou Manuel Alegre como ele deveria ser: deputado.
É mais alguma coisa que isso?
Alegre tratou Cavaco como dr. Cavaco.
Julgo que nem Professor lhe chamou e se calhar fez bem.
Não apoio nenhum candidato, embora tenha mais simpatia por Alegre e Cavaco do que tenho por qualquer umd os outros.
E os motivos ficaram à vista de quem viu: cordialidade e ausência de tensão agressiva.
Caro Nicodemos, é claro que não considero depreciativo tratar alguém por "deputado". A Assembleia da República é a casa-mãe da democracia e, pese embora alguns maus exemplos, devemos valorizar aqueles que são os dignos representantes do povo. Julgo que a sua experiência o levará a concordar comigo.
Parece-me, no entanto, que o facto de Cavaco Silva - o candidato "suprapartidário", que não é político profissional e não deixa os líderes do PSD e do CDS participarem na sua campanha - tratar sistematicamente Manuel Alegre como "deputado Manuel Alegre" mais não é do que colar a Alegre o rótulo de político, com tudo aquilo que o populismo hoje em voga identifica de forma pejorativa, por contraponto a si próprio, Cavaco, o político-que-não-faz-política.
Caro Nicodemos, já aqui disse que apenas sei em quem não vou votar e que nunca umas eleições presidenciais me entusiasmaram tão pouco. Ainda não fiz a minha opção de voto e até já declinei um convite para assumir um cargo na estrutura de uma das candidaturas. Como vê, as simpatias partidárias não me toldam por aí além...
Veiga de Oliveira, ex-deputado do PCP, ministro do IV governo provisório de Vasco Gonçalves e militante do PS, vai apoiar a candidatura de Cavaco Silva a Presidente da República, anunciou hoje o gabinete do candidato
E esta hein!!!!!!!!!.......
Não vi o flirt ainda que me pareça que o debate ( o pouco que vi) foi morno. Mas... vejamos: que diferenças notáveis se podem esperar dos candidatos. Esta é uma candidatura a presidente da republica. Ou seja para além dos candidatos poderem dizer que gostam de caçar ou de passear com a mulher pouco mais em sede programática podem dizer que já não tenham dito.
Continuo a não perceber porque é que Soares (a quem estimo e sou grato) é o rival temido por Cavaco quando as sondagens o mantém atrás de Alegre. Mas mesmo que seja como diz JCP porque é que Cavaco o há-de temer se até ao momento ganha á primeira?
Ò JCP, tu realmente às vezes... Como é que o Cavaco havia de tratar Alegre. Por poeta? Repara: Alegre não tem título académico, logo Cavaco optou por tratálo por deputado. É, aliás, a linguagem utilizada na AR, provavelmente para não haver disitnções entre drs e outros.
Quanto ao resto, confesso que só vi um bocado do debate. Estou mesmo sem paciência para as coisas da política...
O debate entre Manuel Alegre e Cavaco Silva,
No meu entender, o debate entre Manuel Alegre e Cavaco Silva decorreu como podia decorrer, tendo em conta os poderes que a Constituição reserva para o Presidente da República.
Penso ainda o seguinte: os dirigentes actuais do PS vão pagar o preço de terem tornado o Partido num partido do pragmatismo calculista. Os seus estrategas calcularam: «Bom, temos o Mário Soares para vencer Cavaco. Ele, melhor do que ninguém, levanta a bandeira da luta contra a direita e ganhamos as eleições. Esqueçamos o poeta que despreza o aparelho do PS. O aparelho vai pôr em andamento a máquina do partido e galvanizar as massas em direcção à vitória final».
Simplesmente, a mesma água não passa três vezes debaixo da mesma ponte. Há muita gente que considera que Mário Soares é muito mais de esquerda na oposição que no governo e, depois, já ninguém suporta o espírito aparelhista que trata os militantes e simpatizantes por mentecaptos e só a alguns dá proveito com o prejuízo da boa-fé de muitos.
Os dirigentes do PS (com o autismo que acabará por os levar à derrota) estiveram-se nas tintas para o que pensa o “povo” que lhes tem dado o voto; e, dentro daquele pragmatismo calculista que os faz desprezar a ideologia e os princípios, acabaram por dividir o partido e correm o risco de entregar de bandeja a Presidência da República a Cavaco Silva.
Entretanto, se houver um milagre, dar-me-ia muito gozo que o candidato da esquerda da segunda volta fosse Manuel Alegre e ganhasse. Poderia ser que isso obrigasse os “donos” do PS a perceber que o seu autismo politico só tem prejudicado o País (como já aconteceu com as autárquicas em Lisboa e no Porto).
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