02 janeiro 2006

…AINDA AS AULAS DE SUBSTITUIÇÃO

Aconteceu hoje numa escola pública do Porto.

Numa turma do oitavo ano faltou um professor. Segundo as novas regras, apareceu um outro professor para assegurar a chamada aula de substituição. Este professor poderia ter inventado mil e uma coisa para transmitir aos alunos ou colocar estes perante desafios ou questões curiosas que espicaçassem a sua curiosidade e assim dar por bem empregue o seu tempo e o dinheiro que os contribuintes lhe pagam.

Em vez disso, o dito Senhor, que ocupa um cargo de professor, terá procurado alertar os jovens alunos para o problema de estarem ali, num cubículo, a perder tempo, quando poderiam estar lá fora a correr, a jogar à bola ou a fazer coisas mais agradáveis. Este foi o tema da aula de substituição, a criticar a Ministra, que responsabilizou por não estarem todos a fazer o que mais gostariam, ele inclusive.

Não é a primeira vez que professores se insurgem, em plena aula, contra as aulas de substituição, mas não de uma forma tão aberta, descarada e demorada.

A minha questão é saber se é sensato que um professor utilize a aula para mobilizar os alunos, ainda que sub-repticiamente, para defender as causas eminentemente laborais dos professores? Estas questões não são do foro sindical ou associativo? Que supervisão ou poder têm os Conselhos Directivos sobre este tipo de comportamentos?

As aulas de substituição apenas existem porque alguns professores faltam e faltam muito. O professor que vai assegurar uma aula de substituição apenas o faz porque um seu colega faltou. O princípio das aulas de substituição é justo. O que os professores deveriam exigir era condições para ser aplicada uma solução que é justa. Só que em vez de pedirem condições vão para as aulas procurar a aliança dos alunos para se oporem a uma medida sensata e justa.

Os professores que agem assim estão a negar a sua função. Uma Escola que aceita que um seu professor actue assim não está a cumprir a sua missão. Estão a contribuir para o descrédito e guetização do ensino público, porque a tendência, a não ser alterado o rumo que as coisas levam, será para as famílias, com mais ou menos sacrifícios, colocarem os filhos no ensino privado.

1 comentário:

M.C.R. disse...

Como sempre muito bem posto o problema. Vê-se de quem vem.
Todavia mesmo achando bem o princípio tenho de voltar a uma "vexata quaestio": a falta de condições.
Vejamos:
1 nas escolas não há gabinetes (já não digo individuais mas para 3 ou 4 pessoas) para os professores estarem, trabalharem, fazerem algum "tutorado" (aí é que a Ministra teria brilhado) e terem livros e material para trabalhar.
2 Uma aula de substituição não pode nem deve ser uma balda. Mas é! Professores de Matemática fazem substituições a Desenho ou Português etc. Sem saberem nada daquilo e o pior é que do outro lado os alunos têm perfeita consciência disso.
3 Tenho por mim que a aula de substituição deveria tanto quanto possível ligar-se á disciplina cujo professor faltou, o que implicaria uma outra organização que não existe
4 O que se tem dado (e tenho recolhido dezenas de depoimentos) é que a balda é mesmo balda. Nem os alunos gostam e por isso pedem para ver pela enésima vez um filme ou coisa no género.
Uma prima minha, que me dizem de vários lados, ser muito competente, já foi repreendida por um elemento alarve do conselho directivo porque convidada para jogar xadrês disse que não sabia.
O/A pateta do directivo chegou ao ponto de dizer-lhe que "se não sabia jogar xadrês que aprendesse"!!!
5 Um último ponto: os professores tem um crédito de meia duzia de horas para preparar aulas, corrigir pontos, instruir-se (e bem precisados andam...). Ora tal crédito de horas é ridículo pelo menos para aqueles professores que querem ser de facto competentes e interessar os alunos.

A actual situação é de um populismo arrepiante e vem ao encontro de uma boa parcela de pais que não sabendo educar os filhos entendem que deve ser a escola a fazê-lo. A Senhora Ministra pouco atenta á demissão das famílias vem fazer dos professores pessoas "in loco parentis".
é o país que temos: até as boas intenções têm péssima aplicação.
Este desgraçado país que vai ser o primeiro a abolir a função pública passa a vida a confrontar-se com a incapacidade dos governanntes. E quando não é incapacida é desadequação. O caso das aulas de substitução é um bom exemplo.
Para que conste: não sou professor e em toda a família (que me lembre) só háa professora que já referi.