25 janeiro 2006

Esclarecendo

Eu subscrevi a candidatura do presidente Cavaco Silva. E, por causa disso, comecei a receber regularmente mensagens da candidatura sobre a agenda de campanha e coisas que tal. Na noite das eleições, enviei para o site da candidatura a minha mensagem, cordialmente agradecida no dia seguinte via e-mail. Ontem, recebi de Luís Marques Mendes (com um abraço) uma mensagem que dizia: «Depois da enorme vitória nas eleições autárquicas surge agora a grande vitória de Cavaco Silva, o candidato que o PSD apoiou. Agradeço a sua inestimável colaboração.» Trata-se, em todos os casos, de mensagens pré-formatadas. Mas não consigo passar sem dizer o seguinte: eu votei no presidente Cavaco Silva por duas razões: em primeiro lugar, porque achei que era o melhor para o país (daí que na mensagem que enviei tenha dado parabéns a Portugal por ter sabido escolher); e só em segundo lugar por entender que o presidente Cavaco Silva merecia ganhar.
Eu gosto do Dr. Luís Marques Mendes (foi meu ministro quando o meu secretário de Estado era o Dr. Luís Filipe Menezes, ironias do destino...). E porque gosto, sou obrigado a dizer aqui que o PSD não tem nada que me agradecer. Em primeiro lugar, porque a minha colaboração nem sequer foi "inestimável"; depois, porque o que fiz não foi pelo PSD. Foi pelo pelo que acho ser melhor para o país e pelo presidente Cavaco Silva. Com o PSD só tenho umas contas a ajustar...

3 comentários:

C.M. disse...

Ab immemorabili



Tenho andado para escrevinhar acerca destas eleições.. o tempo escasseia de modo dramático, mas também é verdade que não aprecio as politiquices, e não gosto de ser envolvido em questiúnculas estéreis... assim, tenho-me abstido.

Que o mais importante tem sido pelos “nossos” MCR, o Carteiro e o Compadre Esteves.
Aliás, Coutinho Ribeiro, no seu postal “ A direita da direita e Alegre” teceu considerações que subscrevo sem reserva.

Na verdade, e sem querer magoar ninguém, creio que Manuel Alegre, à esquerda, representa uma parte dos valores que alguém, conservador ( mas “non troppo”) como eu, defende: a Pátria, a manutenção de um Estado que atende às necessidades do cidadão, e que não se reconduz ao odiado “Estado mínimo”.

Mário Soares deixa-me um sabor amargo por questões de história pessoal. Meu pai, que Deus tenha, com os seus vinte anos, partiu à aventura e conheceu o Mundo...é caso para dizer do Minho a Timor...as Colónias, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, EUA, África do Sul, Timor, Austrália...um Universo imenso! Um dia, cansou-se e, em conversa com José Manuel de Mello, decidiu assentar. Foi quadro da extinta “Sociedade Geral” (SG) e da Companhia Nacional de Navegação ( CNN) – era um matemático brilhante...e ali desenvolveu a sua actividade profissional até ao fim.

Viu a CNN ser nacionalizada ( bem como a CTM – Companhia de Transportes Marítimos) para, pouco tempo depois, e ingloriamente, ser a mesma extinta por Mário Soares, enquanto Primeiro Ministro, ao arrepio, aliás, de muitos Acórdãos do Tribunal Constitucional que julgaram inconstitucional a norma constante do artigo 4º n. 1 alínea c) do Decreto-Lei nº 138/85, de 3 de Maio, que determinou a extinção da CNN.

Foi uma Empresa na qual ainda fiz um estágio no respectivo serviço de Contencioso, pois que a sua agonia foi longa...com um Advogado amigo de meu pai, natural ali de Amendoeira, Mação...esqueço-me agora, injustamente, do seu nome.

A Empresa, liquidada que foi pelos ventos inconsequentes de Abril, não mais se recompôs e foi assim extinto um “ex-libris” do nosso País! Aliás, com a extinção da CNN e da CTM liquidou-se a nossa Marinha Mercante. À semelhança da liquidação da nossa Agricultura, Pescas e Indústria...como somos agora insignificantes e à mercê de meia dúzia que decidem do nosso destino...

Terminou assim um modo de vida empresarial que assentava nesta filosofia tão “simples”: criar uma Empresa para vigorar “ad aeterno”, sem fim à vista, na qual os respectivos trabalhadores se reviam, e ganhavam um sentimento de pertença e de orgulho por fazerem parte de um projecto grandioso. Não estamos aqui a falar destas nossas empresas de hoje, que abrem agora para fechar amanhã, e que vendem inutilidades...então que fazes? Olha, trabalho numa multinacional que comercializa desodorizantes...triste, no mínimo...

Desculpem este desabafo, mas sei que me compreenderão, aqui, neste “Incursões”, pelo menos alguns daqueles em que estou a pensar, para lá das ideologias e de todas as “logias”...

É, de certo modo, uma homenagem que hoje aqui presto a José Manuel de Mello e ao meu pai.

Gostava de escrever mais mas não posso. A dor é intensa...

Tudo poderia ter sido mais belo e mais fecundo, a História do meu País e a minha pequena história pessoal...

dlmendes

M.C.R. disse...

Caro DLM
Fui para Moçambique com 13 anos e fiz a viagem num barco da concorrente da CNN a Companhia Colonial de Navegação. O paquete era (em 53 ou 54)excelente. chamava-se "Pátria" e tinha um gémeo, o "Império". Da CNN e nas mesmas linhas operavam o "Angola" e o "Moçambique".
Confesso que enjoei que nem uma pescada durante toda a primeira parte da travessia 11 dias até Luanda. Daí para a frente mais 11 dias até Lourenço Marque arribei e até já comia qualquer coisinha.
Julgo que estes grandes navios começaram a ser condenados pela vulgarizaç~çao da aviação civil. Em 60/62 um "super constelation" fazia Lisboa Moçambique em dois dias. E já transportava um apreciavel número de pessoas.O mesmo ocorria com a linha do Brasil que também começou a perder passageiros na mesma altura.
hoje já ninguém se transporta de barco. Cruzeiros fazem-se mas já não deslocações deste teor da minha. Talvez radique aí o fim pouco glorioso da nossa marinha mercante de transporte. Até para as ilhas deixou de haver barco que se veja.
A minha Mãe, se o lesse, dar-lhe-ia toda a razão pois é uma fanática de cruzeiros. E mesmo agora com os seus oitenta e três anos se tivesse companhia capaz lá ia ela. Os filhos é que lhe falham... Eu então, logo que descobri que o único meio de transporte (além do comboio) em que não enjôo é o avião, nunca mais quis outro.
Todavia, mesmo sem pensar em arriscar-me de novo pelo mar tenebroso a deitar os bofes pela amurada fora, acho que esses paquetes eram bem bonitos. E comia-se bem. Quem comia, claro.
De todo o modo desconheço inteiramente o processo que levou á extinção das companhias.

C.M. disse...

Caro MCR, como sempre, gostei de o ler...

Um Abraço!

dlmendes