Já lá vão alguns anos, num hotel do Porto, o Prof. Francisco Lucas Pires, de quem tenho saudades e por quem sempre tive uma grande estima intelectual e pessoal, que nasceu era eu ainda um miúdo e cresceu quando fizemos praticamente sozinhos a campanha para as europeias de 1989, disse-me: «Quase todos os políticos são jornalistas frustrados». Eu lembro-me que nessa altura lhe respondi qualquer coisa como: «E o inverso não será também verdadeiro?»
Ficámos naquela e eu, que passei pelos dois lados e acho que me frustrei em ambas as coisas, razão pela qual me dediquei a esta saudável coisa que é escrever nos blogs, nunca me esqueci dessa conversa, pelo menos na parte em que me ajudava a perceber um trajecto de vida. O meu e o de alguns outros.
A que propósito vem isto? Ah, já sei: vem a propósito de um postal verrinoso da bem regressada kami, um pouco mais abaixo, sobre o envolvimento de algums figuras da magistratura na comissão de honra de Mário Soares. Se bem se recordam, logo na altura em que a coisa foi pública eu manifestei aqui a minha perplexidade, tão pouco me parece curial a situação, mas explicaram-me que a atitude dos magistrados em causa não pode ser entendida como envolvimento em actividades político-partidárias, logo, não viola o seu estatuto. Olhei de viés para a explicação porque, de facto, não estou a ver a diferença entre o magistrado do cachecol na sede do PS na noite das legislativas e os magistrados na comissão de honra e, para além disso, sempre achei que para além de um estatuto há sempre um código de conduta que, não tendo força de lei, arrasta uma enorme exigência moral. Eu sei que sou curto de inteligência, mas, pronto, a não ser que me façam um desenho, eu não consigo ver a diferença entre uma e outra coisa.
E foi por isso que me lembrei de Lucas Pires e da nossa conversa. E pergunto-me se as frustrações que se aplicam a jornalistas e políticos, não se aplicarão também a alguns magistrados. Infelizmente, já não temos por cá Lucas Pires para lhe perguntar o que pensa ele disto...
06 janeiro 2006
Frustrações
Postado por o sibilo da serpente
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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