29 janeiro 2006

Para complementar

Poema para o Rio



Suor e maresia
nos envolvem.

Sente-se o mormaço
do calor do dia,
no corpo todo,
no requebrado das mulheres,
nos olhos masculinos
deslizando pelas ancas .

Observa este povo,
e saberás a cadência
da música,
de onde vem, de onde vem,
de onde...

Atenta o ouvido
e perceberás o ritmo
nos ruídos cotidianos.
Assim como os saltos
nas calçadas,
um cantarolar surdo
que nos atravessa.
A música a sobrepor-se
ao lado áspero
da cidade grande,
a alegria.

Todos os caminhos dão no mar,
chamado irresistível,
oceânico,
de nos desfazermos n'água.
De nos despirmos
da pele de circunstâncias.

O olhar atento verá
por entre os edifícios,
a história,
a mistura das raças.
O negro que há em nós,
música e libido à flor da pele
e o sorriso por dentro.
O índio,
liberdade e selva.
O europeu,
pose e civilidade mescladas
às tentaçôes da cidade.

A geografia,
a acolher todos os gostos.

Amo esta cidade
com a consciência crucial da beleza,
da alegria , da miséria,

da violência.
Da cidade sedutora.

Rio de Janeiro,
céu, inferno,
e purgatório.



Silvia Chueire

3 comentários:

C.M. disse...

Cara Sílvia,

Não foi por esquecimento ou desleixo que não deixei aqui uma nota de apreço ao seu poema, na sequência da nossa conversa a três; mas, na verdade, o seu poema é tão lindo que até doi! E difícil se torna comentá-lo. Está tudo lá!

C.M. disse...

Perdão, a três não; a quatro...

Silvia Chueire disse...

Obrigada, Delfim. Muito. Mesmo.

Abraços,
Silvia