21 janeiro 2006

PENSAR

" As nuvens avolumam-se por cima do claustro e a noite pouco a pouco encobre as lajes onde está inscrita a moral com que se dota aqueles que morreram. Se eu escrevesse aqui um livro de moral, teria cem páginas e noventa e nove estariam em branco. Na última, escreveria: "Eu apenas conheço um único dever, que é o de amar." E quanto ao resto, digo não. Digo não com todas as minhas forças. As lajes dizem-me que é inútil e que a vida é como "col sol levante, col sol cadente". Mas não vejo o que a inutilidade retira à minha revolta e sinto muito bem o que a faz aumentar. "


Camus - Primeiros Cadernos

(copy-paste deste post do blog da nossa amiga Amelia,
"ao longe os barcos de flores")

3 comentários:

Pedro Santos Cardoso disse...

O meu escritor preferido.

C.M. disse...

Camus porventura quis falar da incapacidade de o homem, por si só, encontrar um sentido para a sua vida. Mas não esqueçamos que a vida de Camus foi emsombrada pela II Guerra Mundial…a noite tinha coberto o Mundo…até João Paulo II se referiu a esta época e aos seus protagonistas como as forças do Mal que então dominaram os homens…( hoje existem outras…ou são sempre as mesmas, travestidas…)

Não crente, Camus “esquece” que apenas por si próprio o homem não pode encontrar o sentido da vida.

Camus, com a sua reflexão sobre o absurdo a solidão e a morte, dirige-se gradualmente para a esperança e a solidariedade humanas como possíveis soluções daquelas realidades.

Para os Crentes, só em Deus e com Deus será possível encontrar o sentido da vida e preencher a nossa existência.

Silvia Chueire disse...

Em relação a Camus sou suspeitíssima, é quase uma paixão. : )
Mas vou discordar do Delfim,por ora em relação a este excerto -excluída também, a questão da fé, que não discuto.
Aí tive a sensação muito nítida que ele diz que o sentido de estar vivo ( da vida, por inclusão) é amar.
Dia desses agradeci à Amélia pelo excerto,hoje agradeço à Kamikaze.

Abraços,
Silvia