19 janeiro 2006

Um voto em Mário Soares (antes das sondagens finais)

Domingo, vou votar em Mário Soares. Já o tinha feito, de forma convicta, nas presidenciais de 1986 e de 1991, tal como nas europeias de 1999. Soares mantém as qualidades e os defeitos de então e, perante as alternativas existentes e a conjuntura política que o país vive, não encontro razões para mudar o meu voto.

Já aqui escrevi que não sou um fervoroso adepto da sua candidatura. Não participei em qualquer acto de campanha de Soares, ao contrário do que aconteceu em 86 e em 91, e declinei mesmo um convite para assumir um lugar na sua estrutura de campanha. Gostei de o ouvir dizer “Basta!” aos 80 anos e gostei menos de o ver regressar poucos meses depois. Discordei algumas vezes das posições que Soares tomou sobre diversos aspectos da política internacional nos últimos anos, mas também admirei muitas das suas acções em prol do ambiente, dos oceanos, da concertação entre os povos e da afirmação da União Europeia.

Dir-se-á que, aos 80 anos, deveria ter-se empenhado na promoção de uma candidatura proveniente de gerações mais novas. Não posso estar mais de acordo. Mas, onde estavam os putativos candidatos da área socialista? Guterres preferiu, e bem, o ACNUR. Gama foi eleito presidente da Assembleia da República. Vitorino arrepiou caminho. Quem sobrava?

Soares foi à luta com o apoio do PS, não sei se por sua iniciativa, se empurrado pelos “amigos” ou pela força das circunstâncias. Se bem se recordam, nessa altura, Freitas do Amaral tinha dado um ar da sua graça, colocando-se em bicos de pés, e Manuel Alegre, que tinha sido derrotado poucos meses antes nas eleições internas do PS, hesitava em dizer se queria ou não ser candidato. Qual seria a situação da esquerda democrática se Soares não tivesse avançado e se Alegre, afinal, não tivesse querido largar os livros, a espingarda e a cana de pesca? Como estaríamos agora?

Soares vai ter o meu voto e o de muitos portugueses. Não sei se será suficiente para marcar presença numa eventual segunda volta e derrotar Cavaco Silva. O que eu sei é que, em caso de insucesso, será o candidato que menos problemas terá em digerir a derrota. Sem ressentimentos ou azedumes. Por convicção democrática, por não necessitar de acertar contas com quem quer que seja, por já ter sido tudo o que poderia ser no nosso regime democrático, por sentimento do dever cumprido em nome da sua área política, por ter dado um exemplo estimulante de participação e activismo àqueles que caminham para o ocaso da vida.

1 comentário:

M.C.R. disse...

Voto Alegre mas se houver 2ª volta votp no mais votado da esquerda. Convictamente.