Vivemos numa sociedade que perdeu valores.
Nela nada mais é considerado sagrado. Parece que tudo está à venda...até a dignidade!
Se antigamente a ideia de Deus e a Autoridade instituída tinham o primeiro lugar, agora é a Pessoa Humana que tem prioridade. Os chamados Direitos Humanos traduzem isso mesmo.
Todavia, Deus “perdeu-se” no meio de todo este avanço social e tecnológico. Contudo, é muito difícil encontrar um quadro de valores que dê sentido à nossa vida pessoal, íntima, de cada um de nós, sem essa referência. Sem Deus é muito difícil acolher o outro numa relação verdadeiramente fraterna, realizando uma partilha generosa. Sem Deus é muito difícil perdoar e esquecer. Sem Deus é muito difícil amar com uma entrega total.
Na nossa sociedade, temos de aprender a ser livres mas ao mesmo tempo responsáveis e solidários. A liberdade não é, como disse Freitas do Amaral, sinónimo de licenciosidade. É antes tolerância, encontro enriquecimento e partilha com o diferente.
Como disse Alçada Baptista, “é necessário repensar o problema da autoridade e centrar a sua essência no serviço e não no poder”.
Com efeito, as relações de poder são corrosivas. São Paulo, na sua Epístola aos Romanos, ensina-nos que devemos obediência à autoridade que exerce o poder. Mas, por outro lado, nos Actos dos Apóstolos, diz-nos que devemos mais obediência a Deus do que aos homens.
Gustav Radbruch, na sua Filosofia do Direito, afirma que estamos perante um verdadeiro princípio jurídico. E, a ser assim, deveremos deixar a decisão final a Deus, “àquela voz que só nos fala à consciência em face de cada caso concreto”.
Tenho pensado nesta noite de sexta-feira em que vos escrevo, que metade do mundo não cristão vive, afinal, a sua fé com fervor. Fervor esse que nós, católicos, parece que esquecemos. Veja-se a actual 25.ª edição da Feira Internacional de Arte que decorre em Madrid (ARCO), na qual um espanhol, Oscar Seco, tem uma “obra” sua aí exposta, onde representa Jesus Cristo com um míssil na mão direita a olhar para um tanque, soldados e um militar a fazer-lhe continência.
Apenas pergunto: onde estão os Cristãos e também a sua capacidade para a indignação?
Cristãos ou de outra Religião, qualquer que ela seja, Deus é um só. Apesar d’ Ele existirem diversas representações.
E assim, tendo por base a Verdade, mesmo que esta tenha diversos rostos (a essência é a mesma) deveremos guiar-nos,
Tendo a Justiça como regra;
Tendo a Liberdade como farol;
Tendo o Amor como referência.
Na base de tudo isto tem de estar a dignidade da pessoa humana, as relações fraternas entre as pessoas, a ausência de incompreensões (inúteis) que apenas envenenam o dia-a-dia.
Para todos os homens e mulheres de boa vontade terá de haver uma postura de apelo à criatividade na construção de uma sociedade melhor.
Para os Crentes, num esforço quotidiano, cada um deverá fazer apelo à Transcendência que permita experimentar a Paz e encontrar-se assim, desse modo, com Deus, sumo Bem.
E é justamente este o sentido da nossa resposta humana, a da conversão ao Bem, ao "Sumo Bem": aceitar Deus como centro absoluto da nossa existência.
E desta experiência libertadora (e não castradora) nascerá a necessidade de entregar tudo a Deus, os nossos êxitos, os nossos pequenos fracassos quotidianos.
Deveríamos olhar por vezes para a Idade Média, e ir lá buscar pérolas esquecidas, como esta de Mestre Rufino, Bispo de Assis à época em que São Francisco nasceu: o tratado "De Bono Pacis" - "O Bem da paz" escrito entre 1181-82 e que certamente influenciaria positivamente muito boa gente nos nossos dias, no sentido da mística da paz:
o Bem é a certeza de que a harmonia se restabelece na prática do Amor e não no ódio.
Paz é dar e receber, é conviver bem com tudo o que existe.
Paz e Bem!
dlmendes
11 fevereiro 2006
PACEM IN TERRIS
Marcadores: Cabral Mendes
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