O postal do Rui do Carmo, ao tratar daqueles belos lenços, obra do saber ancestral do nosso povo, saber esse que muitos “pós-modernos” rejeitam como algo de reaccionário ou ultrapassado, fez-me recordar esse poeta e estudioso do nosso folclore, das nossas danças e cantares que foi Pedro Homem de Mello. Um grande Poeta com efeito, com obras como “Caravela ao Mar”de 1934, “ Nós Portugueses Somos Castos” e o maravilhoso “Há Uma Rosa na Manhã Agreste” de 1964. Já viram a beleza do título?! E livros editados (aqueles que eu tenho) pela “Edições Ática”, infelizmente desaparecida.
Foi um homem cuja Alma estava em sintonia perfeita com o povo e a sua cultura (esse mesmo povo que, à época, ainda não tinha sido “estragado” pelos “reality shows” e pelas telenovelas…).
Aliás, Júlio Dantas definiu-o como “poeta de alta estirpe”. José Régio considerou-o “um dos mais verdadeiros líricos da nossa tradição poética”. E João Gaspar Simões afirmou que ele tinha sido “um mestre, mestre no sentido em que são mestres os que abrem caminhos de poesia”.
Foi um homem cuja Alma estava em sintonia perfeita com o povo e a sua cultura (esse mesmo povo que, à época, ainda não tinha sido “estragado” pelos “reality shows” e pelas telenovelas…).
Aliás, Júlio Dantas definiu-o como “poeta de alta estirpe”. José Régio considerou-o “um dos mais verdadeiros líricos da nossa tradição poética”. E João Gaspar Simões afirmou que ele tinha sido “um mestre, mestre no sentido em que são mestres os que abrem caminhos de poesia”.
Mas quem exprimiu, de uma forma tão comovedoramente bela, a obra de Pedro Homem de Mello, foi outro poeta, Vasco Graça Moura:
“Em Pedro Homem de Mello concretiza-se uma das nossas mais belas poesias da transgressão, “numa tensão entre angústia, o remorso, a consciência do pecado, a culpa e a vertigem erótica que é indissociável do êxtase ante a beleza humana e o prazer físico, da explosão dos sentidos, do pulsar do sangue, da memória dos efémeros momentos vividos nessa entrega e da trágica solidão que a ela se seguiu”.
Vou deixar aqui um poema que se insere na misticidade de Pedro Homem de Mello, celebrizado por Amália.
“Em Pedro Homem de Mello concretiza-se uma das nossas mais belas poesias da transgressão, “numa tensão entre angústia, o remorso, a consciência do pecado, a culpa e a vertigem erótica que é indissociável do êxtase ante a beleza humana e o prazer físico, da explosão dos sentidos, do pulsar do sangue, da memória dos efémeros momentos vividos nessa entrega e da trágica solidão que a ela se seguiu”.
Vou deixar aqui um poema que se insere na misticidade de Pedro Homem de Mello, celebrizado por Amália.
Povo que Lavas no Rio
Povo que Lavas no Rio
Povo que lavas no rio
Que vais às feiras e à tenda
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Há-de haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
Beber em malga que esconda
Um beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida não!
Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seios...
Mas a tua vida, não!
Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso.
Mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrada,
Mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio
Que vais às feiras e à tenda
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Há-de haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não!
Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!
Fui ter à mesa redonda,
Beber em malga que esconda
Um beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida não!
Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!
Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!
Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seios...
Mas a tua vida, não!
Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso.
Mas a tua vida, não!
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrada,
Mas a tua vida, não!
(Aqui fica este poema, em homenagem à nossa ultramarina Sílvia, tendo em atenção os seus românticos poemas, ela que anda muito silenciosa…deve ter “sambado” muito por estes dias… )
Em tempo: lembrei-me agora que as "nossas" graças aqui são três! São as nossas "santas" cá de casa! ( ai o que eu fui dizer...). Bem, então, a poesia, romântica e apaixonada de Pedro Homem de Mello, toda ela aqui dedicada às musas do blog...)
dlmendes
11 comentários:
Conheci o PHM na televisão: acho que "descobria" coisas a mais nas danças dos ranchos folclóricos. Por isso não ligava muito. Mais tarde viemos ás palavras dado que eu estava no ministério da cultura. Melhorou um pouco a minha anterior opinião. Não o li nunca muito, embora não possa dizer mal de alguns poemas, como este. Todavia há na sua "ars poetica" algo de fora do tempo, de antiquado que soa mal lido agora. Mais tarde, ainda, verifiquei que frequentávamos o mesmo barbeiro, ali para os lados de Carlos Alberto e mais uma vez trocámos algumas frivolidades próprias do local e da nossa posição de pacientes do fígaro de serviço. Era um homem delicado, um velho cavalheiro, sempre muito bem vestido. Não sei porqu~e mas tenho a impressão que passei ao lado da verdadeira verdade dele...
Pois eu só o conheci... morto. Fiz a notícia para o Comércio do seu funeral. Se bem me recordo, calhou numa 3ª feira de carnaval. Não tinha dormido nessa noite e deu-me um ataque de riso antes do funeral a entrevistar a Amália. Não podia ter sido pior...
Meu caro DLM: esquecei-me de mandar a feroada da praxe na "mística"portuguesa. Mas V. decerto perceberá que foi mero esquecimento. Mística portuguesa, o que é?
MCR, adoro as suas “ferroadas”, elas são sempre bem vindas, pois obrigam-nos a pensar, a reflectir, a rebater se for o caso…
Olhe, à pressa, direi que a mística portuguesa é todo um repositório de um sistema de valores e de cultura que define a mentalidade e a sensibilidade intrínseca do povo português, que advém do significado peculiar da nossa História.
E que importa revisitar e cultivar.
Veja, por exemplo, o Canto III, estância. 42-53 d’Os Lusíadas: a Batalha de Ourique e a origem mística de Portugal, a aclamação de Afonso Henriques como rei; a adopção dos cinco escudos como armas nacionais.
Não é bonito?
“Prontos”, mais uma “velharia”!....
Um abraço, MCR! ( vou ter de fazer noitada…)
Caro DLM
Você disse Ourique? Mesmo Ourique?
Então tome lá: O milagre só começa a ser documentado na Crónica de Cister (sec. XVII) primeiro por Fr. Bernardo de Brito e depois mais fortemente por Fr António Brandão na continuação da crónica, em 1690. Os intuitos políticos são evidentes: a legitimação bragantina e a luta contra os filipes.
Ora o documento em que o rei jura o milagre e manda pôr as quinas na bandeira - capitulos IV e V da Crónica de D Afonso Henriques- traz a lista dos fidalgos cossignantes:
Os bispos de Braga e Coimbra (ambos João). o prior Teotónio, Fernão Peres, vedor-mor da casa real, Vasco Sanches, Afonso Mendes, governador de Lisboa, Gonçalo de Sousa procurador de Entre douro e Minho, Paio Mendes, procurador de Viseu, Soeiro Martins, procurador de Coimbra. Mem Peres redactor por mestre Alberto cancelário de el-rei.
Este Soeiro Martins deu origem a uma família que se estabeleceu em Cabração Ponte de Lima até ao 3º quartel do sec XVIII. Um dos seus membros (o primogénito?) tera ido parao Brasil com a família real. Lá estabeleceu-se no Rio Grande do Sul e fez uma imensa fortuna além de se ter convertido no árbitro de vários conflitos (guerra dos farrapos entre outros). Foi feito grande do Império e visconde com grandeza. Esse cavalheiro João António Pereira Martins, teve um pancadão de filhos. Destes o décimo, Manuel Martins, teve cinco e entre eles a minha bisavó Ubalda. Ou seja sou o 23º ou 24º descendente de um dos juradores de Ourique. Se o milagro tivesse ocorrido talvez até me beatificassem mais tarde.
Sou porém um increu e um pé rapado pois dos outros ramos familiares fui descobrindo ancestros mais modestos. Um bisavô alentejano carpinteiro mas casado com uma morgadinha que ele arruinou. Um trisavô exportador de vinho do Porto que fez fortuna no Brasil. Um outro trisavõ brasileiro de Minas que tem os feitos contados na Internet e que está citado em "vou lá ver pastores" e finalmente um trisavô alemão, prussiano de Havelberg a 50 km a NO de Berlim e que foi médico formado na universidade Frederico-Guilherme hoje Humboldt. O pai era uma espécie de bispo luterano segundo a biografia publicada no prefácio da tese do filho (... patri optimo dilectissimo J. Th(eophilo) R. Heizelmann sacrorum antistite eccl, evangelicae Havelbergi s.. in "dissertatio : De Euthanasia Medica" die XIV M Augusti MDCCCXLV, Berolini ,Typis Gustavi Schade).
Este mesmo Ernst Richard Heizelmann irá para o Brasil a convite do imperador D Pedro e aparecerá no romance "O tempo e o Vento" sob o nome de Dr. Winter. Neste romance aparecem mais antepassados, uma caterva deles o que me faz pensar - e disso já falei com o filho de Erico Veríssimo - que o romance todo é construído em grande parte sobre a minha família brasileira por parte da mãe de meu pai, ele mesmo nascido no Rio.
Está a ver onde se meteu e me meteu? Olhe, passe bem.
Está a ver se não fosse este rapaz a trazer à superfície estes temas?
Afinal, ao meu amigo corre-lhe nas veias puro sangue azul!...
Não é como eu, pobre plebeu, que "apenas" gosta da Monarquia pela beleza que ela emprestou à História de Portugal. De facto, a Monarquia é indissociável daquela...
Ainda tem de dar à luz a história da sua família, MCR. É um dever!!
Um abraço
dlmendes
O sangue que me corre nas veias é um impuro vermelho. Mesmo que o dos Martins fosse azul legítimo veja bem que só me caberia 12,5% do azul Parker Quinq.
O resto é, como disse, pé rapado. Ou, concedo boa e sólida burguesia há já umas tantas ou quantas gerações.
Aliás é bem verdadeiro o dito:
Quando Adão cavava e Eva fiava onde estava o fidalgo?
Soeiro Martins era filho de um desses filhos segundos ( ou terceiros) que veio de Aragão no séquito de outro filho segundo, o D Henrique pai do nosso Afonso. Eram emigrantes, vamos lá, emigrantes especializados na cacetada aos mouros.
este MCR tem cá uma peculiar interpretação da História...ahahah
Quanto á minha interpretação da história (enfim: com letra pequenina e rebaldeira) não é assim tão grande escândalo. Como é que V imagina que se constituiam as hostes dos poderosos no que toca a cavalaria: filhos segundos, caríssimo, filhos segundos. Aliás e mais a sério recomendo-lhe sobre este tema dos filhos segundos: "Guillaume le maréchal ou le meilleur chevalier du monde" de George Dubit. Leitura fácil e estimulante.
obrigado pela dica.
Por alguma razão que não percebo tinha me escapado este post , a homenagem às musas. : )
Agradeço sorridente, Delfim. Andei algo ausente sim, era mesmo o carnaval, a cidade esteve linda estes dias.Um céu muito azul e muito sol. Vazia dos moradores e cheia de turistas de todas as partes do Brasil e do exterior.E muita música. Música desinteressante às vezes, as marchinhas conhecidas . Mas muita música de qualidade, sambas belíssimos. Ah, vcs deviam vir ao Rio ver isto.
Abraço grande ao Delfim e ao MCR,
Silvia
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