15 março 2006

Divino

Eu não tenho a certeza, mas acho que podia jurar que o livro se chamava "O Divino pela voz humana", era um livro não muito volumoso e com uma capa simples, que o homem, de fato e gravata, lia, concentrado, na reduzida sala de testemunhas do tribunal. Eu estava lá, também eu testemunha, com as outras testemunhas, junto do homem de ar concentrado que, também testemunha, lia "O divino pela voz humana". Um homem alheio do que se passava à volta, compenetrado do Divino (pela voz humana).

Estivemos ali, toda a manhã, e o homem do Divino já não voltou de tarde, porque ele há-de testemunhar mais tarde, que a manhã foi curta, e eu não tive ângulo para confirmar se o título do livro pouco volumoso e de capa simples era mesmo aquele ou se era parecido, que a pesquisa google não me deu para confirmar.

Eu conheço o homem de fato e gravata e do livro. Há muitos anos. É um homem que não lê jornais, para quem as notícias são aquelas que vê no teletexto das Tvs e apenas essas, para além daquelas que ele próprio dita nos seus jornais e "faz" nas Tvs e que - dizem-me - fala com o além e com os que já passaram para o além, alguns deles célebres, o mais dos quais - dizem-me - é o Marques do Pombal. Pelo menos do passado.

Não sei se era o Divino ou se era o homem. O homem tranquilo ou o Divino em formato de voz humana. Eu conheço o homem: era Avelino Ferreira Torres - o homem tranquilo. O actor completo?

1 comentário:

C.M. disse...

ainda bem que já cá não está ninguém que queira bater com a porta...