La France brûlle-t-elle?
Foi um ditador alucinado e em fim infame de carreira que perguntou ao general von Choltitz se Paris, como ordenara, já ardia. Na mente ensandecida do pintor de tabuletas ardia o Louvre a torre Eiffel, Montparnasse e o Marais, o Quartier Latin e a Sainte Chapelle.
O general, um antigo da Wehrmacht, habituado á disciplina prussiana vacilou pela primeira vez. Passou á história como o soldado que não obedeceu.
Há meses, há poucos meses, as banlieues de Paris e de mais uma centena de cidades incendiaram-se: jovens franceses, oriundos as mais das vezes dos meios emigrantes mas não só surpreenderam o mundo e a França pela sua raiva cega contra um establishment que pouco ou nada lhes dizia. Não os estou a justificar, não os justifiquei na altura, mas há que concordar que um incêndio daqueles não acontece por acaso.
Lenin escreveu um famoso opúsculo que intitulou: uma centelha pode incendiar toda a pradaria. Aliás tão satisfeito estava com essa descoberta que intitulou o jornal da sua fracção (os bolcheviques) de Iskra (A centelha). Em tempos bem mais próximos foi esse o nome de uma pequena editora, aparecida em Coimbra, logo a seguir á crise de 69 e dedicada á edição e divulgação dos clássicos marxistas, dos heteredoxos, dos jovens poetas enfim de tudo o que mexia. Mas essa é uma outra história...
Não vale a pena desfiar aqui a tese de Lenin pois o título diz tudo mesmo se o entendermos á letra. O opúsculo de resto é datado e não vale a pena estar a dar-lhe maior dimensão do que a que teve e já não tem. Todavia a verdade é que a França andou duas semanas a ver arder carros, edifícios públicos, esquadras, numa súbita explosão de desespero bem semelhante às famosas manifestações do lumpen-proletariado que já Marx analisava e condenava.
Parece porém que o governo francês não aprendeu nada e que esqueceu mesmo o que deveria saber: não criar frentes unidas da oposição quando elas podem ser evitadas. Ora o contrato de emprego que agora oferecem as jovens é claramente um sinal de desprezo por aquilo que qualquer jovem ao fim de uma longa carreira de estudos quer: algo a que agarrar-se, um começo com um mínimo de possibilidades que um contrato que pode ser rescindiddo sem qualquer justificação claramente não é. Como se não fosse necessário substituir gerações como se os empresários transferissem as obrigações contratuais para outros inexistentes actores sociais.
Hoje, à hora em que escrevo estas linhas, os noticiários franceses dão conta de um importante movimento de protesto em praticamente todas as cidades universitárias ou capitais departamentais. Acabo de ver que, de pequenas localidades, vieram grupos organizados de liceais, pais e professores dizer o que pensam do projecto lei. Os reitores de todas as academias pedem já seis meses de discussão pública. As famílias mobilizam-se e a polícia começa a ser obrigada a agir com violência porque já há o que pudicamente se chama débordements.
Não me cabe a mim, estrangeiro e demasiadamente adulto, fazer de profeta. A história nunca se repete pese embora o dito do velho Karl. Parece repetir-se (como provavelmente ele mesmo queria dizer com aquilo da comédia e da tragédia) mas as condições nunca são exactamente as mesmas e muito menos os resultados. Cá pelo burgo um que outro editorialista tem vindo a pregar a bondade da medida do senhor Villepin. Segundo estes luminares, os franceses têm de perceber que o mundo actual já não aceita as velhas regras social-democratas que davam ao emprego alguma estabilidade. Provavelmente estão a preparar a opinião pública nacional para mais uma dose de liberalismo a outrance.
O senhor director do "Público" teve as orelhinhas puxadas por Vasco Pulido Valente que lhe lembrava esta imparável verdade: O Conselho de Estado não deve ser um clube de compinchas mas um palco onde representantes das diferentes correntes de opinião possam dar ao Presidente da República uma opinião abalizada pelas diferentes origens políticas e sociais dos conselheiros. E alguém misericordiosamente lhe lembrou que o CDS só não teve um representante no anterior Conselho de Estado porque o seu líder, convidado pelo Presidente da República, não quiz aceitar tão honroso convite. Cai pela base a argumentação desenvolvida num editorial recente onde se dizia que Cavaco não fez mais do que repetir Sampaio. Apesar de ter de aceitar a reposição da verdade, a extraordinária criatura vem dizer que isso não retira um pingo de razão ao que arrazoara. O homem é imprudente e impudente. E isso não é uma simples mudança de opinião mas algo bem pior e mais feio...
Pessoalmente, o senhor Fernandes não me aquenta nem me arrefenta: é, ao contrário do que possa parecer, exactamente idêntico ao jovem arrogante que blasonava marxismos-leninismos rigorosos e fanáticos. A criatura é a mesma, as moscas que eructa é que são diferentes. Ou nem isso...
O general, um antigo da Wehrmacht, habituado á disciplina prussiana vacilou pela primeira vez. Passou á história como o soldado que não obedeceu.
Há meses, há poucos meses, as banlieues de Paris e de mais uma centena de cidades incendiaram-se: jovens franceses, oriundos as mais das vezes dos meios emigrantes mas não só surpreenderam o mundo e a França pela sua raiva cega contra um establishment que pouco ou nada lhes dizia. Não os estou a justificar, não os justifiquei na altura, mas há que concordar que um incêndio daqueles não acontece por acaso.
Lenin escreveu um famoso opúsculo que intitulou: uma centelha pode incendiar toda a pradaria. Aliás tão satisfeito estava com essa descoberta que intitulou o jornal da sua fracção (os bolcheviques) de Iskra (A centelha). Em tempos bem mais próximos foi esse o nome de uma pequena editora, aparecida em Coimbra, logo a seguir á crise de 69 e dedicada á edição e divulgação dos clássicos marxistas, dos heteredoxos, dos jovens poetas enfim de tudo o que mexia. Mas essa é uma outra história...
Não vale a pena desfiar aqui a tese de Lenin pois o título diz tudo mesmo se o entendermos á letra. O opúsculo de resto é datado e não vale a pena estar a dar-lhe maior dimensão do que a que teve e já não tem. Todavia a verdade é que a França andou duas semanas a ver arder carros, edifícios públicos, esquadras, numa súbita explosão de desespero bem semelhante às famosas manifestações do lumpen-proletariado que já Marx analisava e condenava.
Parece porém que o governo francês não aprendeu nada e que esqueceu mesmo o que deveria saber: não criar frentes unidas da oposição quando elas podem ser evitadas. Ora o contrato de emprego que agora oferecem as jovens é claramente um sinal de desprezo por aquilo que qualquer jovem ao fim de uma longa carreira de estudos quer: algo a que agarrar-se, um começo com um mínimo de possibilidades que um contrato que pode ser rescindiddo sem qualquer justificação claramente não é. Como se não fosse necessário substituir gerações como se os empresários transferissem as obrigações contratuais para outros inexistentes actores sociais.
Hoje, à hora em que escrevo estas linhas, os noticiários franceses dão conta de um importante movimento de protesto em praticamente todas as cidades universitárias ou capitais departamentais. Acabo de ver que, de pequenas localidades, vieram grupos organizados de liceais, pais e professores dizer o que pensam do projecto lei. Os reitores de todas as academias pedem já seis meses de discussão pública. As famílias mobilizam-se e a polícia começa a ser obrigada a agir com violência porque já há o que pudicamente se chama débordements.
Não me cabe a mim, estrangeiro e demasiadamente adulto, fazer de profeta. A história nunca se repete pese embora o dito do velho Karl. Parece repetir-se (como provavelmente ele mesmo queria dizer com aquilo da comédia e da tragédia) mas as condições nunca são exactamente as mesmas e muito menos os resultados. Cá pelo burgo um que outro editorialista tem vindo a pregar a bondade da medida do senhor Villepin. Segundo estes luminares, os franceses têm de perceber que o mundo actual já não aceita as velhas regras social-democratas que davam ao emprego alguma estabilidade. Provavelmente estão a preparar a opinião pública nacional para mais uma dose de liberalismo a outrance.
O senhor director do "Público" teve as orelhinhas puxadas por Vasco Pulido Valente que lhe lembrava esta imparável verdade: O Conselho de Estado não deve ser um clube de compinchas mas um palco onde representantes das diferentes correntes de opinião possam dar ao Presidente da República uma opinião abalizada pelas diferentes origens políticas e sociais dos conselheiros. E alguém misericordiosamente lhe lembrou que o CDS só não teve um representante no anterior Conselho de Estado porque o seu líder, convidado pelo Presidente da República, não quiz aceitar tão honroso convite. Cai pela base a argumentação desenvolvida num editorial recente onde se dizia que Cavaco não fez mais do que repetir Sampaio. Apesar de ter de aceitar a reposição da verdade, a extraordinária criatura vem dizer que isso não retira um pingo de razão ao que arrazoara. O homem é imprudente e impudente. E isso não é uma simples mudança de opinião mas algo bem pior e mais feio...
Pessoalmente, o senhor Fernandes não me aquenta nem me arrefenta: é, ao contrário do que possa parecer, exactamente idêntico ao jovem arrogante que blasonava marxismos-leninismos rigorosos e fanáticos. A criatura é a mesma, as moscas que eructa é que são diferentes. Ou nem isso...
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