Estarão a acabar os anos de chumbo, sangue e morte? A Espanha toda está suspensa de uma declaração de trégua permanente proclamada por três figuras encapuçadas com uma machada e uma serpente nela enrolada por trás. Ao fim de quase quarenta anos e mais de oitocentos mortos (na maioria absolutamente irrelevantes política, social e militarmente...) a ETA ou o que dela resta anuncia que vai parar. Não anuncia a sua dissolução, não anuncia o fim absoluto dos atentados e muito menos a suspensão da kale borroka mas apenas que para já não vai matar. O que já é muito. Muitíssimo. Mesmo que já tenhamos assistido ao mesmo filme. E assistimos, claro.
Vejamos se agora há uma situação diferente que nos permita olhar com mais optimismo esta declaração. Manda a verdade que se diga sim. Não só os tempos são outros mas é outra a sociedade basca, primeira vítima de cerco, ameaças, exacções e perseguições traduzidas num sobressalto de ruas pasto de desordem, de bombas em fábricas e empresas, de fuga de capitais, de milhares de pessoas obrigadas a viver numa perpétua prisão domiciliária, rodeados de guarda costas, para não falar em milhares de exilados bascos sobretudo intelectuais (e por todos Savater, Imanol Uribe ou o grande Agustin Ibarrola) obrigados a viver longe da sua terra que eles sobremaneira honraram.
Nos dois últimos anos a ETA perdeu, por prisão duzentos e setenta militantes, cada vez mais jovens, mais inexperientes, menos preparados politicamente. Este terá sido o motivo maior desta declaração. A ETA cada vez recrutava menos e recrutava pior. Em vez de políticos, pistoleiros. Nas prisões onde se agrupam os presos bascos desde há muito que se sabia que a fé abria brechas e o coração já se não alvoroçava à simples menção de Euskal Herria.
Nenhum agrupamento político clandestino com uma frente guerrilheira pode sofrer uma tal sangria de quadros ou um isolamento político tão forte como o que desde há muito pendia sobre a ETA sem que isso se reflicta na diminuição da sua base de apoio. E, de facto, quer a sociedade basca, quer os apoios internacionais desde há muito davam sinais de esgotamento. Politicamente a ETA não saía do gueto em que Batasuna estava. As organizações para-legais foram metodicamente dissolvidas pelos tribunais. Legalmente. O “santuário” francês deixou de o ser. Ainda há dois dias foi encontrado um importante arsenal. Meia dúzia de dias antes dois comandos clandestinos eram interceptados pela polícia francesa e rendiam-se sem usar as armas que traziam. E cada vez que caía uma célula independentista sucediam-se as confissões (impreparação ideológica) e descobriam-se redes internas e externas. E pior: descobria-se a constelação “legal” da ETA, tornando-a vulnerável primeiro e inoperante depois.
Tudo isto era previsível desde o momento em que a ETA se dividiu e, posteriormente, perdeu a sua fracção marxista. De facto com a dissolução da ETA politico-militar (os poli-milis) e a pacífica reintegração dos seus membros na sociedade civil espanhola, caiu o mais importante apoio de esquerda da ETA. O agrupamento era apenas um grupo ultra-nacionalista, reaccionário até dizer basta, alimentado pelas teorias obnóxias de Sabino Arana e seguidores, um pot-pourri de dislates xenófobos que só convencia ignorantes. É também aqui que residirá o lento declínio da organização no seu principal santuário, o pais basco francês.
Ultimamente era pacífico o entendimento de que a ETA subsistia para organizar atentados e cobrar um imposto revolucionário que por sua vez já só conseguia alimentar aquela actividade. Ou por outras palavras: estrategicamente a ETA estava (e está) condenada. Daqui até chegar á trégua ia um passo. Finalmente dado.
Uma segunda novidade agradável é o pedido do presidente da Argentina para que seja legalmente retirada a imunidade a cerca de quinhentos oficiais do exército argentino. Ora aqui está o que se pode chamar o princípio do fim de outra infâmia.
Vejamos se agora há uma situação diferente que nos permita olhar com mais optimismo esta declaração. Manda a verdade que se diga sim. Não só os tempos são outros mas é outra a sociedade basca, primeira vítima de cerco, ameaças, exacções e perseguições traduzidas num sobressalto de ruas pasto de desordem, de bombas em fábricas e empresas, de fuga de capitais, de milhares de pessoas obrigadas a viver numa perpétua prisão domiciliária, rodeados de guarda costas, para não falar em milhares de exilados bascos sobretudo intelectuais (e por todos Savater, Imanol Uribe ou o grande Agustin Ibarrola) obrigados a viver longe da sua terra que eles sobremaneira honraram.
Nos dois últimos anos a ETA perdeu, por prisão duzentos e setenta militantes, cada vez mais jovens, mais inexperientes, menos preparados politicamente. Este terá sido o motivo maior desta declaração. A ETA cada vez recrutava menos e recrutava pior. Em vez de políticos, pistoleiros. Nas prisões onde se agrupam os presos bascos desde há muito que se sabia que a fé abria brechas e o coração já se não alvoroçava à simples menção de Euskal Herria.
Nenhum agrupamento político clandestino com uma frente guerrilheira pode sofrer uma tal sangria de quadros ou um isolamento político tão forte como o que desde há muito pendia sobre a ETA sem que isso se reflicta na diminuição da sua base de apoio. E, de facto, quer a sociedade basca, quer os apoios internacionais desde há muito davam sinais de esgotamento. Politicamente a ETA não saía do gueto em que Batasuna estava. As organizações para-legais foram metodicamente dissolvidas pelos tribunais. Legalmente. O “santuário” francês deixou de o ser. Ainda há dois dias foi encontrado um importante arsenal. Meia dúzia de dias antes dois comandos clandestinos eram interceptados pela polícia francesa e rendiam-se sem usar as armas que traziam. E cada vez que caía uma célula independentista sucediam-se as confissões (impreparação ideológica) e descobriam-se redes internas e externas. E pior: descobria-se a constelação “legal” da ETA, tornando-a vulnerável primeiro e inoperante depois.
Tudo isto era previsível desde o momento em que a ETA se dividiu e, posteriormente, perdeu a sua fracção marxista. De facto com a dissolução da ETA politico-militar (os poli-milis) e a pacífica reintegração dos seus membros na sociedade civil espanhola, caiu o mais importante apoio de esquerda da ETA. O agrupamento era apenas um grupo ultra-nacionalista, reaccionário até dizer basta, alimentado pelas teorias obnóxias de Sabino Arana e seguidores, um pot-pourri de dislates xenófobos que só convencia ignorantes. É também aqui que residirá o lento declínio da organização no seu principal santuário, o pais basco francês.
Ultimamente era pacífico o entendimento de que a ETA subsistia para organizar atentados e cobrar um imposto revolucionário que por sua vez já só conseguia alimentar aquela actividade. Ou por outras palavras: estrategicamente a ETA estava (e está) condenada. Daqui até chegar á trégua ia um passo. Finalmente dado.
Uma segunda novidade agradável é o pedido do presidente da Argentina para que seja legalmente retirada a imunidade a cerca de quinhentos oficiais do exército argentino. Ora aqui está o que se pode chamar o princípio do fim de outra infâmia.
1 comentário:
O que acho "fantástico" é como um Estado pode ficar refém de grupos marginais e terroristas! Ao que chegámos!
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