06 março 2006

Farmácia de serviço - suplemento especial

Para conjurar os idos de Março

Algumas gentis senhoras e outros tantos cavalheiros que frequentam este blogue e nos dão a honra de serem nossos clientes ficam prevenidos por este único aviso que na FNAC estão á venda: “Secos e Molhadosanos 73 e 74 um disco duplo por 15 euros.
Identicamente se informa que no mesmo estabelecimento anda para venda uma caixa com dez discos de Edith Piaf (10 discos!!!) pela exagerada soma de 14,90 euros. Ou seja: euro e meio por disco.
Finalmente: apesar da FNAC oferecer informação sobre “The Band: a musical history” não têm a caixa nem sabe se a vai ter. Ora aqui está um bom exemplo de empresa privada: nem para ganhar dinheiro se digna importar uma caixa cuja fama corre mundo.

12 comentários:

C.M. disse...

Meu caro MCR, prefiro a Piaf, embora eu "regrette" quelque chose...

Mas, como diz a canção, há sempre um dia que..."Car ma vie, car mes joies
Aujourd'hui, ça commence avec toi !"

ai esta Piaf também pertence a uma França que já não existe...

M.C.R. disse...

Ora aí está uma terrivel verdade. Em termos absolutos, a Piaf pertence a um mundo digamos pré 68.
Como Dostoievsky, John Ford ou mais comezinhamente este seu criado. É dramático dizer as coisas com esta brutalidade mas eu, há um mês - e sobre a vitória de Cavaco - disse isso mesmo: Com a saída de Sampaio, com a derota de Alegre é a geração de 60 que sai de cena. Nãp vale a pena lamentá-lo, trata-se de uma verificação. V. dirá que Cavaco é também ele dessa geração, pelo menos cronologicamente.
Eu sobre isso teria a dizer que Cavaco se identifica com um espírito post Maio. Nem sempre a cronologia une as pessoas numa geração. Aliás ao falar de geração nem sequer posso falar na maioria das pessoas que entre 59 ( rescaldo das eleições presidenciais) e 69 (eclosão da mais forte crise académica que ainda por cima se saldou com um vitória estudantil). Como pano de fundo a guerra colonial, claro e a progressiva cosciencialização que ela produziu, a partir de 69 não há surpresas na atitude quanto a esta guerra. Fosse ela vista por uma perspectiva anti, fosse pela nacionalista, aliás em perda notória de velocidade.
E já agora, para amenizar, Veja V o seu regret. hoje em dia poucas pessoas perceberão essa palavra. É que o mundo culto já não fala francês, sequer como segunda língua.
Definitivamente estou demodé. E pior do que isso: je ne le regrette pas. Je ne regrette rien.

C.M. disse...

DISCORDO, MCR!

Demodé não!

V. não tem culpa do "pessoal" de hoje não saber nada de nada...muito menos francês...

Agora "o que está a dar" é a língua dos yankies!

Nada nos pode hoje, admirar: veja, lembrei-me subitamente, que até os famosos "cow-boys" até já são um bocadinho "abichanados"...ao que isto chegou!

M.C.R. disse...

Horrível! E logo eu um admirador do Ford...

josé disse...

Ora vamos lá aviar o primeiro comentário, enquanto preparo fôlego para a submissão ao tripalium habitual...

O disco dos Secos & Molhados é uma jóia perdida da MPB.

Quando soou a primeira vez em 1973, nas rádios portuguesas do mainstream dos discos pedidos ( olarila!) já trazia uma marca de água notável: a voz do cantor efeminado Ney Matogrosso acrescia um motivo suplementar de interesse exótico à música e letra da Rosa de Hiroxima, primeiro hit fatal do primeiro LP. Os outros temas - O Vira; Sangue Latino;Patrão nosso de cada dia, dia após dia; Assim assado e Fala,- são as canções assim mais memoráveis desse primeiro LP.
Passaram quase todas na rádio de então e hoje em dia seriam hits pela certa.
Já não se faz música dessa maneira, tão criativa, original e divertida e ainda por cima em português ( No disco seguinte, de 1974, até Fernando Pessoa musicaram em "Não: não digas nada").
O primeiro disco foi assim ,arrebatador e único.

É pena que a juventude criadora não se inspire nos temas, musicalidade, composição e artesanato técnico desse primeiro LP dos Secos & Molhados. Ainda por cima, um dos membros mais importantes da banda, João Ricardo, era de Ponte de Lima e de uma família que conheci, por via de uma amada namorada.
Resta por isso, realçar a recomendação.A música em si mesma, os temas em particular são de eleição e passados 33 anos ainda continuam actualíssimos e nada démodés.
Recomendo também atirando com cinco estrelas por ser classificação standardizada já nem sei por quem...será por um qualquer anódino anglófilo, caro MCR?
E fica aqui o mote para pegar na francofobia vs anglofonia...

C.M. disse...

O que este José sabe!........

M.C.R. disse...

Meu caro José: eu pendia para uns franceses, talvez do Express mas não tenho a certeza.

DLM: o diabo do homem sabe tudo, mas sabe mesmo, livra!

josé disse...

CAro M.C.R. :

V. como se costuma dizer, está a dar "música"...pois então, sobre a The Band também pode compor-se uma pequena partitura, com um allegro moderato, seguido de um maestoso; um menuetto e até um adagio final.

Allegro moderato:
1.A primeira vez que a The Band me tocou ao ouvido, foi em 1974, num álbum de Bob Dylan- Before the Flood, um magnífico testemunho de DYlan em forma e ao vivo e em que a participação do grupo de Robbie Robertson compõe o ramalhete sonoro com as melhores composições da época. Nunca ouvi melhor Like a Rolling Stone... depois da versão original.
Alertado por essa sonoridade que emprestava às canções eléctricas de Dylan uma sonoridade acústica de órgão fugitivo e secção rítmica de "betão", foi com toda naturalidade que passei ao segundo andamento.
2.Allegro maestoso. Em 1976, a The Band, fez a despedida em forma de um concerto numa sala famosa de San Francisco: Winterland, a terra de Bill Graham que produziu o concerto, também filmado por Martin Scorsese.

Vi esse filme quando saiu nas salas portuguesas, em 1978( por aí) e nunca mais esqueci os The Band e os companheiros de palco. FOi por isso que arranjei o dvd que saiu há uns anos e se chama The Last Waltz e daí saiu o terceiro andamento.

3. Menuetto. Dos elementos da The Band que mais me impressionam a cantar e a tocar, Levon Helm que toca bateria sempre me tocou o tímpano com a versão de Ophelia de ritmo sincopado e marcador rítmico perfeito com metais de jazz neworleanesco. Por isso, caio sempre no adagio.

4. Adagio. Nos anos 90 arranjei a caixa mais bem apresentadas de todas as que conheço: Across the Great Divide, em três cd´s ( não há LP´s...)aparece em papel a imitar couro genuíno, com lettering cdourado e negor em baixo relevo. Melhor, só mesmo a que comemora os 25 anos dos Jethro Tull que é uma caixa de charutos, imitada até no interior...
E ainda falam dos triplos LP´s tipo ELP ou All Things Must pass!

Coda:Os cd´s integrais sairam há uns anos em remasterização. Um deles, dos últimos, tem a composição que me afectou por último: Twilight, uma composição órfão de LP e que é de 1976. 30 anos! Já?!

M.C.R. disse...

Caro, caríssimo José
além do mais V.faz-me andar para trás no tempo. Eu sou dos que gostam daquele som, um pouco rude, um pouco "natural" dos The Band. Aquilo depois de alguns dolicodoces fazia-nos bem ao ouvido e à alma, restituia-nos uma música nascida livre, outra vez os grandes espaços, sei lá que mais.
E vi-o citar uns cds ... com que então sempre tem um cantinho para as rodelas?

josé disse...

Mas...claro! Nem só de LP´s vive um homem, mas de toda a música que vai saindo em suportes diversos.

Agora, sobre os cd´s, há por aí uma discussão técnica:
Sacd ou dvd-audio?! Apanhei quase todos os dvd-audio que pude arranjar, porque são a lembrança mais fiel do que pode ser o som de um LP.

Harvest de Neil Young, de 1972, ouvido em dvd-audio ou em LP, c´est pareil!

Mas cuidado! Vem aí outro suporte! O dvd vai aprimorar as linhas de apresentação e passar a declinar-se em hd-dvd, por conta da Toshiba ( no site já existe uma preview) e em blu-ray, por conta da Sony!

Esperemos que a gravação dos masters em audio se passe a fazer igualmente com aproveitamento da banda larga dos 196Khz...

M.C.R. disse...

mcr: !!! !!! !!!

josé disse...

E por falar nisso, através de uma consulta rápida a um sítio sobre o misterioso raio azul, fiquei informado que um dos primeiros filmes, com banda sonora a condizer com a frequência de amostragem de 192Khz e a resolução em 24 bits, será precisamente o The Last Waltz!

Aleluia! Só isso, far-me-á talvez, reorientar a minha atenção, através do upgrade necessário para os disquitos minorcas em tom azulado. Será talvez a ocasião propícia para ver e ouvir, como se estivesse "alive", a sonoridade de Neil Young a cantar Helpless, apaparicado pela voz de Joni Mitchell.

Por enquanto, no entanto, fiquei ontem com a pulga no ouvido por causa da Antena 2 ter passado um disco que desconhecia de um músico africano que morreu agora: Ali Farka Touré. Impressionante guitarra acústica! Sonoridade única! A fonte dos blues ali mesmo!
Em cinco minutos fiquei adepto ( para não dizer fã).