Anteontem, ao fim da manhã, atolado no trânsito, entre o Tribunal de Gaia e o centro do Porto, recebi um convite inesperado. Um amigo de longa data, jornalista de televisão, homem com 16 passagens pelos teatros da guerra, decidiu que eu tinha que sair do convento e passar uns dias fora. Onde? No Iraque. Em Bagdad. Pois, eu gostava, pá, mas não posso. Mas que gostava, gostava. E ia. Com todo o gosto.
É claro que este não é o convite mais extasiante para quem vive dias cansados. Mas era uma ida e uma estada que me dariam uma nova relação com o mundo e que me reconciliariam com os mágicos dias do jornalismo. Claro, disse-me, ele, que eu iria passar os dias no hotel. Claro que ele bem sabe que não. Se eu fosse, não tardaria nada a andar com ele e com o repórter de imagem pelas ruas de Bagdad, bomba aqui, bomba ali. E é claro que só isso poderia levar-me a gastar uns dias das minhas férias que há tanto tempo não tenho num cenário de guerra.
Não. Definitivamente não vou. Vou arrepender-me até ao fim dos meus dias. Talvez haja outra vez. Mas agora há outras coisas para fazer. Outras guerras para aguentar. Ainda que, muitas vezes, todas elas me pareçam mais difíceis do que uma semana nas explosões que matam de Bagdad.
08 março 2006
Um carteiro em tempo de guerra
Postado por o sibilo da serpente
Marcadores: carteiro (Coutinho Ribeiro)
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3 comentários:
Como o nosso Carteiro não é "dispensável", é óbvio que nós, incursionistas, não o poderíamos deixar ir assim, simplesmente, para um "teatro" daqueles...olhem, mandem para lá alguns políticos da nossa praça, esses sim dispensáveis...
Ó, Delfim, veja as coisas pelo lado bom. Eu até podia mandar de lá uns engraçados postais de viagem
Isso sabemos nÓs! Mas mais vale jogar pelo seguro...
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