18 abril 2006

Do Homem: Afinal, Hoje como Ontem !



No dia 18 de Abril de 1901 nasceu o matemático, escritor e político Bento de Jesus Caraça.
Opositor ao regime do Estado Novo (opções…) Bento de Jesus Caraça publica, em 1933, um texto retirado de uma conferência por si dada à época, intitulado “A cultura integral do indivíduo – problema central no nosso tempo”.


Curioso que as afirmações ali contidas se mantêm prenhes de actualidade. Não amareleceram com o passar do tempo…

Creio que vale a pena colocá-las aqui para todos reflectirmos nestas supremas verdades:


O que é o homem culto: “É aquele que: 1.º - Tem consciência da sua posição no cosmos e, em particular na sociedade a que pertence. 2.º - Tem consciência da sua personalidade e da dignidade que é inerente à existência como ser humano. 3.º - Faz do aperfeiçoamento do seu interior a preocupação máxima e fim último da vida.”

Ao mesmo tempo alerta para que não se confunda cultura com civilização.

“Porque civilização é a capacidade que uma sociedade tem em pôr à disposição do indivíduo todos os meios para tornar a existência fácil, enquanto cultura é o conceito do que seja a vida e a organização das relações sociais que permitam ao indivíduo viver a sua condição humana".

Por fim chama a atenção: “o desenvolvimento da civilização, só por si, pode conduzir ao automatismo e à consequente escravização do homem, o que nos é mostrado pela civilização capitalista actual; é isso devido, não a um alto mas a um baixo grau de cultura que permite que os meios de progresso sejam utilizados num ambiente de completo abandono dos objectivos superiores da vida.”

Por isso só um reforço intenso da cultura pode abalizar o desenvolvimento da civilização, porque, “o drama presente da civilização ocidental reside precisamente nisto: a uma evolução rápida, de ritmo catastrófico, no plano material, não correspondeu uma evolução convenientemente ajustada no plano espiritual.

Hoje como ontem. A semelhança de atitudes tomadas pelos homens é chocante, e elas atravessam transversalmente os regimes político-constitucionais, independentemente da respectiva “bondade”!

Afinal, o mal não residirá tanto no regime político que rege uma determinada sociedade mas mais na intrínseca imperfeição do Homem.

3 comentários:

M.C.R. disse...

tiro o meu metafórico chapéu a um conservador monárquico e católico que cita e refere Bento de Jesud Caraça.

M.C.R. disse...

Bento Caraça foi também o fundador da maravilhosa "Biblioteca Cosmos" uma espécie de "que sais-je" à portuguesa onde escreveram os melhores espíritos doo seu tempo. ainda hoje se podem ler vários dos seus títulos com utilidade. E com prazer: clássicos gregos, filósofos renascentistas (T Morus) autores cristãos (Padre josé Alves Correia) cientistas etc...
Caraça foi também militante do PCP nos anos terríveis cfr. josé Pacheco Pereira (Cunhal. Uma biografia política).

C.M. disse...

Pois, meu caro amigo: é para que veja. Embora as minhas ideias sejam diametralmente opostas à filosofia defendida pelo PCP, o modo de ver o mundo, a sua criação, o desenvolvimento da História ( Vexa já sabe quem é, para mim, o Senhor da História...) tal não me impede de ver as qualidades do homem; e as suas teses humanistas, plasmadas neste pequeno excerto que aqui trouxe.

Também compreendo a circunstância histórica em que ele viveu: à época, ainda se acreditava nos “amanhãs que cantam” e viu-se bem, posteriormente, o quão falaciosa se revelou tal frase...

Mas creio que o homem tem de ser compreendido sempre no seu contexto histórico. Excluindo, claro está, as suas acções maléficas, que essas não têm desculpa de qualquer espécie.

Não sou, assim, como aqueles que, cheios de intolerância, “batem com a porta” e se vão embora...Com esses, o diálogo é impossível. E foi com esses e através desses que se criaram todos os “gulags”! Mais gravosa se torna essa atitude quando esses desempenham cargos na sociedade em que podem (des)formar carácteres, como é o caso de se ser professor...

Mas desse mal, meu caro amigo, ambos não padecemos.