A minha família anda numa onda de cultivar a saúde. Não espanta. Foram demasiadas mortes em pouco tempo. E, então, a onda agora é deixar de fumar.
O último a abandonar o vício foi o meu irmão, que fumava pouco e faz 50 km de bicicleta por dia. O anterior, foi o meu tio-afim, o Américo, que da última vez que vi, estava ché-ché de todo, ao ponto de trocar os nomes todos dos sobrinhos, eu sei que são muitos, mas não justifica. Claro que ficou assim por ter deixado de fumar...
Claro que, agora, andam de olho em mim. São chatos, chatos. E, como se tal não bastasse, incitam o meu filho a pressionar-me para deixar de fumar, o que me deixa numa posição incómoda. Claro que eu queria deixar de fumar, ó, se queria, mas sei que não é coisa fácil, que eu já tentei uma vez e ao fim do dia toda a gente me pedia para voltar a fumar porque estava insuportável.
Não vejo que seja coisa fácil, essa de eu deixar de fumar. O que é motivo para ficar triste, porque eu sei que fumar faz mal. E é coisa cara, como se sabe.
Pois bem. Uma vez que eu não sou capaz, o Sócrates, rapaz que basta olhar para ver que respira saúde e trata do corpo, decidiu obrigar-me a deixar de fumar. Prepara-se o governo para seguir a moda e proibir o fumo em locais fechados de acesso público. Isto é: adeus cigarros nos cafés, nos restaurantes, nos centros comerciais, nas discotecas e presumo até que no meu escritório. Pois bem: vou transgredir. Pelo menos no meu escritório, continuarei a fumar e as colegas também, se quiserem. Aviso aos clientes: se se sentirem prejudicados no seu fumar passivo, o mercado está cheio de advogados não fumadores. E eu cá hei-de sobreviver no meio do fumo e até que o fumo me leve.
Eu dou aos meus clientes a possibilidade de escolha. Mas, pelo que vejo, o governo de Sócrates não me dá essa possibilidade de escolha. Isto é: não diz que se eu quiser ir a uma discoteca de fumadores, haverá discotecas para suicidas. Ou bares. Ou restaurantes. E que eu posso lá ir suicidar-me tranquilamente, enquanto bebo um scotch e olho para umas raparigas. Bem, isto enquanto é tempo. É que, pelo andamento, não tarda nada que o governo ache que não se pode beber álcool em lugares de acesso público (aviso já que quando saio à noite circulo de táxi ou em carro de abstémios). E mais: talvez até venha a proibir que um tipo vá a um lugar público e olhe para as raparigas, que pode ser coisa de assédio sexual. Aliás, creio que o governo também anda indeciso entre legalizar a prostituição e punir aqueles que, não sendo o meu caso, têm o saudável hábito de ir às putas assumidas.
Já aqui disse: criem discotecas, bares e restaurantes para não fumadores, que eu não vou lá. Como não vou a sítios onde predominam pessoas com outra orientação sexual, para não ter que me queixar. Mas não me obriguem a ficar em casa, não me transformem num excluído porque tenho a infelicidade de ser fumador.
Ah. E já agora espero que o Governo não se lembre de proibir que heterossexuais entrem em lugares fechados abertos ao público...


3 comentários:
Caro Amigo: completamente solidário consigo.
Isto estáa ficar parecido com o Irão, onde existe uma polícia de costumes...
É que eu também gosto de fumar umas cigarrilhas ou umas charutadas, a beber um whisky ou um bom conhaque e a ver a paisagem...um homem não é de ferro!
Meu amigo: a minha vida ameaça transformar-se num vazio por causa destas modernices.
Deixei de fumar há anos. Antes aviava quatro maços dia. Acho que os fumadores podem ter os seus locais de fumo. Ninguém é obrigado a ir lá. O que julgo é que parece haver o medo de, existindo um bar para fumadores, este se encher de não fumadores suicidas. As boas intenções por decreto são de uma insuportável tirania.
Neste ponto Sócrates não deve saber o que dizia o su épónimo. Valha a verdade que o homem é engenheiro...
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