24 abril 2006

O estado a que isto chegou!



Em Abril de 1974, o País estaria farto de um regime forte e autoritário.

Contudo, a sociedade portuguesa estava mais rica e pediria talvez menos Estado e, consequentemente, mais liberdade.

Não obstante, olhando para as estatísticas desse tempo, quem nos dera que o Banco de Portugal agora lavrasse um relatório deste teor:

10% de crescimento económico ao ano;
500.000 accionistas na bolsa;
poder de compra 100% superior ao ano de 1960 quando, infelizmente, começou a guerra que tantos recursos consumiu: humanos e materiais.
Forte investimento estrangeiro;
60% do poder de compra existente na Europa além-pirinéus.

Em Novembro de 75, a sociedade cansou-se de tanta desorganização. Estava mais pobre: 20% de desemprego, com a queda da produção industrial, ruína das empresas, inflação, fuga dos capitais internacionais e êxodo de muita gente empreendedora, que a não há hoje…hoje o que predomina é o capital especulativo, que não o produtivo...Ah! E não esqueçamos a vinda de meio milhão de refugiados da nossa África…

Valeu a pena o golpe?

Também eu me entusiasmei, perante a perspectiva de “grandes liberdades”: Mas, de que serve poder gritar bem alto a nossa discordância, nos dias de hoje, se o Poder faz aquilo que muito bem entende? Faz aquilo que Marcello Caetano nunca faria: o desmantelamento do Estado para entregar os restos às hienas sequiosas do capital mercenário (esta tirada, meus amigos, é digna de um “guerrilheiro” marxista, não concordam?...).


Lembro aqui Salgueiro Maia, do qual aliás tenho uma bela serigrafia. Independentemente da opinião pessoal que se tenha das suas convicções e crenças, foi um puro, e creio que se ele ainda hoje fosse vivo voltaria, uma vez mais, a pegar em armas, atendendo ao "estado a que isto chegou"!

Em tempo: ainda há pouco, ao jantar, visualisei uma entrevista com António Vitorino, feita pela inefável Judite de Sousa, onde aquele afirmou, sem sombra de pudor, que o Estado deveria "externalizar" diversas funções e colocar os funcionários públicos em bolsas de excedentes. Mais razão me assiste...

3 comentários:

o sibilo da serpente disse...

O que é mais extraordinário é que as questões aqui colocadas por Delfim são comuns à esquerda e à direita. tanto quanto tenho lido por aí.

Al Cardoso disse...

Sem duvida que liberdade e democracia sao valores que nunca devemos nunca desprezar, o que e triste foi o que fizeram desses valores.
Quando vemos que cada vez mais se afasta economicamente a classe rica dos pobres e a classe media que tudo paga em vez de aproximar-se da rica cada vez se aproxima mais da pobre, creio que temos ido pelo caminho errado.
Vejamos que a Espanha nao necessitou de nenhuma revolucao e embora com problemas esta muito melhor que nos, saindo de pior.

C.M. disse...

Caro Nicodemus, obrigado pelo seu comentário.

Remeto-o para umas linhas que escrevi, em comentário ao MCR no postal "Cartas a Ribeiro Sanches 1".

Um abraço!