08 maio 2006

Farmácia de serviço nº 21

De revistas frescas e editoras novas

Lá mais para o Outono, faria Senghor, 100 anos, bonita idade, para um político africano, doublé de poeta talentosíssimo e de sage, quando, já idoso, se retirou para a Normandia para inaugurar como dzia, a negritude normanda. Com o passar dos anos a sua figura cresce, esbatem-se as polémicas á volta do seu mandato presidencial, mas o poeta permanece. “Jeune Afrique”, uma já velha (e boa!) revista dedica-lhe um “hors série” ( o nº 11). Força, leitores, força que vale a pena. €6,00, barata feira.

O meu bem amado “Le Monde”, companheiro de toda uma vida (ou da que começou nos anos 60), publicou um “hors série” do suplemento semanal “le monde 2”: “colonies, un débat français", 95 ( e não 100, como os marotos dizem) páginas de boa leitura. Muitas fotografias. Sai a €7,5 e corresponde aos meses de Maio Junho.

O “magazine littéraire” outra revista resistente ao tempo e à preguiça dos leitores, ataca com um especial sobre Camus. Ah, Camus, uma lenda, outra, da minha gente, dos meus amigos, dos que sonharam um mundo diferente!
É o numero 453, de Maio e anda pelos €5,5/6.

Finalmente “Histoire Antique” avança com outro “hors série” (o nº 9) de encher o olhos e esvaziar o bolso (€8,7, por cá): Homero e a sua época; os lugares míticos da Ilíada e da Odisseia, com um port folio sobre a Odisseia de Ulisses.
(para os mais “cá de casa”, maníacos destas coisas, relembra-se um “hors série” da Geo francesa: “la Méditerranée d’ Ulysse”. Tem já dois ou três anos mas continua apaixonante.

Nota que não tendo nada a ver com isto, tem tudo: já perceberam porque não tenho um tostão?

Alvíssaras, alvíssaras: desembarca fresquíssima neste mundo cão, uma nova editora: “o mundo em gavetas” diz-se ela. Pois que seja, desde que não haja gavetas secretas e, muito menos fechadas! Começa logo aos tiros: uma espiã que lisboetou pelo Avenida Palace. Tratavam-se bem aquelas criaturas! O Avenida Palace! Nada a ver com esses hotéis de cinco estrelas merdosas, spa e quartos todos com ar de hospital. Nada disso: um hotel com salões, com estilo. Como a espiã. Como o seu biógrafo, um advogado em tentativa de evasão dos códigos, dos tribunais, dos prazos e de tudo o resto.

E a editora? A criatura que mexe os cordelinhos, que vai à luta, que chateia os tipógrafos, que se enfurece com os autores, uns preguiçosos, com os tradutores, uns traidores, com os jornais, que paga as contas, que apaga luz... Bom da editora nem se fala. Ela aparece cheia de estaleca, a nossa Kami!
Enhorabuena!
Algum leitor mais pernóstico, algum desses “críticos” mais vesguinhos que uma carroça de palha estrumada, algum concorrente menos amável, começará já a chiar por tão descarada propaganda a uma amiga cá de casa. Pois vão morrer longe, ó agoirentos. Estrelinha que vos guie. Abrenúncio!

Estamos em Maio, mês de pecado (para os mais avisados) e de novenas (para quem nós sabemos. Mas estamos a começar as comemorações do 2º aniversário do blogue “incursoes” sem til.

Como no transacto ano ocorreu, vêm aí uns textos que se esperam divertidos, escritos em condições não tão divertidas, jamais publicados, que terão o título provisório de "chateado no calabouço". São das colheitas de 69 e 71. A ver vamos se resistiram ao tempo.

11 comentários:

C.M. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
C.M. disse...

(com gralhas, apaguei o anterior texto...).

Se os textos são os que penso, meus amigos, temos viagem com destino ao sonho...

Uma pequenina amostra, em jeito de pré-publicação (espero não estar a ser inconveniente...):

"(...) Era já o cheiro poderoso das acácias, o Verão coalhado de raparigas, um arquipélago de seios que se escondiam a rir, e esta dor certeira na virilha". Bom...neste mês de Maio, convenhamos...


Vejam (leiam): " É noite e à minha espera está um grande rio sobre o medo"...

Noutro registo:

" Há ainda um Outono perdido entre uma mesa de café e uma rua com árvores velhas por onde se escoavam as palavras necessárias e os gestos".

Sublime!

Ficamos a aguardar
esses textos...

C.M. disse...

Marcelo, querido amigo, faltam-me os dotes de crítico literário. Apenas com o coração me posso exprimir. E, nesse sentido, apenas lhe posso dizer que os seus textos são intemporais. Aliás, não resisti a colocar duas ou três pequenas frases no comentário ao seu último postal

Mas tive um choque quando li o seu texto “de apresentação” intitulado “ Olhando para trás: perplexo”. Ele está-me dirigido, no final…

Creio que dos seus textos repassa uma certa nostalgia do passado, das coisas nele vividas; sente-se o tempo ali retido na memória e, para quem, como eu, muitas vezes se detém no passado, não tanto para o reviver de modo saudosista (que ele dói…) mas para poder (hoje) viver, na compreensão daquilo que foram os dias (mal) vividos e compreender melhor os dias que passam, é sumamente importante lê-lo, pois que o Tempo, “ esse grande escultor” ali está omnipresente, com as suas largas asas a cobrir-nos a todos, impotentes que somos perante ele…

Publique os seus textos, Marcelo, que todos nós aqui, no Incursões, lhe ficamos gratos.

Um Abraço

DLM

(creio que vou publicar estas linhas no Incursões…não é demais, pois não?...)

josé disse...

Dantes, as tertúlias, faziam-se em lugares especiosos, com ou sem fumo, café ou bagaços, mesmo licorosos.
Agora fazem-se em blogs, com uma particularidade, por vezes vantajosa: os temas e leit-motives são definidos por escrito e alargam-se de modo muito mais interessante a temas cuja precisão necessita de escrita.

Ainda agora mesmo passei os olhos pelo Magazine Littéraire e pelo dossier Camus. Hesitei e ficou por lá, mas o Magazine resite de facto ao tempo e ao modo actual com um garbo que o Tempo e o Modo bem poderiam, mas não conseguiram.
O fanatismo ideológico dá nisto. A tolerância e a abertura de espírito dá naquilo.

Mas agora é que vai começar a verdadeira tertúlia sobre os tempos dos sessenta. Esperemos pelas narrativas sulfurosas e pelos filisteus que se avizinham...

M.C.R. disse...

O "tempo e o modo", na origem católicos de esquerda e amih+gos, morreu com um fulminante ataque de eme-erre-pê-pite aguda. Mas também a grande "seara nova" morreu e a "vértice" é apenas uma pálida imagem do que foi. Ea as outras revistas também foram. Não se fale só nem principalmente de fanatismos. Antes fosse esse o mal que já o teríamos vencido. As grandes revistas mensais de cultura e arte foram-se (idem as colóquios da gulbenkian, a brotéria, etc.) Também morreram vários jornais diarios e começando por todos os vespertinos! Todos! E o Seculo, o Comércio do Porto, o Janeiro é um cadáver adiado...
Vê José?
Há um processo de des-leitura em curso. E de substituição . Já não há cineclubes, idem cinemas fora dos centros comerciais, não há teatro comercial. Para onde foram esses públicos? Para onde os cerca de 10.000 leitores mensais das três revistas citadas em 1º lugar?
quem respomnder a estas perguntas encontra provavelmente o remédio milagroso. Nessa altura a farmácia falará dele.

Silvia Chueire disse...

O texto, as informações nele contidas são preciosos, MCR.
E a Kami merece todo o nosso (público) apoio.Todo !

Agora me cabe dizer uma coisa de certa forma interessante. Após um período de reino dos cinemas nos shoppings e desaparecimento dos cinemas de bairros e daqueles que passavam filmes fora do circuito comercial, aqui no Rio e creio que em outras cidades brasileiras, dá-se agora um movimento contrário. Isto é, não exatamente igual. Mas em pequenos shoppings novos cinemas surgem, menos comerciais. Nos Centros de Cultura, idem.
Até algumas locadoras de dvds ( poucas é verdade) se especializam em ter os classicos. Mesmo na Blockbuster, que vcs devem conhecer, uma grande cadeia americana absolutamente comercial encontrei ontem Ladrão de Bicicletas. : )
E Peau d'âne está em cartaz, junto a outros 5 ou 6 filmes importantíssimos mais antigos.
Eu diria, MCR, que quando, como aqui, os empresários descobrirem que isto também é um bom negócio. E forem empresários mas pessoas conscientes das necessidades da cultura, reflorescerão os cinemas, os teatros, as revistas.

Abraços,
Silvia

ps: quando é mesmo o tal jantar comemorativo do aniversário do blog? ; )

C.M. disse...

Quarta-Feira cara Sílvia, dia 17 de Maio, 18H30 e a partir daí...
Será que vem?...Até nos poderia fazer um check-up! ahahahahahah...isto é que somos marotos...

C.M. disse...

Mas agora reparo! MAS QUE ESTOIRO DE FOTO!

AI SÍLVIA, QUE VEXA É MUITO....MUITO...MUITO...SEXY!!!
Ó Marcelo e Coutinho Ribeiro, não acham???!!!

(ai penitência...)

M.C.R. disse...

Meu caro DLM

V. devia andar coberto de cilício, azorragando-se o corpo, recitando pelo menos quatro terços por dia só por penitencia dos seus pensamentos!...
claro que eu já tinha visto a fotografia da Sílvia.
É como os versos dela! nota 11 num máximo de 10. E o Carteiro também já a conhecerá... Olha quem...
E já agora: espreitou o blog da Sílvia & Amigas lá no Rio? Só mulheres, viu? E escrevem bem, as desalmadinhas...

C.M. disse...

Vi pois...só que na altura não consegui abrir o blog...é um mulherio!...

E veja este convite a abrir o blog, numa lateral:

Quem topa um chope ou uma caipira com a gente? :)

O MCR e o DLM, of course!

Silvia Chueire disse...

Se eu pudesse pegava o primeiro avião e ia para conhecê-los todos.Mas, apesar de estar de férias, não posso. :(

Quando à fotografia, Delfim, não exageremos... : )
Os textos dos companheiros de incursões são muito mais importantes que ela.Mas foi pela novidade, eu entendo e agradeço.


Quanto ao blog sobre o Rio, um misto de qualquer coisa. Um blog um tanto anárquico, que tenha impressões pessoais sobre a cidade, divulgue eventos interessantes, discuta questões que cada um considera pertinentes. Coisas sérias e coisas menos sérias. Nenhuma grande escritora, ali, mas pessoas que amam a cidade. Aliás, já há agora um homem.

Abraços a todos,
Silvia