Faço hoje uma pausa num descosido diário político publicado segundo a oportunidade ainda que normalmente os textos tenham todos uma idade avançada.
E faço-o porque, os tempos que correm, exigem uma análise serena mas sem contemplações.
Aliás boa parte do queria dizer foi já dito por alguns dos principais expoentes do PSD, em vésperas de congresso. Se os leitores se recordam, algumas das figuras mais importantes e históricas do principal partido da oposição revêem-se encantadas nas medidas do governo Sócrates.
E o caso não é para menos. Sócrates está a governar tão à direita quanto lhe é possível. Que o Partido Socialista profundo não perceba isto é absolutamente irrelevante. Os actuais dirigentes do partido vão calando as vozes discordantes mediante uma atempada distribuição de benesses à custa do erário público. Nunca como agora se verificou uma aplicação tão extensiva do “spoil system” americano. A direcção do P.S. ocupou o aparelho de Estado e tem vindo a colocar todos os seus apoiantes neste, levando tal ocupação às últimas consequências. Hoje em dia, pode dizer-se sem receio que na Administração Pública central e nos postos desconcentrados desta até os lugares de simples chefe de secção são ocupados por membros do partido, simpatizantes ou por alguém de que é preciso calar a voz. Convém, todavia, fazer notar que esta ocupação se tem feito com cautelas especiais e sem ferir demasiadamente a clientela do outro grande partido, o PSD. Os militantes deste partido estavam também colocados em sectores chave da administração pública. O actual partido do governo optou, neste caso, por apenas “incomodar” os dirigentes de lugares estratégicos deixando o resto à freguesia social democrata pelo menos num primeiro momento. Sairão mais tarde logo que as leis orgânicas dos ministérios estiverem aprovadas. Aliás estas criaturas vão ser (já são) de grande utilidade para a prossecução das medidas actuais. O P.S. não quer assumir sozinho o ónus da política de direita que vem desenvolvendo e, sobretudo, que vai desenvolver.
Tudo isto passa por laminar, os corpos da administração publica, um por um, apelando a medidas de um populismo ultramontano que até ao momento tem anestesiado a opinião pública.
Foi assim com a magistratura judicial, a quem um ministro medíocre que já dera provas da sua insuportável incompetência num dos últimos governos socialistas tem feito engolir todos os sapos possíveis a propósito das férias judicias. O ministro bem sabe que o remendo a que recorreu vai ter consequências imprevisíveis mas desastrosas na tramitação dos processos. Sabe também que a medida de redução das férias judiciais não trará qualquer benefício aos cidadãos e tornará a vida dos advogados bem mais difícil. E que quando se fizerem as contas o mais provável será a verificação de atrasos acumulados na primeira instância. Mas isso de pouco o importa tanto mais que enquanto se discutem as férias judiciais, o ministério vai fazendo sair legislação avulsa de medíocre qualidade que passa incólume sem critica visível. E quando esta porventura se manifestar, já há uma pronta resposta: são os magistrados quem está a entorpecer as reformas urgentes e inadiáveis, cegos pelos privilégios que correm o risco de perder.
O sistema nacional de saúde começa a ser séria e perigosamente atacado não porque se fecham quatro ou dez maternidades, ou se permite a liberalização das farmácias. O grave é a reestruturação dos hospitais, o desastroso naufrágio dos centros de saúde onde não há médicos de família para uma enorme percentagem de pessoas, embora os cidadãos sejam obrigados a inscrever-se nos centros.
A classe dos professores começou já a ser atacada sempre em nome de princípios virtuosos, quais sejam a protecção dos alunos durante os tempos lectivos, mediante a mesquinha e estúpida regra das aulas de substituição que no dizer unânime de professores e alunos é apenas para inglês ver. Mas o público aplaude o ataque à preguiça dos professores.
Agora agitam a hipótese de pôr as associações de pais a classificar os professores. Se a moda pega, os presos condenados ainda classificarão os guardas prisionais... E os doentes (mesmo os mortos) os médicos assistentes. Sorte terão os médicos legistas dado que uma boa parte dos seus clientes já estão do outro lado e ainda se não descobriu uma mesa pé de galo convincente para inquirir as alminhas a caminho do purgatório.
O actual governo consegue mesmo pôr os portugueses a discutir as excelências do novo aeroporto da Ota, ou o comboio de alta velocidade. Relembre-se que esta alta velocidade é suposta ocorrer entre Lisboa e Porto ou seja num percurso de 300 quilómetros com duas paragens pelo meio. Não deverei andar longe da verdade se futurar que este investimento brutal que vai onerar as novas gerações, não retirará sequer meia hora ao tempo do actual percurso.
O que se afigura mais interessante nesta estratégia do salame que tanto resultado teve na ocupação soviética dos países de leste, ou seja a técnica de passo a passo ir ocupando sem especial alarido os postos do poder e ao mesmo tempo ir reduzindo de mil e uma maneiras a oposição ao silêncio, ao medo e depois à sua destruição pura e simples.
E parece ser essa, de facto a estratégia do actual governo: vão por enquanto lançando pequenas bombas à espera de reacção. Do andar da discussão tirarão as necessárias consequências quanto à rapidez da sua actuação.
Em bom português isto vai ser assim: a cada medida proposta corresponderá uma reacção que com o passar do tempo se atenuará pelo aparecimento de novas propostas igualmente susceptíveis de causar espanto e indignação. O governo Sócrates inaugurou um novo método de auscultação democrática da população e tomada de medidas políticas pelo cansaço dos eleitores.
Suponho que estarão convencidos que se cortarem os pés à direita pelo artificio de serem eles mesmos a tomar as medidas que a oposição poderia ser tentada a propor. Conviria lembrar a estes desastrados aprendizes de feiticeiro a derrota de Schröder na Alemanha e o destino igualmente previsível de Blair. As políticas de direita só são bem executadas pela direita. A verdadeira, a boa, e nunca por uma compósita equipa de mediocridades colhidas aqui e ali nas fileiras do P.S. Que ainda por cima parece sofrer, a par de incontinência verbal e propositiva, de incompetência generalizada.
E faço-o porque, os tempos que correm, exigem uma análise serena mas sem contemplações.
Aliás boa parte do queria dizer foi já dito por alguns dos principais expoentes do PSD, em vésperas de congresso. Se os leitores se recordam, algumas das figuras mais importantes e históricas do principal partido da oposição revêem-se encantadas nas medidas do governo Sócrates.
E o caso não é para menos. Sócrates está a governar tão à direita quanto lhe é possível. Que o Partido Socialista profundo não perceba isto é absolutamente irrelevante. Os actuais dirigentes do partido vão calando as vozes discordantes mediante uma atempada distribuição de benesses à custa do erário público. Nunca como agora se verificou uma aplicação tão extensiva do “spoil system” americano. A direcção do P.S. ocupou o aparelho de Estado e tem vindo a colocar todos os seus apoiantes neste, levando tal ocupação às últimas consequências. Hoje em dia, pode dizer-se sem receio que na Administração Pública central e nos postos desconcentrados desta até os lugares de simples chefe de secção são ocupados por membros do partido, simpatizantes ou por alguém de que é preciso calar a voz. Convém, todavia, fazer notar que esta ocupação se tem feito com cautelas especiais e sem ferir demasiadamente a clientela do outro grande partido, o PSD. Os militantes deste partido estavam também colocados em sectores chave da administração pública. O actual partido do governo optou, neste caso, por apenas “incomodar” os dirigentes de lugares estratégicos deixando o resto à freguesia social democrata pelo menos num primeiro momento. Sairão mais tarde logo que as leis orgânicas dos ministérios estiverem aprovadas. Aliás estas criaturas vão ser (já são) de grande utilidade para a prossecução das medidas actuais. O P.S. não quer assumir sozinho o ónus da política de direita que vem desenvolvendo e, sobretudo, que vai desenvolver.
Tudo isto passa por laminar, os corpos da administração publica, um por um, apelando a medidas de um populismo ultramontano que até ao momento tem anestesiado a opinião pública.
Foi assim com a magistratura judicial, a quem um ministro medíocre que já dera provas da sua insuportável incompetência num dos últimos governos socialistas tem feito engolir todos os sapos possíveis a propósito das férias judicias. O ministro bem sabe que o remendo a que recorreu vai ter consequências imprevisíveis mas desastrosas na tramitação dos processos. Sabe também que a medida de redução das férias judiciais não trará qualquer benefício aos cidadãos e tornará a vida dos advogados bem mais difícil. E que quando se fizerem as contas o mais provável será a verificação de atrasos acumulados na primeira instância. Mas isso de pouco o importa tanto mais que enquanto se discutem as férias judiciais, o ministério vai fazendo sair legislação avulsa de medíocre qualidade que passa incólume sem critica visível. E quando esta porventura se manifestar, já há uma pronta resposta: são os magistrados quem está a entorpecer as reformas urgentes e inadiáveis, cegos pelos privilégios que correm o risco de perder.
O sistema nacional de saúde começa a ser séria e perigosamente atacado não porque se fecham quatro ou dez maternidades, ou se permite a liberalização das farmácias. O grave é a reestruturação dos hospitais, o desastroso naufrágio dos centros de saúde onde não há médicos de família para uma enorme percentagem de pessoas, embora os cidadãos sejam obrigados a inscrever-se nos centros.
A classe dos professores começou já a ser atacada sempre em nome de princípios virtuosos, quais sejam a protecção dos alunos durante os tempos lectivos, mediante a mesquinha e estúpida regra das aulas de substituição que no dizer unânime de professores e alunos é apenas para inglês ver. Mas o público aplaude o ataque à preguiça dos professores.
Agora agitam a hipótese de pôr as associações de pais a classificar os professores. Se a moda pega, os presos condenados ainda classificarão os guardas prisionais... E os doentes (mesmo os mortos) os médicos assistentes. Sorte terão os médicos legistas dado que uma boa parte dos seus clientes já estão do outro lado e ainda se não descobriu uma mesa pé de galo convincente para inquirir as alminhas a caminho do purgatório.
O actual governo consegue mesmo pôr os portugueses a discutir as excelências do novo aeroporto da Ota, ou o comboio de alta velocidade. Relembre-se que esta alta velocidade é suposta ocorrer entre Lisboa e Porto ou seja num percurso de 300 quilómetros com duas paragens pelo meio. Não deverei andar longe da verdade se futurar que este investimento brutal que vai onerar as novas gerações, não retirará sequer meia hora ao tempo do actual percurso.
O que se afigura mais interessante nesta estratégia do salame que tanto resultado teve na ocupação soviética dos países de leste, ou seja a técnica de passo a passo ir ocupando sem especial alarido os postos do poder e ao mesmo tempo ir reduzindo de mil e uma maneiras a oposição ao silêncio, ao medo e depois à sua destruição pura e simples.
E parece ser essa, de facto a estratégia do actual governo: vão por enquanto lançando pequenas bombas à espera de reacção. Do andar da discussão tirarão as necessárias consequências quanto à rapidez da sua actuação.
Em bom português isto vai ser assim: a cada medida proposta corresponderá uma reacção que com o passar do tempo se atenuará pelo aparecimento de novas propostas igualmente susceptíveis de causar espanto e indignação. O governo Sócrates inaugurou um novo método de auscultação democrática da população e tomada de medidas políticas pelo cansaço dos eleitores.
Suponho que estarão convencidos que se cortarem os pés à direita pelo artificio de serem eles mesmos a tomar as medidas que a oposição poderia ser tentada a propor. Conviria lembrar a estes desastrados aprendizes de feiticeiro a derrota de Schröder na Alemanha e o destino igualmente previsível de Blair. As políticas de direita só são bem executadas pela direita. A verdadeira, a boa, e nunca por uma compósita equipa de mediocridades colhidas aqui e ali nas fileiras do P.S. Que ainda por cima parece sofrer, a par de incontinência verbal e propositiva, de incompetência generalizada.
2 comentários:
Meu caro amigo, votei no PS e ajudei a eleger esta maioria que nos governa. Bem. À direita? À esquerda?
Para mim, o saldo é francamente positivo. Não era o país (quase) inteiro que defendia uma maioria para governar e implementar as medidas necessárias?
Quanto à ocupação do aparelho de estado, enfim, é lamentável mas infelizmente habitual.
também votei PS. Mas se é para governar assim , francamente...
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